Cena 1:
Quando mais jovem, tinha uma amiga muito boa de papo de bar. Transitava bem no papo com jovens e velhos se uma cervejinha estivesse no meio. Frequentemente saía junto com ela e conversávamos um bocado, fôssemos só os dois ou com mais gente na mesa. Apesar de boa pessoa e ótima conversa, ela tinha uma questão recorrente: não pagava a conta.
De início, a amiga comunicava ao final da noite que estava sem grana porque… (infinitas desculpas) e pedia para pagar só aquela que depois ela acertaria. Mais cabreiro, comecei a questioná-la ANTES mesmo de sair de casa se ela estava “prevenida” e, quase sempre, a resposta era mais “honesta”:
- Hoje não, mas vamos lá, depois a gente acerta.
Numa época em que éramos jovens o bastante para alguns não trabalharem e, os que trabalhavam (como eu) recebiam salário-mínimo ou muito perto disso, aquela grana do boteco fazia uma grande diferença com alguém na aba.
Enfim, após muitas enrolações e desculpas, a agradabilidade do papo reduziu por conta da conduta da amiga, deixando de ser uma questão só financeira e passando à esfera moral, na minha interpretação. Parei de sair com essa amiga (que fique claro: não era uma amiga com benefícios) porque a hora do retorno nunca chegava – e nunca chegou.
A vida não é uma troca, mas um relacionamento caracu (um entra com a cara, o outro com o …) também não é agradável de se manter.
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Cena 2:
Já na fase adulta, tinha um bom amigo que poderia ser o melhor operador de placar do mundo. Ele armazena tudo que faz para cobrar depois. Se ele me fazia um favor (ex: ajudar carregando móveis de uma mudança), pouco depois estaria me pedindo algo (às vezes até inventava algo para pedir, só para “zerar o score”).
Estudioso do mercado financeiro, ele gostava de distribuir palpites não solicitados e operava da seguinte forma (criada por ele): se o palpite que ele desse te gerasse ganhos, ele se enaltecia como um grande ás do mercado e te pedia algo em troca; se o palpite te causasse prejuízo, ele sumia por alguns dias ou semanas – afinal, ele estava certo, mas o imprevisível evento XYZ fez com o que o mercado não seguisse a previsão dele.
Caso ele te emprestasse dois reais pra inteirar uma coca-cola, no dia seguinte ele talvez nem cobrasse o dinheiro, mas se sentia no direito de lhe pedir duzentos reais em serviços prestados a favor dele.
Enfim, um sujeito que segue meu amigo, agora com muitas ressalvas, e que entende abertamente, sob a ótica da “justiça”, que se ele ajudar em algo, tem que ter algo em troca, sempre e em qualquer contexto.
A vida não é uma troca, especialmente entre amigos.
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Cena 3:
Num curso de extensão, conheci uma colega de profissão que atuava na mesma área que eu. Em poucas horas de contato e vendo que ambos tínhamos conhecimento acima da média naquele assunto em especial, acabamos por trocar muitas experiências e dicas que poderiam render frutos financeiros a ambas as partes (ela me passou uma informação que eu não sabia e eu passei informações que ela desconhecia ou nunca tinha se atentado ao valor que poderia gerar com as mesmas). Trocamos contato para seguirmos a discussão de informações profissionais, já que tão interessante foi a conversa daquele momento.
Semana seguinte a colega me mandou um e-mail prosseguindo com a interessante discussão que tivemos pessoalmente e, para minha incredulidade, sugeriu que eu a remunerasse pelas dicas que ela me passou. Demorei a entender que não era uma brincadeira. Uma colega de profissão que me passou uma experiência profissional – e recebeu outras em troca! - numa conversa informal estava ali, dia depois, formalizando uma cobrança financeira pela conversa.
Lamentavelmente, por uma atitude que não consigo exprimir o que seria (ganância?), foi sepultado um relacionamento profissional que poderia ter se desenvolvido e trazido frutos a nós dois.
Tem um ditado chinês que diz: dois homens se encontram, cada um com um pão. Se trocam os pães, cada um continua com um pão; se trocam ideias, cada um sai com duas ideias.
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Acima mencionei três relacionamentos diferentes que tinham algo em comum: para fazer um bem a mim, a outra parte esperava que eu desse algo em troca. É claro que obter um retorno na mesma moeda (cena 3), financeiro (cena 1) ou de forma genérica (cena 2) é bacana, porém entendo que um genuíno agradecimento seja, na maioria das vezes, mais memorável e compensatório. Tenho certeza que não esquecerei do sorriso do garoto que dei uma mera barra de chocolate (LINK) há mais de 1 ano, mas nem lembro do último “favor devolvido” que recebi.
Bondade para ofertar, humildade para agradecer e discernimento para identificar exploradores.
Que você não se sinta em dívida com a próxima gentileza recebida, tampouco queira cobrar por seus atos voluntários.
Abraço
Carai fiquei de cara com o terceiro cenário kkkkkkkkkk, PQP, nem imagino um email falando: "então, sabe aquele papo bacana, te custou R$ 200, minha conta é essa do Santander, pode transferir por favor?" kkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirMas meu plano foi desvendado agora, eu estava secretamente pegando o email de todo mundo que escuta o Boteco FIRE pra manda o boleto pra eles pagarem logo pq tá foda esperar na conta bancária.
Po, TR, tu na busca da monetização e nem pra me botar uma fatia da boquinha! rs
ExcluirDepois te cobro minhas consultorias.
Abcs
Eu não gosto de ficar devendo nada para ninguém e não gosto pedir ajudar ou favores para às pessoas, me sinto verdadeiramente incomodado em fazer isso, entretanto não tenho problema em ajudar às pessoas.
ResponderExcluirAcho que um agradecimento e gratidão são o suficiente, o problema é que além da galerinha que quer algo em troca pela ajuda tem aqueles que não reconhecem se quer que você os ajudou.
Abraços,
Pi
A falta de reconhecimento é muito ruim, PI, mas é um problema do OUTRO. Com o tempo a gente aprende a ficar satisfeito com a gente mesmo só por ter feito o bem.
ExcluirAbraço
Eu sou como o Poupador do Interior: não gosto de dever favores. O motivo é apenas um: não me sentir na obrigação de retribuir com um favor que não quero prestar, como emprestar dinheiro.
ResponderExcluirO que fiquei mais chocado foi com a moça da cena 3 kkkkkkkkkkkkkkk. Que coisa macabra!
Só faltou mandar a nota fiscal e um certificado de conclusão com carga horária e tudo kkkkkkkkkkk
Lamentável.
É brabo MDQG, eu faço favor adoidado toda semana. O que me dá nos nervos é quando me COBRAM um favor...
ExcluirAbraço
Não sao amigos, sao mercenarios
ResponderExcluirAbs
Exato, pena que nem sempre a gente consegue identificar rápido - ou mesmo a pessoa muda para pior com a vida.
ExcluirAbraço
AC,
ResponderExcluirA 3º situação exemplifica bem que quando o interesse financeiro está em primeiro lugar na hora errada, todos saem perdendo.
As trocas de informações, que estavam sendo tão produtivas e poderiam gerar resultados a ambos perderam-se para sempre.
"Que você não se sinta em dívida com a próxima gentileza recebida, tampouco queira cobrar por seus atos voluntários."
Você disse tudo.
Precisamos deixar isso bem delineado na mente para não gerar esse tipo de confusão.
Boa semana,
Simplicidade e Harmonia
Rosana, é isso, toda troca de informação e de favores é muito boa para todos, uma pena é a cobrança feita por quem você nada deve a não ser gratidão.
ExcluirAbraço
Olá Aposente Cedo,
ResponderExcluirQue cenas foram essas?! Mas acredito que muitos já passaram por situações semelhantes em menor ou até maior grau.
Eu sou uma pessoa muito participativa e que sempre gostei de ajudar sem obter nada em troca. Foram diversas vezes que ajudei nas tarefas manuais ("bater uma laje", campinar um lote e ajudar numa mudança), conselhos (conversas sobre relacionamentos tóxicos e opinião sobre carreiras) e financeiros (diga se empréstimo de dinheiro).
Nas tarefas manuais e conselhos/conversas nunca esperava nada em troca, pois fazia com prazer e continuo a fazer. porem na parte financeira, notei que muitas vezes só vinham a mim por questões puramente interesseiras e diversas vezes demoravam a honrar os empréstimos.
Gosto de pensar como a citação que você mencionou: "dois homens se encontram, cada um com um pão. Se trocam os pães, cada um continua com um pão; se trocam ideias, cada um sai com duas ideias."
Abraços,
Oi VAR, bacana suas experiências. Quando há dinheiro no meio (ou cobrança dele) algumas pessoas se transformam. Há quem prefira perder uma possível amizade por conta de 20 reais (lembrei de um episódio de um colega de faculdade que ficou me devendo e parou de falar comigo e os amigos da época só pra não ter que pagar).
ExcluirInfelizmente alguns confundem dividir com subtrair.
Abraço
Falaí AC!
ResponderExcluirMuito bom esse seu posto com essas "cenas". Tenho quase certeza que a grande maioria de nós já passou por cenas muito parecidas
Assim como o PI e o Menos que Ganha aí cima, sou do time que ODEIA "dever" favores (essa expressão é até um pouco desconexa, pois um favor é um favor e não deveria gerar débitos). Porém acho que já tenho um certo grau de discernimento dos possíveis "exploradores", então eu evito pedir qualquer tipo de coisa para essas pessoas. Costumo prestar os mais diversos tipos de "favores" pra pessoas diversas, e até o momento não cobrei por isso..hahaha
Abraço!
https://engenheirotardio.blogspot.com/
Minha mãe adora uma frase que diz "sempre procure pedir favor pra alguém ocupado". É engraçado notar que alguém que está sempre ativo (o perfil de quem costuma ajudar) ajuda o outro mais facilmente que um ser à toa (normalmente, o explorador tem esse perfil).
ExcluirAbração
Bizarro o caso 3. Vc pagou ?
ResponderExcluirNão e nem passou pela minha cabeça. Meu "pagamento" foi não ter passado um sermão de moralidade nela.
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