É impressionante como as coisas mudaram. Do final de 2019 para agora
aconteceram
tantas mudanças pessoais e profissionais que fica até difícil de
resumir. Vou tentar fazer um breve balanço por temas:
- Trabalho/aposentadoria precoce: a ideia radical de parar de
trabalhar 100% foi por água abaixo quando meu sócio, que tocaria
sozinho minha vaca mais gorda, resolveu pular do barco ao final de
2020, justamente quando eu faria o mesmo. Sem poder deixar clientes à
deriva, optei por continuar trabalhando até finalizar os contratos
pendentes. Se Deus escreve certo por linhas tortas, esse ponto foi a
prova porque percebi que uma ocupação com carga horária reduzida
não só ajuda a me manter intelectualmente ativo e me sentindo “no
mercado”, como me dá uma segurança financeira e psicológica
maior diante de uma autodeclaração de FIRE em meio a uma pandemia
que parece não ter fim e não ter alívio econômico tanto real
quanto virtual/financeiro.
- Investimentos: nestes dois anos de blog vi meu patrimônio crescer
20%, o que não é grande coisa, considerando que a maior parte do
crescimento veio de renda ativa. Curioso ver que o dólar estava R$
4,05 no início do blog. Transformei minha carteira que era 100%
crescimento em 45% geradora de renda recorrente (FIIs, imóveis e
ações) e 55% em crescimento. É um patamar que já me presta renda
o suficiente para o orçamento mensal e me deixa confortável de não
perder o bonde do que possa vir a apreciar valor nominal expressivo.
Dinheiro não deixou
de ser uma preocupação, só mudou o
foco de “como pagar as contas mês que vem” para “como manter a
perpetuidade – pela inflação – do que já possuo hoje”. É
uma preocupação pequena, mas não deixa de ser.
- Família/amigos: falando agora só do último aniversário do blog
(dez/20 a dez/21), tive a felicidade de ver minha mãe se curando de
uma doença e uma avó resistindo a cirurgias e tratamentos pesados e
ficando com poucas sequelas permanentes; tive a infelicidade de
perder dois avôs em curto período de tempo e de ver minha irmã não
responder a diferentes tratamentos a uma doença que lhe gera dor e
lhe tornam incapacitada para boa parte das atividades cotidianas,
inclusive trabalhar, com menos de 40 anos de idade. Quanto a amigos,
naturalmente perdi ou diminui contato com muitos em razão da
distância física (e sanitária da pandemia, por que não?!), mas
também fiz novos amigos por onde passei na vida nômade; tive o
prazer de reencontrar alguns durante a viagem, seja indo a meu
encontro de férias, sejam migrantes do RJ que hoje moram em alguma
cidade que visitei. Decidi também, após muita deliberação
pessoal, por cortar laços com alguns que nada acrescentam
positivamente em nada há muito tempo. Essa última decisão foi um
tanto difícil.
- Vida nômade: se no início da vida nômade a palavra-chave do
sucesso era FLEXIBILIDADE, às vésperas de completar 1 ano, diria
que INTENSIDADE foi
o que definiu este período até então. A quantidade de experiências
vividas e acumuladas foram quase por uma vida toda. Culturas,
hábitos, estilos de vida, paisagens, educação, civilidade,
segurança, saúde, privações, farturas, aparências e comidas
diferem brutalmente dentre os locais que conheci nos últimos doze
meses, me tornando extremamente privilegiado por vivenciar e poder
absorver. Há pouco ouvi um balanço do Mad Fientist sobre os 5 anos
de vida FIRE dele e me encontrei num lugar comum que ele mencionou:
quanto tudo é extraordinário, fica cada vez mais difícil o
regozijo. Depois
da 10ª cachoeira, praia ou montanha visitada, por mais que cada uma
tenha sua peculiaridade, a graça já não é mais a mesma. Agora,
somente o MUITO diferente traz à tona a sensação que tinha no
início da viagem a cada vez que via algo novo. Decidi (leia-se: a
Sra. AC decidiu e eu concordei) que tive o bastante por ora e vamos
fincar bandeira em algum lugar a partir de março/22. Até lá, a
brisa segue soprando a vela.
-
Disciplina: para o trabalho, nunca faltou e nem consigo me imaginar
sem; para exercícios, houve uma inconstância gigante de disposição
para me exercitar, por vezes passos vários dias seguidos fazendo
exercício, por vezes passo semanas sem um abdominal sequer e, pra
melhorar, comendo chocolate, fritura e cervejinha regularmente. A
verdade é que, na parte da saúde e estética corporal, conto os
dias para morar numa residência fixa, voltar pra uma academia, saber
qual mercado compro bom hortifruti, etc. Pode acreditar: é bem mais
difícil fazer isso tudo cada hora numa cidade nova e desconhecida (e
muitas vezes sem estrutura alguma para manter boa alimentação ou
local para se exercitar).
-
Crescimento pessoal: há quase duas décadas sou consumidor de
conteúdo para crescimento psicológico, evolução mental,
auto-ajuda, chame como quiser. Não pretendo parar de consumir. Se
por um lado acabei consumindo menos conteúdo assim no último ano,
por outro tive maior tempo para digerir tudo que vivenciei e repensar
diversas questões pessoais (como algumas amizades, tal qual
mencionado acima). Quase sem notar, desenvolvi um hábito de me
questionar e desenvolver hipóteses antes de tomar ações e isso me
trouxe o problema de assim também fazer com quem converso, algo
aparentemente incômodo – em mais de uma oportunidade, pessoas
próximas falaram “não pedi sua opinião nem pra discutirmos a
respeito, só estou te contando isso”. Fica a dúvida se estou
sendo intrometido (algo que nunca fui e abomino) ou as pessoas só
não querem suas ideias questionadas nestes tempos que todo mundo tem
opinião pra tudo.
-
Estatísticas
do blog: nesses 2 anos de existências, foram 102.768
visitas, 66 postagens, 800 comentários. O post inicial (Trajetóriado AC) ainda é de longe o mais visitado, seguido por Offshore para investir no exterior, Maximalismo e O fim do capricho.
-
Conclusões finais de 2º aniversário: o universo FIRE é
absolutamente fascinante e algo que ao mesmo tempo foi ao encontro de
muitos pensamentos que já tinha, ainda desorganizados, e também
mudou minha vida, acrescentando uma tonelada de conhecimento, me
fazendo conhecer pessoas incríveis (algumas até pessoalmente!), e
fazer parte de uma comunidade virtual que é cooperativa e solidária.
Peço
desculpas aos gatos pingados que ainda leem esse espaço, seja pelos
quase 2 meses sem postar nada, seja pela mudança de pegada do blog,
cujo primeiro ano teve um conteúdo muito mais técnico e neste
segundo ano foi muito mais filosófico e baseado em opiniões
pessoais.
Dando
uma breve explicação da também omissão do Boteco Fire: iniciei o
podcast com a condição de ter mais alguém pra tocar junto. O TR
prontamente assumiu a missão e o Sapien Livre chegou em seguida, só
que, assim como eu vivo a vida nômade, o TR também vive seu próprio
nomadismo semi-sabático e o Gleison também viveu mudanças pessoais
nos últimos meses. O Boteco acabou se tornando a última prioridade
de todos nós, mas tenham certeza que ele não irá morrer.
Ao
leitor, meu obrigado por gastar seu precioso tempo por aqui e meu
muito obrigado se ainda comenta e interage. Ao amigo leitor e
blogueiro, sempre que posso estou acompanhando sua trajetória e peço
perdão por nem sempre comentar após a leitura.
Abraços