sexta-feira, 24 de junho de 2022

20 anos de escolhas

 


Há poucas semanas completei 36 anos em meio a um período conturbado de obras na nova moradia em um novo estado e cidade, construindo nova rede de relacionamentos pessoais e alguns profissionais.


Gosto bastante do raciocínio inverso, um tanto já exposto em alguns blogs da finasfera e canais de filosofia, à pergunta “quantos anos você tem?”: não tenho 36 anos, tenho uns 50 pela frente.


À medida que a vida me impõe convivência próxima com (cada vez mais) idosos na família, reflito o quanto a qualidade de vida é mais importante que o mero tempo cronológico. Assim, cheguei a uma breve conclusão que possivelmente terei cerca de mais 40 anos de autonomia plena, isto é, estimei que após 76 anos minhas decisões serão cada vez menos independentes, seja por retardos no raciocínio, possibilidade de doenças e intervenções de membros mais jovens da família.


Por outro lado, refleti que completei 20 anos de escolhas independentes, como irei expor a seguir. Até os 15 anos, creio que minhas únicas escolhas eram o que comer no lanche da tarde – dentre as opções na despensa. Aos 16 anos comecei então a tomar decisões sozinho ou com pouca interferência externa ou, ainda, cuja palavra final seria a minha independente de qualquer coisa.


Tive que, aos 16 anos decidir o curso que eu prestaria vestibular; optar entre uma faculdade pública que não me agradava (a única pública que passei) ou uma faculdade particular próxima de casa (que passei com bolsa de 80% - e que optei por cursar); fiz escolhas de pequenas viagens com amigos (as primeiras sem presença de adultos); tive de escolher de quem me aproximaria no grande novo círculo de colegas na faculdade (que iniciei ainda com 16 anos); escolhi (com a oportunidade surgida, lógico) meu primeiro trabalho de carteira assinada, como auxiliar de vendas numa loja de roupas masculina.


Aos 17 anos optei por fazer um novo vestibular e ingressar numa segunda faculdade, paralela à primeira, e novamente fazer escolhas de relacionamento, além da rotina mais intensa de estudos pela manhã e à noite. Optei também por deixar de trabalhar de carteira assinada para fazer estágio.


Com 18 anos, escolhi não seguir carreira militar (tive a opção de CPOR - Exército); trocar de estágio para uma empresa de grande porte; namorar uma menina que morava próximo, mesmo que a chama não ardesse tão forte por ela; escolhi entrar numa banda de rock e sonhar em viver de música.


Dos 19 aos 24 fiz escolhas importantes como: sair da segunda faculdade que entrei para trabalhar como CLT na minha primeira opção de carreira; sair da empresa que me deu grande oportunidade para me arriscar em um mercado sem carteira assinada e imprevisibilidade salarial; terminar meu primeiro namoro “sério” e iniciar um segundo com uma então colega de trabalho; fazer minhas primeiras viagens de casal; decidir o que fazer com um diploma universitário na mão.


Aos 25 anos optei por renunciar a confortos rotineiros e financeiros para sair da casa da mamãe e dar um largo passo à independência; escolhi a compra de um micro imóvel ao invés de alugar um mais espaçoso, o que me levou à direção do melhor – e único rentável na maior parte das vezes em minha trajetória – tipo de investimento que fiz e ainda faço na vida; escolhi terminar um relacionamento com uma pessoa querida por conta de ciúmes, bem como iniciar um relacionamento de longa distância que duraria alguns anos e renderia experiências interessantes.


Enfim, dos 26 em diante consolidei o entendimento que valeria a pena investir na minha própria empresa e desistir de vez de procurar um emprego; decidi fazer um spin off de uma atividade que fazia dentro da empresa para formalizar uma nova; optei por nunca crescer a estrutura das empresas para, apesar de ganhar menos, ter menos riscos na área empresarial; decidi mudar de imóvel consecutivas vezes fazendo da mudança de lar um verdadeiro investimento (e transtorno, muitas vezes); decidi terminar um relacionamento que estava à beira de um “ou casa ou racha”; optei por iniciar o caso amoroso de minha vida e casar com minha querida esposa; decidi mudar de cidade para longe de amigos e parentes; decidi ter filho; virar FIRE; desvirar FIRE no conceito que eu pretendia inicialmente (assumindo um trabalho a tempo parcial, em vez de virar um completo vagabundo); ser nômade; fixar residência em um novo estado; fazer várias viagens neste ínterim…. Ufa! Muitas decisões tomadas.


Antes que a polícia da misoginia apareça, quando escrevo “decidi terminar/começar/ casar com alguém” não é porque era só eu escolher e a mulher estava na prateleira aguardando, mas sim porque quando um não quer, dois não se unem.


Pensando nos 20 anos de escolhas que tive e nos possíveis 40 que estão por vir, fico feliz que tenha se passado apenas 1/3 da vida “independente” e ainda mais feliz que, para os 2/3 seguintes, terei liberdade de tempo, financeira e, por que não, geográfica para tomar decisões na vida.


Há quanto tempo você faz escolhas independentes? Quanto tempo acha que lhe resta?


Abraço

sábado, 30 de abril de 2022

Não foque em investir


 

Ouvindo o excelente podcast Afford Anything, da Paula Pant, o entrevistado Nick Maggiulli (https://ofdollarsanddata.com/) revelou um insight que resume muito bem uma de minhas conclusões após 17 anos como investidor (resumido em tradução livre):


“Se seus investimentos rendem menos do que sua capacidade de poupança, foque em seu trabalho; se rendem mais, foque em seus investimentos.”


Exemplo1: você ganha 10k/mês e consegue poupar 30% = 36k/ano de poupança. Seus investimentos totalizam 500k e rendem 10% a.a. = 50k/ano. Ótimo, você atingiu o ponto em que sua atenção aos investimentos deve ser maior.


Exemplo2: você ganha 10k/mês e consegue poupar 20% = 24k/ano de poupança. Seus investimentos totalizam 200k e rendem 10% a.a. = 20k/ano. O seu trabalho e esforço de poupança ainda superam o rendimento que seus investimentos conseguem gerar. Foque em produzir mais trabalho e riqueza através de atividades.


Parece uma coisa boba, mas não é. Há um tempo tive uma conversa longa, de alguns dias, com uma colega que estava iniciando nos investimento. Ela fez planilhas e simulações sobre alguns títulos de RF em diferentes instituições, comparando taxas, etc. Trocamos algumas ideias, dei umas breves sugestões para, ao final de tudo, ela dizer que estava investindo… 2 mil reais. Era tudo que ela tinha guardado. Longe de desmerecer o esforço de poupança dela, a energia que ela empregou buscando a melhor rentabilidade para o dinheiro guardado seria facilmente superado se ela tivesse empregado o tempo em renda ativa adicional (ela ganhava 3k/mês), até mesmo da forma mais óbvia possível (fazendo hora extra no trabalho). Se ela tivesse aplicado a 90% do CDI ao invés de 100% do CDI a diferença nominal seria inexpressiva e em meia hora extra de trabalho ela já teria compensado isso.


Eu (e provavelmente você) já “perdi” MUITO tempo buscando rentabilizar ao máximo meus investimentos, lendo livros, blogs, vendo vídeos, fazendo simulações. Operei daytrade, swing, opções, dolfut, short, marcação a mercado, etc, etc. Pensando bem, melhor tirar as aspas de “perdi”. Eu perdi mesmo. Perdi tempo e dinheiro. E não é daqueles casos que a gente “tem de errar pra aprender”. Eu cometi o mesmo erro várias vezes, às vezes só mudava a roupa do erro, só que a base e a lógica eram as mesmas. Tivesse deixado todo o dinheiro na poupança e focado no trabalho, invariavelmente meu patrimônio hoje seria maior.


Conclusão: não estou estimulando que você seja leigo em investimentos. Educação financeira é fundamental. Estou sugerindo que você dê menos atenção aos investimentos enquanto não tiver um patrimônio E uma rentabilidade GARANTIDA maior que seu trabalho e capacidade de poupança. A chance de você fazer cagada tentando “investir melhor” será maior do que a inação.


Abraço

segunda-feira, 18 de abril de 2022

O Retorno

Olá, querido leitor! Após 4 meses sem postar, estou de voltar.


No meu último post, estava na península de Maraú, litoral da Bahia, aproveitando os últimos momentos da vida nômade e bastante desejoso de interromper a viagem. É engraçado como vamos mudando nossas ideias ao longo de nossas experiências. Foram 14 meses de vida nômade, quando o plano inicial era de pelo menos 24 meses na estrada. Experiências incríveis foram vivenciadas, novos lugares e pessoas – algumas que vamos carregar a amizade – transformaram quem sou e quem pretendo ser.


Recomendo MUITO que todos tirem um período desbravando o mundo, mesmo que o mundo seja seu próprio Estado, sem data certa para voltar ou parar; é um modo de viver absolutamente paralelo da realidade do resto de nossas vidas. Além disso, descobrimos que, ao menos numa viagem em família, para nós um tempo estimado de 3 meses ininterruptos é o bastante para que a balança pese 99% do tempo do lado da alegria.


Falando de investimentos, o esforço contínuo é de olhar e me inteirar cada vez menos sobre o assunto, especialmente evitar venda de ativos. Os aportes dos últimos meses foram 100% em renda fixa e remessa ao exterior, aproveitando a queda do dólar. Agora só rompendo a barreira dos R$ 4,50 para pensar em novas remessas em 2022, o resto, é deixar o tempo fazer seu trabalho.

Estou também reduzindo o número de FIIs que possuo em carteira, limando fundos com alavancagem acima de 10% e gestoras com histórico que me desagradam.


Ainda em investimentos, reforço a importância de imóveis físicos numa carteira bem balanceada. Apesar de serem poucos e de baixo valor, tanto de venda quanto de aluguel, os imóveis que possuo com a finalidade de renda deram pouco trabalho nos últimos anos e, em que pese a passagem de todo o período da pandemia, a vacância foi mínima, o yield on cost fica cada vez melhor (sobre o valor de mercado para eventual venda) e a segurança do ativo não tem como ser maior.

Como nem tudo são flores, (não) gosto de lembrar da existência de um baita elefante branco adquirido em 2019 com vacância 100% e custo de manutenção alto; uma aposta que parecia sólida e não se concretizou. Um erro de aquisição que custou caro e a torneira não para de pingar pra fora, infelizmente.


Quanto ao trabalho, é muito curiosa a guinada de pensamento e atitude. Num post de 2019, que apaguei por razões particulares, escrevi o plano de cessar as atividades por completo e o quanto isso seria necessário para uma “vida livre”. Hoje vejo que possivelmente esse plano teria sido um erro na prática, por algumas razões, que faço questão de enumerar para causar alguma reflexão ao leitor:


1) A felicidade de ter escolhido o caminho do empreendedorismo me permite, na maior parte das vezes, dosar e quantificar o trabalho. É simplesmente impagável a liberdade de pensamento e financeira para negar clientes desagradáveis ou serviços com mau custo x benefício. É um constante aprendizado dizer “não” às pessoas e ao dinheirinho acenando na mão delas, mas a paz que isso traz não é quantificável.


2) O dinheiro da renda ativa me trouxe muito conforto nesses 2 anos de pandemia (sim, no particular estou dando a pandemia encerrado com 2 anos de existência) e eventos malucos no mercado financeiro.


3) Limitei horas e local de trabalho. Só trabalho se ligar o computador; só ligo o computador se for trabalhar; só trabalho em horário comercial; não passo de 6h por dia em nenhum dia. Há vários dias que faço todo o necessário em 1h e, após, só lido com trabalho respondendo alguns whatsapps. Dificilmente passo de 25h semanais de trabalho e, quando acontece, não fico nada incomodado.


4) Não ter empregados nem chefes. Por escolhas pretéritas de não inflar minha estrutura, hoje consigo executar meus trabalhos todos através de parcerias sem hierarquias e sem estabelecimento físico. O avanço da mentalidade de home office, da tecnologia de mensagens (whatsapp especialmente) e da aversão criada por muitos no encontro presencial (e até mesmo aversão à ligações!) tornaram meu trabalho mais ágil, prático e menos preocupante. Isso tudo também possibilitou que parceiros de negócios pudessem, independentemente da localização geográfica, colaborar em trabalhos que não quero fazer, mas também não quero deixar o cliente desamparado.


Por fim, a saúde física e mental estão em plena ascensão. Uma moradia fixa proporciona rotina, que facilita a disciplina e maximiza resultados. Com a filhota na escola, o desenvolvimento dela em todos os aspectos aumentou um bocado, além de liberar os adultos da casa por um turno inteiro para realizarem suas atividades sem interrupção ou apenas descansarem. A alimentação passou a ser mais regrada, a volta à academia após 4 anos não poderia ser mais agradável e ter tempo para leitura, ver um filme ou dar uma volta na pracinha num dia útil à tarde possui um valor que não dá pra explicar.


Ah, o Boteco Fire vai voltar cedo ou tarde!


Abraços