sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Perdi metade do meu patrimônio

 


Não foi fazendo trade, não foi em pirâmide financeira, apostas esportivas, nem em algum jeito de ficar rico rápido.


Foi minha mentalidade que mudou. Você já leu exaustivamente fora e dentro do círculo FIRE que tempo é dinheiro; trabalhamos dando nosso tempo em troca de dinheiro; etc. A aposentadoria “regular” e a aposentadoria privada (seja como produto bancário ou complemento do empregador) nada mais são do que a troca de reserva financeira por uma renda vitalícia (eu sei que na privada há opções de renda temporária, dentre outras, mas deixe eu simplificar).


Assim, a partir de agora em meu balanço mensal (privado) vou separar os ativos que comprei para gerar e usar a renda como “não-patrimônio” – e hoje eles representam em torno de 50% do total que tenho. Imóveis físicos alugados, FIIs e ações que comprei com foco em dividendos serão somente minha “renda”, minha “aposentadoria”, enquanto o resto dos ativos (no exterior, imóveis para ganho de capital e ativos de RF) serão o patrimônio propriamente dito.


Evidente que não vou largar às traças esse patrimônio que acabei de “perder” e converter somente em renda, até porque tenho a opção de modificá-lo para conseguir melhora da renda, seja reinvestindo parte dela na mesma classe, seja entendo que determinado ativo não faz mais sentido (ex: vendi um FOF de FII que tinha posição pequena e não vislumbrava razão de mantê-lo, usando a grana numa emissão underprice de outro FII com gestão melhor).


Já li fechamentos mensais de várias pessoas e há quem conte até a moeda do bolso da calça, enquanto há quem desconsidere como patrimônio o imóvel que mora, já que não pretende vender, tampouco gera renda.


Perdoe-me o sensacionalismo do título do post, porém eu optei por encarar, de agora em diante, que não “tenho” mais essa fatia de patrimônio, e sim uma renda mensal da “aposentadoria” (flutuante e com algum risco, ciente).


Por que tomei essa decisão?

1) Para lembrar sempre que, aos 34 anos, fiz a escolha de trabalhar cada vez menos, abdicando da construção de uma aposentadoria mais voluptuosa em prol de uma vida mais plena de outras coisas senão dinheiro; e


2) Porque todo ser humano tem metas. Olhar minha planilha de fechamento mensal com metade do valor que via até o mês anterior será um drive para não cair numa zona de conforto mental e buscar desenvolver projetos e aptidões que me tragam prazer e satisfação pessoal, além do meu próprio trabalho já costumeiro, o qual venho sendo cada vez mais seletivo.


Patrimônio é só um número na tela; renda é como você vive. Talvez você esteja pensando “por que então não transforma tudo em renda e vive com o dobro?”. Também já pensei nisso, claro, só que há várias razões para não fazer isso, dentre elas: poderia levar a uma vida de excessos e desperdícios, tornando bem fácil formar um círculo vicioso de consumo e despesas; utilizar toda a renda seria garantia de perda de poder de compra ao longo dos anos, o que levaria à derrocada de uma decisão FIRE; e, fazer o certo, reinvestir parte da renda… levaria a acumular patrimônio! Assim, fico mais confortável deixando, desde já, metade (agora o total) do patrimônio como um barco salva-vidas e área de manobra para o sempre incerto futuro.


ACHEI PÉSSIMA SUA IDEIA


Você tem todo direito de não concordar com minha abordagem. Nos EUA é bem comum a compra de uma annuity, instrumento que você dá uma quantia de dinheiro à seguradora e ela te dá uma aposentadoria vitalícia (pode ser temporária, deixe eu facilitar de novo) em troca, ou seja, você dá o dinheiro e eles de remuneram com previsibilidade pelo resto da vida, reajustada por um índice pré-determinado. Claro que seguradora e banco não costuma jogar pra perder, mas quem disse que, com esse dinheiro na mão, você necessária iria “ganhar”?


No Brasil isso também existe e é uma parte do meu portfolio, na forma de previdências privadas, atualmente divididas em 2 seguradoras e 3 fundos distintos. Se você tiver em mãos sua apólice da previdência, neste link oficial da SUSEP, pode simular, conforme a regra do plano, quanto será sua renda (a valor presente). Veja abaixo uma simulação minha:

 

Responda rápido: você prefere 500k na conta ou 2k/mês pro resto da vida?


Trazendo ao presente, se hoje eu tivesse 65 anos e 500k, poderia bater na porta da Icatu, entregar a grana e eles me darem R$ 1.992,18, corrigidos anualmente pelo IPCA (regra do plano), pro resto de minha vida, o que é equivalente a 0,40% ao mês sobre os 500k que entreguei. Esse tipo de decisão é irretratável. À primeira vista você pode pensar “hahaha, eu bato isso com consistência todos os meses”. Ok, não duvido, mas você quer passar até os últimos dias da sua vida estudando o mercado? Lendo relatório gerencial, balanço e decifrando sopa de letrinhas (p/vp, YoC, etc, etc)? Ou prefere receber um pouco menos, num grau de já lhe satisfaça as necessidades, e não se preocupar em investir?


Não estou dizendo que esse é o caminho certo, apenas abrindo os olhos do leitor para mais uma opção de aposentadoria, uma das mais passivas e garantidas, a meu ver. “Ah, mas a seguradora pode quebrar!”, pode, assim como o Governo pode dar calote nos títulos do Tesouro ou confiscar poupança; suas empresas da B3 falirem; suas criptos derreterem ou serem perdidas; suas LCI/LCA/CRI/CRA derem default… tudo tem sua dose de risco.


AC, VOCÊ FALOU QUE O PATRIMÔNIO NÃO CONTABILIZADO É DE FIIs E AÇÕES!


Sim, na presente data é isso. O patrimônio contabilizado engloba minhas previdências mencionadas porque nelas terei a opção de optar pela renda mensal vitalícia (ou temporária com valor maior conforme menor for o tempo de renda) ou SACAR o valor. Hoje os aportes são em 3 fundos que tem taxa de administração, como os de uma corretora comum, porém o IR sobre o ganho de capital é o menor do mercado não isento: 10% sobre o ganho para aportes com 10 anos ou mais. Significa que se eu desejar sacar o montante acumulado aos 65 anos, tudo que aportei até os 55 terá IR de 10% somente sobre os ganhos (obs: eu só aporto em VGBL com tributação regressiva). Pode ser que, nessa idade, eu pense e repense se saco a grana ou se opto pela renda vitalícia.


Hoje eu preferi utilizar no portfólio rentista somente FIIs (60%), imóveis físicos (30%) e ações (10%) por conta da desvantagem atuarial que teria em uma previdência (em função da idade) e por acreditar que estamos no início de um novo ciclo imobiliário que dentro de 10 a 15 anos pode ter seu novo auge (como ocorreu de 2011 a 2014). Atualmente, nos EUA, os preços dos imóveis já ultrapassam os da época da crise subprime (vide inúmeras notícias sobre isso na internet).


CONCLUSÃO


Diversificar segue como chave para uma noite tranquila de sono. Agora diversifico a forma de encarar renda e patrimônio.


Obs1: esses 50% do total de patrimônio (agora geradores de renda) equivalem a uma TSR/SWR de 3% ao ano (sobre o total do patrimônio “velho”). Nada mal se tratando somente de dividendos, sem nenhuma venda de ativos.


Obs2: levei cerca de 14 meses para migrar a carteira anterior para esse pedaço de portfólio previdenciário que gera renda adequada à minha necessidade (com alguma margem de folga). A rentabilidade nesse período de montagem foi de 4,28% (em 14 meses), considerando os dividendos recebidos.


Abraço

sábado, 21 de agosto de 2021

Pra que investir no exterior?

 


Antes de mais nada, deixo aqui minha recomendação ao curso “Como Investir no Exterior”, do Alex BP Milhão, autor do blog homônimo e do site Como Investir no Exterior, que quase sempre está conosco no Boteco Fire. Se você se sente inseguro de investir no exterior, seja por medo da língua, da regularização sobre o assunto ou da estratégia de investimentos, o curso dele irá esclarecer todas as dúvidas e, sem dúvidas, te dará suporte para sair da estaca zero ou se aprofundar no assunto, caso já invista lá fora. A qualidade do conteúdo gratuito (blog, podcast e Youtube) já é fantástica, então, mesmo sem ter assistido, posso atestar que seu dinheiro será bem investido no curso, cujo valor já é bastante honesto.

Obs: o link acima NÃO é afiliado, não tem desconto especial e eu não estou ganhando nada indicando. Estou apenas promovendo a educação financeira, um dos pilares desse blog.

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Vou aproveitar o jabá camarada acima e tocar no assunto, já que faz tempo que não abordo aqui. Quem navega pela finansfera sabe que o Sr. Resmungão IF 365 vem fazendo coro à proposição de que, mesmo que você nunca pretenda morar no exterior, deveria ter parte do patrimônio em moeda forte – e eu concordo com isso. Brincadeiras à parte, o Luiz (com “z”, se chamar com “s” ele fica mordido) traz bastante reflexão sobre o assunto e, quem se interessar, dá uma conferida no canal dele do Youtube.


Ter patrimônio alocado fora do Brasil dá conforto em saber que você não fica refém de um só governo e suas políticas; permite que você utilize o dinheiro em viagens para o exterior, pois mesmo que não seja em país na mesma moeda investida (quase sempre dólar), a conversão quase sempre é mais favorável e ajuda seu psicológico para aproveitar mais a viagem, já que você não está “tirando dinheiro do Brasil” para curtir a vida no estrangeiro; permite que você diversifique em diversas empresas e instrumentos que não existem no Brasil, fazendo sentido para uma gestão de risco patrimonial.


Daí tu se pergunta: e tu tens o que lá fora, AC? Bem, 2/3 da grana lá fora estão em 6 fundos mútuos, desses que tem taxas mais altas mesmo oferecidas por bancos e corretoras. Tem de bonds high yield, bons high grade, foco na Ásia, foco em mercado total dos US e um que tem carta branca pra alocar no mundo todo. O desconhecimento do mercado e o receio de fazer cagada me levaram a, inicialmente, colocar toda a grana que aportei nesse caminho mais fácil. Mantive assim porque em 3 anos de portfolio balanceado deu um retorno médio aproximado de 7% (em dólar; em real dá bem mais por conta do câmbio), dentro do que eu esperava. O outro 1/3 está em quase 30 ações e ETFs, fruto de uns meses que eu estudava uma empresa, cria na tese e comprava um pouco.

Em meus aportes futuros pretendo somente aumentar posições em ETFs para voltar a “fazer o simples” e, quem sabe, até me desfazer de algumas empresas atuais para diminuir a lista de ativos e facilitar a vida e os estudos (que, confesso, não foram muitos para aplicar lá fora).


Ando meio desligado da finansfera “sem querer querendo”, parte porque a vida não é só pensar em dinheiro e estratégias para multiplicá-lo e mantê-lo, parte porque sigo na vida nômade e a intensidade dos meus dias tem uma dimensão que jamais imaginei. Quando dá tempo, tenho priorizado gravar com os amigos e os excelentes convidados no Boteco Fire, mas este blog não irá morrer e, se você também for blogueiro, em breve voltarei à leitura de suas ideias (sou fã de todo mundo que comenta aqui e tem blog também, seria difícil nomear todos).


Abraço