quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Falta de ambição

Era setembro/2020 e eu confidenciava a um amigo próximo que iniciaria minha aposentadoria precoce muito em breve. Ele, formado na mesma área que eu, questionava: “por que você vai parar no auge financeiro?”


De fato, nos últimos 10 anos as receitas profissionais de minha principal atividade cresceram. O número de clientes e demandas era cada vez maior. Meu amigo sabia disso tudo e ficou intrigado com minha decisão. Falei em valores nominais de patrimônio e de expectativa de renda pós RE, quando ele levantou a seguinte questão: “Nosso amigo Fulano acabou de voltar de uma viagem das Ilhas Maldivas, gastou 40k em 1 semana. Com essa grana aí que você pretende viver, nunca poderá ir às Maldivas!”. Era verdade o que ele dizia. Preciso eu, todavia, ir às Maldivas para ser feliz?


Todos nós temos as próprias ambições e, não raro, uma delas é “conhecer o mundo”. A vida é uma só e não há tempo hábil para conhecer todas as cidades do mundo, ler todos os livros, ouvir todas as músicas, namorar todas as pessoas que passarem por sua vida. É preciso selecionar e ser feliz com suas escolhas, mesmo as erradas, já que estas te ensinam quais são as certas.


Provavelmente eu nunca irei às Maldivas, terei uma Pajero 0km, uma lancha, uma casa de praia pé na areia num destino badalado ou um harém de playmates. Valeria a pena trocar algumas décadas de trabalho por isso? Na concepção do meu amigo, sim, seria válido trabalhar full time a vida toda para aproveitar 20-30 dias de férias por anos e alguns finais de semana com esse estilo de vida (caso alcançado, ele bem sabe que ainda haveria incerteza de atingir esse patamar!).


Da mesma forma que ele deixou nítido que, naquele momento, me achava sem ambição e não compreendia o porquê de eu tirar o pé do acelerador, eu também não compreendia a razão de ele optar por chegar a um nível financeiro (de gastos, não necessariamente de acúmulo patrimonial) em troca de muitos mais anos de trabalho. Espero que um dia ele descubra que tem o suficiente.


Talvez eu nunca vá às Maldivas, mas, amigo, Tibau do Sul é um barato!


Abraço

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

#2 – Nômade – Petrópolis/RJ

Morei 3 anos em Petrópolis/RJ. Conhecida por ser o destino de férias de D. Pedro I e II, Princesa Isabel e família real, tem um clima bem mais agradável que o Rio, mesmo estando a 65 km de distância apenas. Grande em extensão, a paisagem varia desde um centro bem comercial, com residências misturadas, a sítios e grandes condomínios em bairros mais afastados (Itaipava, Secretário, Pedro do Rio, dentre outros).


É um bom lugar para turistar (inclusive de bate-volta para quem está no Rio) e também um ótimo ponto de partida para um carioca que deseja implementar o home office, mas tem receio de ficar longe da capital, seja por causa do trabalho ou de lazer. Ao menos foi o que fiz (adotei o home office como regra em 2016 e mudei pra Petrópolis no ano seguinte).


-Lazer: para um turista, há coisas a fazer durante 15 dias, no muito. Um residente rapidamente fica entediado.

-Cultura: história do Brasil entre monarquia e república e nada mais (o que já é bem interessante, diga-se de passagem).

-Moraria novamente: provavelmente não. Serviços deficitários para uma cidade de porte médio-grande (~300k habitantes), problemas de trânsito e enchentes habituais. Povo menos simpático que no Rio capital. 3 anos foram o bastante.

-Voltaria: sim, é um lugar agradável e o clima serrano é excelente para variar o nível do mar.

- Custo de vida: muito próximo ao do Rio de Janeiro, à exceção de moradia, levemente mais barata.

 

Abraço



sábado, 20 de fevereiro de 2021

#Nômade - Rio de Janeiro/RJ

Conforme postei aqui, estou indefinidamente sem residência fixa. Sem delongas, vamos à minha opinião sobre a cidade do título:


RIO DE JANEIRO/RJ


Morei a maior parte da vida no Rio, um local de muitas realidades. Classe média, frequentei desde o baile funk na favela, com gente dando rito pro alto por diversão, quanto noitada de playboy que custava R$ 30 uma long neck de skol (claro que eu bebia gummy na porta antes de entrar na boate). Sim, tem violência, todo mundo que conheço do Rio já foi roubado ou furtado uma ou mais vezes, tem mendigo na rua, tem sujeira, tem tudo que uma grane capital tem, mas também tem uma beleza incomparável, além de pessoas amigáveis no geral (questão que vem se mostrando bastante relevante nesta minha vida nômade).


-Lazer: bastante, especialmente se você tiver boa condição financeira e/ou residir na Zona Sul ou Barra.

-Cultura: bastante, muitos pontos interessantes para conhecer e visitar, inclusive muitos pouco explorados pelos próprios cariocas.

-Moraria novamente: provavelmente não. Com muitos amigos e alguma família ainda lá, é sempre tentador. O custo de vida familiar (boa escola, bom plano de saúde, bom local para morar) é bastante elevado, o que poria em xeque o planejamento FIRE ou me daria preocupações desnecessárias.

-Voltaria: sim, com certeza. Sempre vale ir ao Rio pra turistar.


- Custo de vida: pelo ótimo site Numbeo, um custo de vida de R$ 10.000,00 no Rio de Janeiro seria equivalente a um custo de R$ 7.943,73 em Natal/RN ou R$ 9.342,39 em Florianópolis/SC. Minha experiência carioca diz que o abismo financeira é bem maior no Rio, já que há uma diferença muito grande de valor entre bons e maus locais para morar, comer, educar, etc, ao passo que em outras capitais (exceto São Paulo e Brasília, minha impressão) um nível intermediário já traz uma certa qualidade de vida.


Obs: o Rio de Janeiro é gigantesco e está bem longe de ser só uma bela praia da novela ou só as favelas do noticiário policial. Infelizmente só quem mora em uns 12 de um total de 163 bairros consegue ter uma vida absolutamente agradável. Nem pense em morar no Rio se não estiver disposto a ter um custo de vida mais elevado.


Abraço



sábado, 6 de fevereiro de 2021

Respeitar as diferenças

Respeitar as diferenças é difícil. Todo mundo sabe que há muitas pessoas que pensam diferente e, infelizmente, o mundo atual converge para um cenário em que virou normal achar que quem pensa diferente está errado.


A comunidade FIRE pensa em aposentar cedo para sair da corrida dos ratos, do piloto automático, buscando passar mais tempo da nossa única (?) vida com nossa família, amigos e/ou fazendo atividades que amamos. Raramente é feita a reflexão que o sujeito pode amar o trabalho em si, independentemente do retorno financeiro.


Há aqueles que, para atingirem o objetivo mais rapidamente, utilizam de expedientes controversos: educação e saúde públicas (quando se pode pagar pelas privadas), frugalidade extrema, ausência de um veículo próprio quando este seria bastante conveniente, etc. Pessoalmente, discordo dessas formas de economia, porém, as RESPEITO.


O início da jornada nômade já serviu para conhecer algumas pessoas diferentes do meu habitat natural, dentre elas, um gringo residente no Brasil há pouco mais de 1 ano. Com doutorado em matemática em uma das instituições mais prestigiadas do mundo, veio ao Brasil para exercer cargo gerencial numa instituição financeira. Corremos juntos pela manhã 3x na semana e tomamos cerveja com nossas esposas e crianças aos finais de semana, criando certa intimidade. É absolutamente fascinante a visão de alguém tão diferente. Chileno (lembrando que não faz tanto tempo o Chile era a Suíça da América Latina), residente na França por mais de uma década antes de vir ao Brasil, aqui, numa pequena cidade do interior de SP, ele afirma ser o melhor lugar que já morou – e não tem nada a ver com samba, mulheres, praia ou qualquer estereótipo brasileiro criado por estrangeiros. Narrou-me inúmeros pontos negativos do sistema econômico, político, social e laboral da França, por exemplo.


Com esse mesmo novo amigo comentei sobre FIRE, até por ele ser da área financeira e aparentemente um ás da matemática, falando que eu tenho um blog sobre isso. Ele respondeu: “Ah, eu já vi esse pessoal FIRE, muito doida essa ideia de parar de trabalhar cedo e viver de renda, acho muito engraçado você querer fazer isso.” - Obs: eu prefiro relatar que trabalho a tempo parcial e flexível, o que acontece de fato, do que falar que estou “aposentado” e fazendo bicos na minha antiga profissão.


Por tudo que já conversei com esse cara, notei que ele é um pequeno gênio, no entanto, o tema FIRE não tocou o coração dele, tampouco tenho intenção de evangelizar as pessoas a se tornarem entusiastas do assunto.


Provavelmente o leitor acha que é maluco alguém que morava com um bom emprego na Europa preferir morar no interior do Brasil, assim como eu acho o fato de um brasileiro com capacidade financeira não ter plano de saúde ou escola particular para os filhos (salvo raras exceções de escola pública de qualidade, como colégios de aplicação parte de Universidades, algumas escolas militares, dentre outras).


O ponto aqui é que temos de respeitar esses pensamentos divergentes e, para tanto, deixarmos de tentar convencer nosso interlocutor com nossos argumentos (leia-se: ponto de vista) como se errados estivessem.


Sem dúvidas nossas conclusões são tomadas após reflexões e estudos, sendo muita pretensão achar que as do próximo assim não se deram, portanto, caso não concorde com determinada opinião alheia, promova o debate saudável, sem a soberba de pensar que quem pensa diferente de você é simplesmente um idiota.