Antes de mais nada,
os encontros FIRE seguem a todo vapor nessa vida nômade. Nas últimas
semanas tive o prazer de almoçar com o Soul e sua família
(www.mundosoul.com.br) e
tomar um chopp com Ivan Tonon
(https://www.youtube.com/channel/UCwY0gQ1Dl1Y1qYsldkLoc_Q).
Estou em Santa Catarina no momento e em breve estarei no RS; quem
quiser bater um papo, deixe um comentário
ou mande e-mail.
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Ouvindo o excelente podcast Rational Reminder, do excelente analista financeiro canadense Ben Felix, conheci Don Ezra,
atuário com grandes contribuições ao setor enquanto ativo e, agora
aposentado, contribuindo com a sociedade ao gerar reflexões sobre
como lidar com a aposentadoria, tanto financeira quanto
psicologicamente, com uma abordagem que, numa primeira análise, me
pareceu muito interessante. Seu livro mais recente se chama “Life
Two” (Vida Dois, em tradução livre) e um “livro auxiliar” ao
mesmo é disponibilizado gratuitamente neste link.
Ainda
estou caminhando na leitura
acima, porém já me fez refletir sobre a quantidade de “vidas”
que temos ao longo de nossa existência. O autor divide a existência
dele em duas vidas: enquanto trabalhador e enquanto aposentado. Eu
gostaria de ir muito mais além.
Na
minha (curta) existência de 35 anos sinto que vivo a minha quarta
vida. Chamo por “vida” o que entendia como tal a cada era.
A
primeira vida foi a infância, diria que dos 0 aos 13 anos. Aquela
transformação no corpo, desenvolvimento e habilidades básicas, a
transição de sair só do núcleo familiar para agregar amigos à
vida, entender que a escola era para ensinar utilidades para a vida.
Vive-se de forma pura, sem a consciência do que a vida pode se
tornar e as coisas simples, no geral, são o bastante para produzir
grande felicidade.
A
segunda vida foi dos 14 aos 25 anos, no meu caso. A vida era dividida
em duas: estudar e se divertir. A meta dos estudos era conseguir uma
boa qualificação estudantil para formar um bom pré-currículo
profissional: tirar notas boas, entrar numa boa faculdade, fazer
cursos de extensão e pós-graduação – tudo ainda dentro daquele
formato obrigatório do jovem millenial.
No lado pessoal, as metas eram namorar o máximo, se divertir,
fabricar boas histórias e viajar na medida que o escasso dinheiro
permitia.
Conheço
muitas pessoas que ficam estagnadas no que foi a minha segunda vida.
Sujeitos de 30 a 40 anos (ou mais) que são eternos estudantes,
emendam cursos e mais cursos, jamais construindo uma carreira ou
imagem profissional sólidas; outros, de mesma idade, cuja meta é
saber “a boa do fds” e conhecer toda semana alguém diferente;
muitos em ambas as situações. E assim vão vivendo, vários sob a
aba dos pais/parentes, sem construírem relacionamentos amorosos
sólidos, nem patrimônio material ou imaterial (contribuição à
sociedade ou algo parecido).
Minha
terceira vida foi dos 26 aos 33 anos, a mais curta de todas até
agora. Já tendo atingido uma relativa estabilidade profissional, a
meta neste âmbito era crescer orgânica e continuamente, buscando
aprendizados autodidatas principalmente para fins profissionais
práticos e focando muito mais em construir uma imagem do que um
currículo – afinal, acho que menos de 1% dos clientes que já tive
questionaram qual universidade cursei ou se tinha algum diploma de
curso específico, eles queriam resultados e bom atendimento, acima
de tudo. Na esfera pessoal, começava a enxergar que o mundo não é
feito de números e excessos, e sim de qualidade e intensidade nos
relacionamentos; o número de amigos e mulheres foi reduzindo,
ficando cada vez mais quem realmente importa, até que amigos ficaram
poucos e mulher somente uma e permanente (“mulheres” no plural me
refiro a frequência de trocas, não necessariamente em
simultaneidade, que fique claro).
Neste
ponto eu presumo que grande parte das pessoas fique estagnada até a
próxima vida (aposentadoria e/ou terceira idade). A vida
profissional passa a ser uma eterna busca por mais e mais. O
supervisor quer virar coordenador, depois gerente, depois
superintendente, depois diretor… sempre buscando um salário e
status maior. Há quem nem se importe com o cargo, somente com ganhar
mais e mais para sustentar uma aparência social ou acumular dinheiro
por acumular, sem um objetivo específico, sempre sob o manto da
desculpa de “conforto”. A pessoa com grana pra 10 apartamentos
não tem mais conforto da com grana pra 4. Na parte pessoal, alguns
desanimam rapidamente de um relacionamento estável, ora mantendo o
mesmo para fins sociais (especialmente quando casado no civil e
religioso e, mais ainda, quando já tem filhos), ora terminando
relacionamentos e buscando incessantemente a outra metade da laranja,
sem saber que a perseverança em renovar a parceria é o principal
ingrediente pra evitar que sua atual metade da laranja fique azeda.
Aos
34 anos, faz pouco tempo, sinto que iniciei minha quarta vida. O
plano profissional foi substituído pela independência financeira,
esta nunca entendida como abundância de dinheiro, mas sempre como a
satisfação com o que o já tem e um planejamento sólido –
sujeito à revisões conforme o mundo gira – para perpetuar o
patrimônio. A vida pessoal consiste em passar 24h com esposa e
filha, aproveitando os momentos bons, aprendendo com os ruins e
buscando qualidade de tempo com os demais familiares (muitos deles
pouco lembrados pelas metas das vidas anteriores) para que se tenha o
que realmente importa. Ainda, aprender um novo pensamento filosófico
ou abordagem de saúde soa infinitamente mais útil que saber a
última novidade da minha área profissional (fundamental para quem
se encontra na vida anterior).
Olhando
em retrospectiva, cada vida parece ter sido, de fato, uma vida
passada, um aprendizado que dificilmente terá retorno sob qualquer
aspecto. Há um vídeo do Mario Cortella (desculpe, não salvei o
link) que ele expõe que muitos casamentos terminam porque um dos
cônjuges afirma ao outro: “você não é mais o mesmo”. É muito
interessante quando finalmente parei para perceber que nem eu nem
você somos mais os mesmos que fomos anos atrás; já não somos os
mesmos que fomos ontem, mesmo que em uma micromedida, agindo o fator
tempo como os juros compostos modificando nossa essência.
O
mais curioso da minha vida atual é que pareço habitar num mundo
paralelo a quase todos os conhecidos, ainda vivendo majoritariamente
na minha vida anterior. O paralelismo também é digno perceber junto
àqueles que tem vidas absolutamente distintas por razões
circunstanciais de localização e renda (díspares para muito menos
ou muito mais). O fator principal e que muito me orgulho, posto que
fruto da minha construção ao longo dos anos, é que hoje faço
praticamente tudo que quero e aprendi a não querer o que seria
impossível ou de grande sacrifício.
Que
a vida atual seja perene e que eu tenha sabedoria para me enquadrar
nas próximas que virão.
E
você, parou para contabilizar quantas vidas já viveu, em qual se
encontra hoje e qual deverá ser a próxima?
Abraço