Não foi fazendo trade, não foi em pirâmide financeira, apostas
esportivas, nem em algum jeito de ficar rico rápido.
Foi minha mentalidade que mudou.
Você já leu exaustivamente fora e dentro do círculo FIRE que tempo
é dinheiro; trabalhamos dando nosso tempo em troca de dinheiro; etc.
A aposentadoria “regular” e a aposentadoria privada (seja como
produto bancário ou complemento do empregador) nada mais são do que
a troca de reserva financeira por uma renda vitalícia (eu sei que na
privada há opções de renda temporária, dentre outras, mas deixe
eu simplificar).
Assim,
a partir de agora em meu balanço mensal (privado) vou separar os
ativos que comprei para gerar e usar a renda como “não-patrimônio”
– e hoje eles representam em torno de 50% do total que tenho.
Imóveis físicos alugados, FIIs e ações que comprei com foco em
dividendos serão somente minha “renda”, minha “aposentadoria”,
enquanto o resto dos ativos (no exterior, imóveis para ganho de
capital e ativos de RF) serão o patrimônio propriamente dito.
Evidente
que não vou largar às traças esse patrimônio que acabei de
“perder” e converter somente em renda, até porque tenho a opção
de modificá-lo para conseguir melhora da renda, seja reinvestindo
parte dela na mesma classe, seja entendo que determinado ativo não
faz mais sentido (ex: vendi um FOF de FII que tinha posição pequena
e não vislumbrava razão de mantê-lo, usando a grana numa emissão
underprice
de
outro FII com gestão melhor).
Já
li fechamentos mensais de várias pessoas e há quem conte até a
moeda do bolso da calça, enquanto há quem desconsidere como
patrimônio o imóvel que mora, já que não pretende vender,
tampouco gera renda.
Perdoe-me
o sensacionalismo do título do post, porém eu optei por encarar, de
agora em diante, que não “tenho” mais essa fatia de patrimônio,
e sim uma renda mensal da “aposentadoria” (flutuante e com algum
risco, ciente).
Por
que tomei essa decisão?
1)
Para lembrar sempre que, aos 34 anos, fiz a escolha de trabalhar cada
vez menos, abdicando da construção de uma aposentadoria mais
voluptuosa em prol de uma vida mais plena de outras coisas senão
dinheiro; e
2)
Porque todo ser humano tem metas. Olhar minha planilha de fechamento
mensal com metade do valor que via até o mês anterior será um
drive
para não cair numa zona de conforto mental e buscar desenvolver
projetos e aptidões que me tragam prazer e satisfação pessoal,
além do meu próprio trabalho já costumeiro, o qual venho sendo
cada vez mais seletivo.
Patrimônio é só um número na tela; renda é como você vive.
Talvez você esteja pensando “por que então não transforma tudo
em renda e vive com o dobro?”. Também já pensei nisso, claro, só
que há várias razões para não fazer isso, dentre elas: poderia
levar a uma vida de excessos e desperdícios, tornando bem fácil
formar um círculo vicioso de consumo e despesas; utilizar toda a
renda seria garantia de perda de poder de compra ao longo dos anos, o
que levaria à derrocada de uma decisão FIRE; e, fazer o certo,
reinvestir parte da renda… levaria a acumular patrimônio! Assim,
fico mais confortável deixando, desde já, metade (agora o total) do
patrimônio como um barco salva-vidas e área de manobra para o
sempre incerto futuro.
ACHEI
PÉSSIMA SUA IDEIA
Você
tem todo direito de não concordar com minha abordagem. Nos EUA é
bem comum a compra de uma annuity,
instrumento que você dá uma quantia de dinheiro à seguradora e ela
te dá uma aposentadoria vitalícia (pode ser temporária, deixe eu
facilitar de novo) em troca, ou seja, você dá o dinheiro e eles de
remuneram com previsibilidade pelo resto da vida, reajustada por um
índice pré-determinado. Claro que seguradora e banco não costuma
jogar pra perder, mas quem disse que, com esse dinheiro na mão, você
necessária iria “ganhar”?
No
Brasil isso também existe e é uma parte do meu portfolio, na forma
de previdências privadas, atualmente divididas em 2 seguradoras e 3
fundos distintos. Se você tiver em mãos sua apólice da
previdência, neste link oficial da SUSEP, pode simular, conforme a regra do plano, quanto
será sua renda (a valor presente). Veja abaixo uma simulação
minha:
Responda
rápido: você prefere 500k na conta ou 2k/mês pro resto da vida?
Trazendo
ao presente, se hoje eu tivesse 65 anos e 500k, poderia bater na
porta da Icatu, entregar a grana e eles me darem R$ 1.992,18,
corrigidos anualmente pelo IPCA (regra do plano), pro resto de minha
vida, o que é equivalente a 0,40% ao mês sobre os 500k que
entreguei. Esse tipo de decisão é irretratável. À primeira vista
você pode pensar “hahaha, eu bato isso com consistência todos os
meses”. Ok, não duvido, mas você quer passar até os últimos
dias da sua vida estudando o mercado? Lendo relatório gerencial,
balanço e decifrando sopa de letrinhas (p/vp, YoC, etc, etc)? Ou
prefere receber um pouco menos, num grau de já lhe satisfaça as
necessidades, e não se preocupar em investir?
Não
estou dizendo que esse é o caminho certo, apenas abrindo os olhos do
leitor para mais uma opção de aposentadoria, uma das mais passivas
e garantidas, a meu ver. “Ah, mas a seguradora pode quebrar!”,
pode, assim como o Governo pode dar calote nos títulos do Tesouro ou
confiscar poupança; suas empresas da B3 falirem; suas criptos
derreterem ou serem perdidas; suas LCI/LCA/CRI/CRA derem
default…
tudo tem sua dose de risco.
AC,
VOCÊ FALOU QUE O PATRIMÔNIO NÃO CONTABILIZADO É DE FIIs E AÇÕES!
Sim,
na presente data é isso. O patrimônio contabilizado engloba minhas
previdências mencionadas porque nelas terei a opção de optar pela
renda mensal vitalícia (ou temporária com valor maior conforme
menor for o tempo de renda) ou SACAR o valor. Hoje os aportes são em
3 fundos que tem taxa de administração, como os de uma corretora
comum, porém o IR sobre o ganho de capital é o menor do mercado não
isento: 10% sobre o ganho para aportes com 10 anos ou mais. Significa
que se eu desejar sacar o montante acumulado aos 65 anos, tudo que
aportei até os 55 terá IR de 10% somente sobre os ganhos (obs: eu
só aporto em VGBL com tributação regressiva). Pode ser que, nessa
idade, eu pense e repense se saco a grana ou se opto pela renda
vitalícia.
Hoje
eu preferi utilizar no portfólio rentista somente FIIs (60%), imóveis
físicos (30%) e ações (10%) por conta da desvantagem atuarial que
teria em uma previdência (em função da idade) e por acreditar que
estamos no início de um novo ciclo imobiliário que dentro de 10 a
15 anos pode ter seu novo auge (como ocorreu de 2011 a 2014).
Atualmente, nos EUA, os preços dos imóveis já ultrapassam os da
época da crise subprime
(vide inúmeras notícias sobre isso na internet).
CONCLUSÃO
Diversificar
segue como chave para uma noite tranquila de sono. Agora diversifico
a forma de encarar renda e patrimônio.
Obs1:
esses 50% do total de patrimônio (agora geradores de renda)
equivalem a uma TSR/SWR de 3% ao ano (sobre o total do patrimônio
“velho”). Nada mal se tratando somente de dividendos, sem nenhuma
venda de ativos.
Obs2:
levei cerca de 14 meses para migrar a carteira anterior para esse
pedaço de portfólio previdenciário
que gera renda adequada à minha necessidade (com alguma margem de
folga). A rentabilidade nesse período de montagem foi de 4,28% (em
14 meses), considerando os dividendos recebidos.
Abraço