Há poucas semanas completei 36 anos em meio a um período conturbado de obras na nova moradia em um novo estado e cidade, construindo nova rede de relacionamentos pessoais e alguns profissionais.
Gosto bastante do raciocínio inverso, um tanto já exposto em alguns blogs da finasfera e canais de filosofia, à pergunta “quantos anos você tem?”: não tenho 36 anos, tenho uns 50 pela frente.
À medida que a vida me impõe convivência próxima com (cada vez mais) idosos na família, reflito o quanto a qualidade de vida é mais importante que o mero tempo cronológico. Assim, cheguei a uma breve conclusão que possivelmente terei cerca de mais 40 anos de autonomia plena, isto é, estimei que após 76 anos minhas decisões serão cada vez menos independentes, seja por retardos no raciocínio, possibilidade de doenças e intervenções de membros mais jovens da família.
Por outro lado, refleti que completei 20 anos de escolhas independentes, como irei expor a seguir. Até os 15 anos, creio que minhas únicas escolhas eram o que comer no lanche da tarde – dentre as opções na despensa. Aos 16 anos comecei então a tomar decisões sozinho ou com pouca interferência externa ou, ainda, cuja palavra final seria a minha independente de qualquer coisa.
Tive que, aos 16 anos decidir o curso que eu prestaria vestibular; optar entre uma faculdade pública que não me agradava (a única pública que passei) ou uma faculdade particular próxima de casa (que passei com bolsa de 80% - e que optei por cursar); fiz escolhas de pequenas viagens com amigos (as primeiras sem presença de adultos); tive de escolher de quem me aproximaria no grande novo círculo de colegas na faculdade (que iniciei ainda com 16 anos); escolhi (com a oportunidade surgida, lógico) meu primeiro trabalho de carteira assinada, como auxiliar de vendas numa loja de roupas masculina.
Aos 17 anos optei por fazer um novo vestibular e ingressar numa segunda faculdade, paralela à primeira, e novamente fazer escolhas de relacionamento, além da rotina mais intensa de estudos pela manhã e à noite. Optei também por deixar de trabalhar de carteira assinada para fazer estágio.
Com 18 anos, escolhi não seguir carreira militar (tive a opção de CPOR - Exército); trocar de estágio para uma empresa de grande porte; namorar uma menina que morava próximo, mesmo que a chama não ardesse tão forte por ela; escolhi entrar numa banda de rock e sonhar em viver de música.
Dos 19 aos 24 fiz escolhas importantes como: sair da segunda faculdade que entrei para trabalhar como CLT na minha primeira opção de carreira; sair da empresa que me deu grande oportunidade para me arriscar em um mercado sem carteira assinada e imprevisibilidade salarial; terminar meu primeiro namoro “sério” e iniciar um segundo com uma então colega de trabalho; fazer minhas primeiras viagens de casal; decidir o que fazer com um diploma universitário na mão.
Aos 25 anos optei por renunciar a confortos rotineiros e financeiros para sair da casa da mamãe e dar um largo passo à independência; escolhi a compra de um micro imóvel ao invés de alugar um mais espaçoso, o que me levou à direção do melhor – e único rentável na maior parte das vezes em minha trajetória – tipo de investimento que fiz e ainda faço na vida; escolhi terminar um relacionamento com uma pessoa querida por conta de ciúmes, bem como iniciar um relacionamento de longa distância que duraria alguns anos e renderia experiências interessantes.
Enfim, dos 26 em diante consolidei o entendimento que valeria a pena investir na minha própria empresa e desistir de vez de procurar um emprego; decidi fazer um spin off de uma atividade que fazia dentro da empresa para formalizar uma nova; optei por nunca crescer a estrutura das empresas para, apesar de ganhar menos, ter menos riscos na área empresarial; decidi mudar de imóvel consecutivas vezes fazendo da mudança de lar um verdadeiro investimento (e transtorno, muitas vezes); decidi terminar um relacionamento que estava à beira de um “ou casa ou racha”; optei por iniciar o caso amoroso de minha vida e casar com minha querida esposa; decidi mudar de cidade para longe de amigos e parentes; decidi ter filho; virar FIRE; desvirar FIRE no conceito que eu pretendia inicialmente (assumindo um trabalho a tempo parcial, em vez de virar um completo vagabundo); ser nômade; fixar residência em um novo estado; fazer várias viagens neste ínterim…. Ufa! Muitas decisões tomadas.
Antes que a polícia da misoginia apareça, quando escrevo “decidi terminar/começar/ casar com alguém” não é porque era só eu escolher e a mulher estava na prateleira aguardando, mas sim porque quando um não quer, dois não se unem.
Pensando nos 20 anos de escolhas que tive e nos possíveis 40 que estão por vir, fico feliz que tenha se passado apenas 1/3 da vida “independente” e ainda mais feliz que, para os 2/3 seguintes, terei liberdade de tempo, financeira e, por que não, geográfica para tomar decisões na vida.
Há quanto tempo você faz escolhas independentes? Quanto tempo acha que lhe resta?
Abraço