domingo, 19 de dezembro de 2021

Hoje está bom pra caçar tatu


No mundo dos investimentos, o momento é de paciência. Valor nominal de patrimônio menor que o início do ano (vide IFIX e IBOV) e não há muito a fazer a não ser aportar um pouco quando dá e melhorar o preço médio em tudo, nunca deixando de aproveitar pra reforçar a renda fixa diante dos juros cada vez mais atrativos.


No mundo sem cotações piscando, a constante descoberta de novas realidades dentro do próprio Brasil traz reflexões profundas.


Após estadias em Aurora do Tocantis/TO e Santo Inácio, distrito de Gentio do Ouro/BA, reforcei o pensamento de quão privilegiado eu sou (e provavelmente você também). Respectivamente, os locais de 3 mil e 250 (duzentos e cinquenta mesmo) habitantes.


Em Aurora há uma deficiência imensa de estrutura, mas o povo é feliz. Tive a oportunidade de conversar várias tardes e noites com os moradores (viva o botequim) e, ao falar sobre a falta de coisas que há nos mini-mercadinhos da cidade, fiquei intrigado com a unanimidade dos presentes que jamais provaram alimentos como pera, berinjela, abobrinha, fruta do conde, couve, dentre muitas outras. Nada disso tem nos mercados da região. Nem preciso falar sobre cervejas artesanais, vinhos finos, chocolates premium, itens importados, etc. Não há com frequência alface e outros itens que considero básicos; as poucas verduras e legumes que chegam ao local são semelhantes ao que o CEASA costuma descartar, lamentavelmente.

No meio do papo regado a cerveja não-artesanal em copo americano, o dono do bar olha a lua cheia no seu, avalia a temperatura amena e manda:

- Hoje está bom pra caçar tatu.


Dei um sorriso amarelo, sem saber se era uma gíria, uma piada ou uma constatação. Perguntei se era tatu mesmo, o bicho, e ele disse que sim. Tatu era uma delícia, rende uns 2 a 4kg de carne a depender do porte do bicho. Passou a me explicar os pormenores das espécies de tatu e técnicas de caça, até a melhor forma de cozinhar.


Longe de estimular a caça de animais silvestres, fiquei fascinado com a narrativa do tatu e outros ensinamentos como, por exemplo, trancar as galinhas por 15 dias antes de matar pra comer para “limpar” o sistema dela, dando só ração. As galinhas, criadas soltas pelo terreno que o boteco fazia parte, comiam escorpiões, baratas e todo tipo de coisas que não imaginamos, e quando eram mortas e cozidas sem “limpar”, o gosto não ficava tão bom (por que será?!).


Interessante também fora um morador de Santo Inácio explicando a caça e preparo de um mocó, que também pode ser encontrado à venda (informalmente, claro) por R$ 10,00. Vi alguns deles durante caminhadas e jamais imaginei que fossem consumidos. Um mocó pra você ver:

 


Em um universo que você (provavelmente) e eu vivemos, de inúmeras opções de marcas, sabores e qualidades para cada alimento, variedades, produtos sem glúten/lactose/BPA/aditivos/corantes/conservantes/gordura trans/etc, presenciar uma vida de décadas à beira da escassez, comendo o pouco que se tem no mercado e o que se caça no entorno renovou, mais uma vez, o sentimento de extremo privilégio que temos sem nos dar conta, muitas vezes reclamando de coisas tão pequenas.


Da próxima vez que você estiver sonhando com uma cobertura com vista pro mar para ser feliz, tente se lembrar que haveria alguém muito satisfeito por ter um tatu à mesa.


Abraço

26 comentários:

  1. Ih AC tem muita gente pelo interior do Brasil que não caça esses animais por necessidade não. É porque gostam mesmo.
    Outro ponto: Você vai pegar mercadinhos de cidades de menos de 4K/hab como refências de sortimento de produtos?
    Se fosses cidades em regiões mais ricas ou mais próximas a cidades maiores ok. Mas em regiões como essa que você visitou vai ser assim mesmo.
    Com todo o respeito, você é que está por fora da realidade de muitos locais. E olha que as coisas de forma geral já melhoraram, porque até a década de 90, muitos desses locais não eram servidos por rodovias asfaltadas ou não tinham telefone etc.

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    1. Outro Ponto: Mesmo nesses locais, há certamente moradores que moraram em cidades maiores ou que tem parentes em cidades maiores.
      Ou seja, tem pessoas que todas as referências de vida em grandes cidades, hoje a internet tá aí bem popular, tv todo mundo tem, enfim, a distância dos moradores desses locais a informação já não é tão abissal quanto você pensa.
      Inclusive se você achou tudo esquisito e demonstrou isso com clareza é capaz que esses moradores é que te acharam esquisitão.

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    2. Anon, é exatamente isso: eu e provavelmente boa parte dos leitores do blog estamos pro fora das condições reais de vida em cidades como as que descrevi.
      Não falei que sejam alienados quanto ao que existe na cidade grande, pois sempre há, por mais longe que seja, uma cidade de porte maior para que consigam adquirir bens com maior diversidade. Com a Internet e um smartphone todo mundo tem uma ideia mínima do mundão que existe por aí, ninguém é mais matuto.
      O ponto do post é a falta de possibilidade. As pessoais que conversei não tem dinheiro nem do ônibus ou combustível pra ir à tal cidade próxima com frequência e comprar o "diferente". É gente que acha caro um aluguel de R$ 300 numa casa de 2 quartos. Gente que vive de auxílio do governo e afins.
      A distância ainda é gigante sim, não em conhecimento, mas em oportunidades - de trabalho, de lazer, de consumo e de ensino.
      Abraço

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    3. Com relação a diferença em possibilidade de vida, trabalho, estudo etc, não resta dúvidas é muito grande em relação a alguém de classe média que mora em cidade ou zona rural estruturada. Nesse ponto você está certo.
      E como você disse muitos desses vivem total ou parcialmente sustentados por auxílios governamentais.
      Mas nem todos querem algo muito melhor que isso aí não. Esse ponto deve ser levado em consideração.
      Tem muita gente pobre plenamente adaptada a sua realidade e que não tem nenhuma ideia do que e como fazer para melhorar e também não vontade de melhorar.
      Isso ocorre inclusive com pessoas que moram em locais com mais possibilidades.
      As vezes a pessoa até pode arrumar os bicos para ganhar um dinheiro a mais, mas quem disse que o cara quer?
      Pra muitas pessoas tendo o que comer e um local para se abrigar já tá de bom tamanho e uma cachacinha é um plus.

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  2. Boa noite AC! É legal mesmo ver que moramos em um País que na verdade são vários Países em um... Experiência incrível essa que você teve!
    Grande abraço!

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    1. Fala VVI, é interessante demais, realmente é uma alienação que temos sem sabermos. Abraço

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  3. Olá AC, faz muito tempo que não posto nada, mas sempre continuei acompanhando a blogosfesta, e hoje fiz questão de fazer login para comentar aqui, pois o que foi surpresa para você é a minha realidade.
    Eu nasci e cresci em um distrito parecido com esse que você visitou.
    O que morei tem cerca de 400 habitantes e fica em outro estado do nordeste, mas a estrutura é parecida.
    Não pega sinal de celular, mas praticamente todas as casas possuem wi-fi.
    Nos mercadinhos (são 3) existem pouca (ou quase nenhuma) variedade. Cervejas artesanais, vinhos finos, chocolates premium, itens importados, nada disso se encontra por lá.
    Mas o engraçado é que não faz falta nenhuma pra gente.
    Aliás, em 2019 viajei ao Chile e fui na vinícola Concha Y Toro, provei alguns vinhos e odiei todos.
    Mas é só aparecer um Galiotto ou Quinta do Morgado que não custam nem R$ 20 que eu e meus amigos do distrito bebemos num instante.
    A única opção de lazer que existe lá é um espetinho.
    Teatro, cinema, jogos de futebol em estádio? Nada disso. A não ser que a pessoa queira viajar 250 km (só a ida) para ir em algum desses lugares. Mas também nada disso faz falta pra gente.
    É aquela coisa: como sentir falta de algo que nunca existiu?
    E o engraçado é que quando alguém vai a alguma cidade grande, que tenha todos esses serviços, quer logo voltar pro distrito. Eu de vez em quando tenho que ir para a capital do estado a trabalho. E odeio. 40 minutos pra se deslocar poucos km, violência. O cara vai a algum restaurante, barzinho. Tudo é caro.
    No distrito vou no espetinho. Como, bebo à vontade. Gasto R$ 30. Podemos dormir com a porta da casa aberta que ninguém entra. Deixar o carro com as portas abertas e chave na ignição e ninguém leva.

    Mas claro que nem tudo são flores. Vou falar agora do serviço que faz falta por aqui (toda a região): saúde.
    No distrito há um posto de saúde onde um médico visita uma vez semanalmente para realizar consultas. E só.
    Se alguém se acidentar e precisar de um simples raio-x, terá que se deslocar ao menos 70km (para a cidade que moro hoje). A não ser que tenha dinheiro para pagar um exame particular. Mas aí só em dia útil e horário de expediente, na sede do município, a 11km de distância.
    Olha que falei de um simples raio-x. Se for acidente grave, necessitando de tomografia, cirurgia, etc. o cidadão terá que viajar 250km para a capital do estado. Só lá tem essa estrutura.



    Hoje moro em uma cidade "grande". Tem 70 mil habitantes, e ainda assim não possui cinema, nem shopping. Há um teatro, mas é o mesmo que não ter, pois raramente existe alguma coisa. Há um estádio, mas não possui time profissional.
    Apesar de tudo isso, prefiro viver aqui do que em uma cidade que tenha 500 mil habitantes ou mais, e ainda vou lá no meu distrito ao menos 2x vezes por mês.

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    1. Eu moro em cidade pequena, menos de 10k/hab e sou crítico desse tipo de cidade. Acredito que a maioria das pessoas tem ideias formatadas sobre quase tudo e dificilmente para para refletir se essas ideias são justas/realistas ou não.
      Conheço regiões do interior do nordeste inclusive. Fui eu que comentei os primeiros comentários do post.
      Essas cidades muito pequenas ou distritos podem ser e são muito bons para um determinado perfil de moradores, mas podem ser bem ruins para outros.
      Esses caras no buteco aí, eu imagino que sejam cara de 35, 40 anos pra cima. Para esse pessoal essa vida é muito cômoda.
      São pessoas em geral que não tem nenhum perspectiva de melhora ou mudança, mesmo que vivam uma vida cheia de limitações, muitos são casado e tem filhos, ou seja tem raízes maiores nesses locais.
      E são plenamente satisfeitos com a rotina que tem e com a cachacinha que tem como lazer. A rotina desses locai não costuma exigir muito também, são pessoas que trabalham na roça, vivem de bicos, são servidores públicos municipais, pequenos comerciantes ou sitiantes.
      No caso do trabalho na roça (mais pesado dos que citei), está havendo excassez de mão de obra, quase ninguém quer encarar mais esse tipo de trabalho. Parte do pessoal mais humilde se satisfaz com os auxílios do governo.

      Nesses locais também a maioria das pessoas estão sempre a mercê do julgamento e curiosidade alheia, a vida fica muito atrelada ao meio que você vive, mas que em cidades maiores.
      Por fim quem tem algum destaque financeiro/social nesses locais dificilmente o conseguirá em outra localidade, em cidades maiores é praticamente impossível, aí a pessoa apegada a isso acha a melhor coisa do mundo morar nesses locais, porque aí tem algum reconhecimento.
      Mas para quem quer algo diferente. Respirar novos ares, conhecer/conviver com novas pessoas num novo ambiente, se desconectar de pessoas ou lugares, estudar, ter melhores oportunidades de trabalho etc etc. Esses locais são muito ruins.

      E a violência vem aumentando ou sempre teve mas existe vista grossa por parte dos moradores. Na região onde moro há roubos a propriedades rurais, violência doméstica e um ou outro homicídio, por motivos passionais, drogas etc.
      Fora que problemas com álcool e drogas não são raros. Talvez no Distrito a que se refere não tenha tanto esse tipo de coisa. Mas na cidade de 70k onde mora certamente deve haver um número razoável de ocorrências nesse sentido.

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    2. Minhas indagações nem são tanto no sentido de falta de produtos, alguns serviços fazem falta, como melhor estrutura da saúde.
      Quanto as coisas que você citou que não existem aí, a maioria também não faz falta pra mim, sou um cara simples por natureza. O ser humano se adapta a quase tudo, lógico que pode existir dificuldades dependendo das necessidades e personalidade de cada um.
      O ano está acabando, as próximas semanas são de "férias". Não há nada pra fazer aqui diferente do que já faço no dia a dia.
      Se eu der uma volta pelo centro da cidade, faço uma caminhada de 15 minutos e acabou. Sempre as mesmas caras, as mesmas pessoas, fica até chato ficar batendo papo com o pessoal que está trabalhando no comércio por exemplo.
      Nesses e em outros momentos fica evidente a limitação do lugar.
      Imagina para quem não que apenas ou já enjoou do tal espetinho, tá de saco cheio de conversar com pessoas que só sabem falar da vida alheia...
      Tem gente boa, gente com quem nos identificamos e há também o contrário. Então entendo que ao contrário do que pode parecer a vida para parte das pessoas é solitária nessas pequenas cidades, ao contrário do que o senso comum dá a entender.

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    3. Investidor do Sertão, que relato! Espero que tenha captado que a essência do post é como o pessoal da cidade grande, incluindo eu, cria necessidades que não são tem necessárias, enquanto há pessoas como você e habitantes da terra natal vivem FELIZES, de verdade, sem diversas "necessidades" dos metropolitanos, que quase sempre são supérfluos.
      Assim como todos que lá conversei, você é mais um que genuinamente demonstra que pra estar satisfeito não é preciso muita variedade. Parabéns pelo seu sentimento.
      Entendo sim que o fato de haver (muito) mais opções de bens de consumo e lazer sejam privilégios pra quem assim foi criado, não que isso gere a consequência de uma vida melhor ao do interiorano. Talvez só no ponto da saúde, como você mencionou, e diria também da qualificação profissional. O estudante médio do interior tem de ter disciplina em triplo para obter praticamente sozinho informações que caem no colo do estudante de um colégio "recomendado" de uma grande cidade.

      Muito bacana seu comentário mesmo.
      Abração

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    4. Anon, eu também concordo com tudo que você disse, mas tudo é relativo. O que você falou se aplica pra quem é SOLTEIRO e tem entre 15 e 40 anos.
      Para crianças, crescer num ambiente desses é bom demais e ensina muitas coisas à vida (minha opinião); para quem já tem família e um sustento digno ou já é aposentado, também é um ambiente tranquilo por saber que não haverá grandes novidades (a maioria das pessoas tem receio de mudanças) e uma qualidade de vida quase sempre melhorar que na correria urbana.
      Fico muito feliz por você porque, se está aqui, certamente é alguém que busca conhecimento financeiro (da finansfera em geral, não aqui do Aposente Cedo) e bases mentais para atingir novos patamares da média da turminha aí do interior e poder morar aonde você desejar.
      Estarei na torcida por seus objetivos.
      Abraço

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    5. Não AC, já morei em cidade grande.
      Vim pro interior já adulto (jovem) e estou aqui a anos. Por isso insisto que oque descrevo é com conhecimento de causa de quem viveu as duas experiências.
      Acho que há uma supervalorização da vida em pequenas cidades que tem vantagens e desvantagens, por outro lado cidades médias e grandes são descritas como o inferno na terra.
      Já tive vontade de criar um blog para entre outras coisas falar sobre esse tipo de assunto.
      Quando conheci a blogsfera já poupava e me preparava para um futuro com um mínimo de liberdade financeira e já havia me formado no ensino superior.

      Isso que muita gente faz, inclusive você em seu comentário em resposta ao Investidor do Sertão é um erro comum, mas ao meu ver um erro.
      Veja que você fala sobre os moradores felizes do pequeno distrito e dá a entender que moradores de cidades maiores não são ou não podem ser assim. Porque?

      Primeiro ponto que nem todo mundo é feliz aqui, na roça, cidade grande ou pequena, isso é ilusão.
      Segundo ponto que tem muita gente em cidades grandes que vive de forma tão simples quanto os moradores que o Investidor do Sertão descreveu.
      Tá cheio de gente vivendo em grandes centro sem ir a teatros, restaurantes, estádios, sem comer alimentos premium ou consumir qualquer tipo de produto gourmet.
      E sim, muitos parecem não aceitar isso, mas tem gente feliz também.

      Eu acho essa visão do post, uma visão muito restrita a uma parcela da sociedade de classe média, que não enxerga uma forma de vida diferente da sua. Fica essa reflexão também.

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    6. "Eu acho essa visão do post, uma visão muito restrita a uma parcela da sociedade de classe média, que não enxerga uma forma de vida diferente da sua."
      Sim, concordo, é exatamente o que escrevi no post. Daí a vontade de expressar minha vivência nesse "novo mundo", algo só possível passando algumas semanas de verdade, já que, no passado, como mero turista em cidades pequenas nunca havia conseguido captar essa essência.

      "Tá cheio de gente vivendo em grandes centro sem ir a teatros, restaurantes, estádios, sem comer alimentos premium ou consumir qualquer tipo de produto gourmet. E sim, muitos parecem não aceitar isso, mas tem gente feliz também."
      Conheco poucos que vivem em grandes centros, vivem cheios de privações e são felizes. Na verdade, quase ninguém me vem à mente (só lembrei de 2 pessoas). O homem médio tende a ser bombardeado pelo consumismo quantitativo e qualitativo.

      " Veja que você fala sobre os moradores felizes do pequeno distrito e dá a entender que moradores de cidades maiores não são ou não podem ser assim. Porque?" - escrevi que "há pessoas que vivem felizes" cheias de privações em relação às de grandes centros. Em nenhum momento falei que viver num vilarejo é a fórmula da felicidade e nem generalizei, ao contrário, meu post foi a constatação de surpresa em ver como há pessoas (algumas das que interagir) que conseguem estar satisfeitas com o ambiente.

      Pelo seu primeiro comentário, pareceu desgostar da pequena cidade que mora.

      Numa coisa concordamos: seja cidade grande ou pequena, a felicidade vem de dentro pra fora. O ambiente pode só dar um empurrãozinho, conforme seu perfil e momento de vida.

      Abraço

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    7. Anon, lembrei desse post do Poupador do Interior, em que esse tema que você abordou foi bem discutido:
      https://poupadordointerior.blogspot.com/2020/11/vida-no-interior-como-e-o-lazer-por-aqui.html?m=0

      Abraço

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    8. Anon, concordo que para a maioria das pessoas por aqui a vida que levam é muito cômoda. Querem apenas receber seu salário, gastar no espetinho, até mesmo em shows de forró que tenha pela região e agora no final do ano fazer alguma excursão para alguma cidade com praia. E está bom demais assim pra eles.

      Mas acredito que em metrópoles também tenha gente que quer algo parecido da vida assim também (a gente maioria, inclusive).

      A principal diferença é que em uma cidade grande, quem tem $$ e queira alguma experiência diferente, seja em alimentação, entretenimento, etc. basta sair da porta de casa que encontra. Já por aqui é necessário se deslocar mais de 200km, mas ninguém faz questão por isso.

      “Nesses locais também a maioria das pessoas estão sempre a mercê do julgamento e curiosidade alheia, a vida fica muito atrelada ao meio que você vive, mas que em cidades maiores”
      Concordo plenamente. Nessas cidades pequenas todo mundo conhece a vida de todo mundo. Em cidade grande muitas vezes o cara não sabe nem o nome do vizinho.

      “E a violência vem aumentando ou sempre teve mas existe vista grossa por parte dos moradores. Na região onde moro há roubos a propriedades rurais, violência doméstica e um ou outro homicídio, por motivos passionais, drogas etc.”
      Ao menos no distrito, já ocorreu um assalto há cerca de 10 anos onde quatro bandidos armados foram em um dos mercadinhos e levaram o dinheiro que tinha lá.

      Tirando isso, o que ocorriam eram pequenos furtos em propriedades isoladas. Todo mundo sabia quem era o ladrão(era de outra localidade). Até que certo dia provavelmente uma das vítimas o encontrou na mata e deu-lhe uns tiros. O ladrão foi encontrado morto e os furtos acabaram.

      Agora, na sede do município (deve ter uns 15mil hab), de vez em quando ocorrem assassinatos, sempre relacionado às drogas. Mês passado houve um feminicídio, e ao menos uma vez ao mês ocorre algum assalto, principalmente em posto de gasolina.

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    9. Aposente Cedo,
      “O estudante médio do interior tem de ter disciplina em triplo para obter praticamente sozinho informações que caem no colo do estudante de um colégio "recomendado" de uma grande cidade.”

      É verdade. Em todo o município existe apenas uma escola particular, e ainda assim o ensino nem se compara ao de escolas particulares de cidades maiores como a que moro hoje, imagina com escolas de grandes centros.

      O comum lá no distrito quando alguém conclui ensino médio é se mudar para a capital para fazer alguma graduação, sempre em universidade pública. Quem não gosta de estudar tenta empreender em algo ou trabalhar no setor privado ou tentar concurso público.

      Esse é outro ponto a se lamentar, além do da saúde.

      E me lembrei de outra coisa. A falta de estrutura por aqui já nos fez perder vários talentos esportivos, principalmente no futebol. De vez em quando aparece um moleque talentoso, mas por não existir estrutura, quando vão crescendo focam em alguma das 3 áreas que citei acima.

      Em cidades vizinhas já saíram jogadores profissionais que atuaram em grandes times do Brasil e até no exterior. Conseguiram por as famílias terem conseguido mandá-los para SP.

      Enfim, apesar desses pontos fracos, reitero que os “luxos” citados no comentário anterior realmente não fazem falta.
      Eu gosto de viajar, atualmente conheço 9 estados brasileiros, quero conhecer todos e também quero conhecer vários países no mundo (só conheci o Chile). Mas, após cada uma dessas viagens, o destino sempre será o meu distrito.

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    10. Legal, Investidor do Sertão, essa vontade que você tem de sempre voltar a seu distrito. Apesar da crítica do Anon de as pessoas de metrópoles romantizarem a vida no interior, tem muita coisa boa sim e, praticando o desapego da variedade de opções, há muitas que são ótimas pra morar; inclusive há várias num raio bem curto de uma grande cidade e que ainda não tem problemas sérios de violência.

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    11. Duvido encontrar cidades de interior por pequena que seja que não tenha problemas com drogas ou alcoolismo.
      Quando você conhecer de fato um desses pequenos locais e interagir a médio ou longo prazo com moradores locais, viver a rotina do local é possível que seu ponto de vista mude.
      Porque você se estiver com a mente aberta, vai perceber que não muda praticamente nada, pessoas são pessoas, com seus problemas e qualidades.
      Mas pra isso a pessoas tem que viver nos locais por algum tempo, não sou eu que vou convencer ninguém.


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  4. belo post AC. Realmente tento lembrar diariamente como sou privilegiado. Isso é bom para lembrarmos e refletirmos quando nosso pior "problema" no mês, foi que a carteira rendeu abaixo da inflação. Grande experiência mesmo.
    Abs chavão.

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    1. É isso, Chavão. Manda um abraço pra Chiquinha.

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  5. AC,

    Seu post ilustra bem que uma vida simples pode ser muito significativa e feliz. Porém, não devemos confundir tudo isso com aceitação de uma realidade que pode ser mudada para melhor.

    Muitas vezes fico pensando: será mesmo que precisamos de tantas coisas?

    Não. Realmente não precisamos. Mas fomos ensinados assim.

    Mudar não é fácil. Mas podemos olhar a vida de outra forma com o que já temos. E sermos gratos por isso.

    Não precisamos chegar em momentos de escassez, como você relatou que viu, para percebermos que o simples, que um produto não tão sofisticado pode sim nos proporcionar bons momentos e boas experiências.

    Desejo boas festas à você e aos seus familiares. Que 2022 seja um ano de muita alegria, saúde, paz, harmonia e prosperidade.

    Esse ano preparei uma retrospectiva diferente no Simplicidade e Harmonia. Confira no link abaixo:

    Retrospectiva 2021 (Parte 1) - Simplicidade e Harmonia

    Abraços,

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    1. Oi Rosana! Concordo integralmente com você, difícil é atingirmos esse aprendizado sem uma escassez efetiva. Isso que venho tentando assimilar.
      Muito agradecido pelos bons desejos e tenha certeza que lhe desejo em dobro!

      Seu post de retrospectiva já está aberto no meu celular há alguns dias, só não li ainda porque gosto de ler seu conteúdo sem interrupções e são raros os momentos durante uma viagem permanente com criança e cachorros! rs

      Abraço

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  6. Existem muitos brasis dentro do Brasil. A galera das grandes cidades acha q o pais inteiro é daquele jeito. Vc curte um turisto alternativo pelo jeito haha. abs.

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    1. Curto sim, algumas das melhores experiências vieram dos lugares mais inesperados! Abraço

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  7. Olá AC
    Texto muito reflexivo, gostei muito, abraço.

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