quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Minimalismo não é frugalidade

Gosto muito de consumir conteúdo sobre minimalismo, assim como (creio) boa parte da comunidade FIRE. Em apertada síntese, meu conceito de minimalismo é não ter coisas supérfluas; valorizar o que se tem, sendo feliz com elas. Nem sempre significa ter poucas coisas – às vezes um carro ou uma cafeteira Nespresso podem não ser supérfluos, desde que tenha VALOR, não só CUSTO.


No meu caso específico, o minimalismo aplicado está em ter poucas coisas. À exceção de alguns itens de valor sentimental e documentos desnecessários ao porte cotidiano, que foram armazenados nas casas dos pais e sogros ACs, todos os pertences da família AC cabem num carro SUV. Abarrotado, mas cabem. Há cerca de 1 ano o estudo do minimalismo foi intensificado e, salvo raras exceções, a compra de novos bens duráveis (roupas, utensílios, brinquedos) foram extremamente conscientes.


O minimalismo é um grande aliado à jornada FIRE, pois, via de regra, traz felicidade com um estilo de vida mais barato, no entanto, regras têm exceções e infelizmente creio me enquadrar.


Mesmo com a intensificação da mentalidade minimalista em mim e na Sra. AC, em 2020 gastamos aproximadamente 140 mil reais, uma média de R$ 11.600,00 por mês. O fato é que as despesas não-recorrentes não deixam de ser frequentes. Havia aluguel, contas de luz, gás, etc. Houve meses que gastamos 4 mil reais só em supermercado e delivery. Houve despesas médicas extraordinárias (cirurgia de miopia), vacinas em clínica particular, teste de COVID particular (R$ 1.050 pra nós 3 aqui).


Fazendo esse balanço de fim de ano eu cheguei à conclusão que minimalismo e frugalidade são conceitos distintos, apesar de próximos. Meus pertences são minimalistas (?), porém minha vida não é frugal. É sustentável, sem dúvidas (apesar de minha remuneração ser variável, em nenhum mês o saldo foi negativo), mas frugal, certamente não.


Talvez você se pergunte “Como uma família de 3 pessoas e 2 cães possui bens limitados a um carro e consegue gastar tanto?”. Também me faço essa pergunta e não sei ao certo a resposta. As duas grandes pistas que tenho são comida e habitação.


Aqui em casa gostamos muito de comida e de comer. Somos da galera que pede o hambúrguer de 40 contos, que compra o suco integral de 15 reais, a salada higienizada e embalada vendida ao triplo do preço de seus insumos, a cerveja artesanal de 20 reais, o café 100% arábico, a castanha de caju caramelada, o presunto de parma. Sim, olhamos e comparamos os preços e, claro, compramos também muita coisa barata, nem tudo é o top da cadeia alimentar (ex: raramente compramos orgânicos por causa do preço). O fato é que não me parece absurdo gastar R$ 150 a R$ 200 numa refeição para dois em um restaurante legal, se o valor da experiência for suficiente. Não recomendo ser assim. Um mês só com refeições em casa (sem delivery) é algo que não me recordo de ter vivido na última década e teria feito uma grande diferença na taxa de poupança se houvesse consistência no médio prazo.


Quanto à habitação, reduzimos drasticamente as despesas saindo da mansão para um apartamento regular de 2 quartos. Um custo de aproximadamente 7 mil por mês caiu para 2,5 mil (todas as despesas de habitação incluídas). Agora na fase nômade, no entanto, começamos a jornada na região Sudeste alugando Airbnbs e o custo médio mensal dos já alugados até agora girou em torno de 6 mil reais, algo que sinceramente compensar nas outras regiões do Brasil, já que, por nossas pesquisas, as opções no Sul, Centro-Oeste e Nordeste parecem ser bem mais baratas. Em que pese meu primeiro apartamento ter 21m² e eu ter sido bem feliz lá, é garantia de aborrecimento e sofrimento viver em algo menor que 50m² na atualidade, com criança e dois cachorros de porte médio.


Acho que o post está fugindo um pouco ao tema e a principal reflexão é: ser minimalista não implica em ser frugal. É bem menos difícil ser minimalista do que ser frugal, na minha opinião. Claro que sempre buscarei limitar despesas para uma vida pós-aposentadoria sustentável no longo prazo, mas a verdade é que, pelo que vivo no presente, reduzir meu orçamento à metade é improvável e impossível sem sacrifícios.


Abraços

14 comentários:

  1. Vocês estão longe de serem frugais. Aliás parte da blogsfera está totalmente desconectada do que seria uma vida frugal e "barata".
    Veja que a maioria da população brasileira não tem renda nem próxima das despesas que vocês tem em média por mês.

    Esse time de minimalismo pra mim é um minimalismo gourmet. E isso não é uma crítica, acho que cada um vive da forma como acha melhor dentro do seu orçamento.
    Porém já li posts abordando minimalismo ou frugalidade sob uma perspectiva similar a sua e vejo que difere muito da realidade da maioria. Exemplo: Já li comentários sobre a dificuldade em se viver com menos de 7k mês em São Paulo ou outras cidades grandes.
    A maioria vive (ou sobrevive) em São Paulo e outras cidades grandes com menos de 7K, e só olhar pro lado pra perceber isso.
    Custos são maiores no Sudeste em relação a outras regiões...
    Moro no Sul, já morei no Sudeste e tudo depende da cidade e/ou bairro em termos de moradia. Custo de moradia no Brasil de maneira geral é caro, mesmo em cidades pequenas é caro pelo que a população pode gastar.
    Se for procurar imóveis em cidades e regiões valorizadas do Sul, os mesmos não serão baratos e provavelmente em outros pontos do Brasil também.

    O ponto principal desse assunto todo o ponto de vista da pessoa que encara esses temas. As perspectivas de cada um.
    O assalariado comum tem ser comedido ou então vai se enfiar em dívidas que viram bola de neve, portanto um assalariado gastador é mais econômico que um minimalista da blogsfera.

    E ressaltando isso não é uma crítica a quem pode gastar mais, cada um vive da forma que pode e quer, mas é que vendo a partir da perspectiva de uma assalariado comum esse tipo de "minimalismo" não parece muito coerente, embora seja compreensível analisando as perspectivas do outro.

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    1. Oi Anon, não sei exatamente quem são "vocês", mas há blogueiros bastante frugais e há blogueiros nada frugais na finansfera. Basicamente os blogs discutem como investir melhor, estratégias para tanto, mentalidade e um estilo de vida sustentável.
      A vida pode ser sustentável ganhando 4 e gastando 2 ou ganhando 15 e gastando 10. A diferença é que, quanto menos renda, menos oportunidade de escolha.

      Evito falar em números aqui no blog porque causa certa polêmica, todavia utilizei nesse post para ilustrar o meu sentimento justamente afirmando que NÃO me considero frugal, apesar de ser minimalista sob qualquer ponto de vista diante dos pertences que hoje possuo. É um baita paradoxo que postei justamente para discussão e seu comentário é bem-vindo. Não me recordo de jamais ter afirmado ser frugal; considero-me simples, o que é diferente de frugal ou sofisticado. Prefiro (e posso comprar) um sorvete Häagen-Dazs a um Kibon, mas fico feliz mesmo com um Eskimó ou sem sorvete algum.

      Toda cidade vai ter imóveis caros para morar, minha ponderação no texto foi por uma média geral para um bom bairro e, sem dúvidas, o Sudeste bate qualquer região quanto ao preço.

      Resumindo, ter poucos bens materiais não significa gastar pouco.

      Abraço

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    2. Sou o anon do primeiro comentário.
      O "vocês" que eu me referi é você e sua mulher.

      Conheço bem a blogsfera, realmente tem blogueiros com diferentes perfis socioeconômicos, inclusive os mais abastados, o que é normal e é bem vindo, são visões diferentes de mundo e isso é positivo.
      O meu comentário foi focado em mostrar o quão frágil e pessoal pode ser o conceito de minimalismo e frugalidade.

      "Prefiro (e posso comprar) um sorvete Häagen-Dazs a um Kibon, mas fico feliz mesmo com um Eskimó ou sem sorvete algum."

      No Brasil é comum pessoas mais abastadas se sentirem de certa forma envergonhadas ou desconfortáveis por ter condições financeiras acima da média.
      Não precisa disso AC, como disse cada vive dentro de suas possibilidades, fique feliz também com aquisições mais caras, não há problema nisso, senão boa parte do sentido de se ter uma condição financeira melhor é perdido.
      Não estou criticando seus gastos ou perfil, apenas como disse chamando a atenção para diferentes perspectivas.
      E maioria das pessoas gostaria de ter mais dinheiro e gastar mais, isso é fato, não há a necessidade de ser politicamente correto nesse caso.

      Na média as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro devem colaborar bastante para esses valores do sudeste.
      Mas eu conheço localidades do Sul do Brasil que estão longe de ter custos baixos, fora que outros custos não diferem muito dos praticados em SP.
      No interior de São Paulo ou mesmo em outros municípios da região metropolitana existem custos mais atraentes.

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    3. Ah sim, eu e a patroa. Não tenho vergonha nem peço desculpas por ter uma condição acima de média nacional. Nunca irei comprar uma carro esportivo, um helicóptero ou uma casa de praia à beira mar em lugar badalado, mas também, se tudo correr como o planejado, nunca chegarei perto de passar fome.

      De fato fico feliz com coisas simples, acho que a principal autocrítica do post é o gasto alto que se tornou um hábito maléfico. Estou longe de ser politicamente correto ou de pedir desculpas por algo que me esforcei a vida toda para construir, assumindo riscos que muitos não assumiram (estou falando de meritocracia que colegas de escola e faculdade que tinham a mesma condição sócio-econômica que tive).

      Abraço

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. É uma reflexão interessante e complexa.

    Não sei se é possível considerar vocês como minimalistas ou não, mas acho que isso não é tão relevante, o que é importante é ter um estilo de vida sustentável, você tem seus "pequenos luxos", porém tem uma vida financeira estabilizada e valoriza alguns aspectos de consumo em detrimento de outros, é um modelo que vejo como correto, você vive dentro das suas possibilidades, com uma margem de segurança e um bom planejamento. É o que todos os brasileiros deveriam tentar fazer na medida do possível hahaha

    Abraços,
    Pi

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    1. Pois é, Poupador. Após os comentários do Anon acima eu conclui que eu postei justamente pra ler algo como ele botou, tomar uns tapas na cara. Eu sempre tive um orçamento sustentável, quando ganha R$ 600 (sim, meu primeiro salário) eu poupava uns 20 a 30% e foi só aumentando a taxa de poupança à medida que a renda crescia. Chegou num ponto, porém, que preciso reaprender a viver com menos, apesar de me dar direito a alguns luxos. Acho que a comida é o principal catalisador a refletir.

      Abração

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  4. Oi AC,

    Realmente, frugalidade e minimalismo é um conceito que se mescla em algumas coisas, mas são bem diferentes. Nem todo minimalista é frugal, da mesma forma que nem todo frugal é minimalista.

    Eu entendo que uma pessoa frugal não quer gastar dinheiro para poder poupar mais.

    Já um minimalista gasta menos dinheiro como consequência das suas escolhas, mas não se importa em gastar mais naquilo que acredita ser importante.

    Eu já fui frugal durante um período da minha vida. Comprava pelo preço, escolhia o mais barato, e com isso, nada do que eu tinha era de fato o que eu queria, eram sempre substitutos. A vontade de comprar sempre perdurava, já que eu nunca ficava satisfeita. Quando passei a fazer escolhas melhores e comprar o que eu realmente queria, a vontade de substituir o item cessou, e com isso, passei a economizar dinheiro (mesmo comprando itens mais caros).

    Geralmente, a pessoa se torna minimalista, porque fica cansada de uma vida de excessos, e busca o minimalismo para retirar tudo o que não é importante na vida para focar nas coisas essenciais. Viver somente com o essencial faz brotar algo raro hoje em dia: tempo.

    Eu acho que se uma pessoa ganha uma boa remuneração, e vive com menos do que ganha por mês, e ainda tem um belo de um patrimônio, não vejo problema em viver com conforto, afinal, dinheiro serve para isso, trazer conforto. O carro serve pra isso, um imóvel bem localizado serve pra isso, alimento serve pra isso.

    Aproveite o que ralou pra conquistar. Tenho certeza que trabalhou muito para ter a vida que tem hoje.

    Beijos.

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    1. Pra mim isso que vc descreve nao é ser frugal e sim mão-de-vaca mesmo. Frugalidade tem a ver com usar ou fruir de tudo que se tem.

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  5. Oi Yuka! Vindo da maior referência do assunto, fico honrado por suas palavras. Sim, a cada delivery eu penso "eu mereço e fiz por onde" e não me envergonho, nem me arrependo.
    Se sou ou não minimalista, sei lá. Acho que sim, já que tudo dá família cabe num carro, mas se alguém achar que não sou, ok também, não me ligo muito em rótulos.
    O minimalismo tem pegadas de mentalidade, quantidade e sustentabilidade global. Acho que fico devendo um pouco neste último conceito, já que tenho um consumismo acima da média.

    Minha maior preocupação é com o longo prazo da vida Fire, porém, como li hoje mais cedo, se preocupar com inúmeras hipóteses futuras quase sempre só trarão mais preocupações desnecessárias. Vamos focar no próximo passo, depois o próximo passo... Foi a grande lição da pandemia.

    Beijão

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  6. Eu ainda nao descobri a diferenca, se é que existe. Talvez as 2 palavras descrevam um mesmo modo de vida.

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    1. São conceitos realmente próximos, Vagabundo. Acho sim que tem suas diferenças, pois conheço pessoas que são frugais por força das circunstâncias ($$), porém nada minimalistas - sempre comprando bugingangas ao máximo que o orçamento comportar. Eu sou o inverso - tenho poucas coisas, condição de comprar mais, porém meus gastos efêmeros são acima da média.
      Conceitos à parte, queria só refletir que eu poderia gastar bem menos.
      Abraço

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  7. Excelente post amigo, ri demais da parte "Aqui em casa gostamos muito de comida e de comer" porque além de ser cómico eu me identifico muito, um dos meus maiores gastos além do aluguel é comida hahaha, porém ainda olho muito pro preço, entre um hamburgue de 40 e 2 de 20 eu fico com 2 de 20 heheh

    Sobre frugalidade e minimalisto, minimalismo é mais um estilo de vida, cada um tem sua escolha, frugalidade tem mais a ver com o quanto você ganha e gasta e a média na sua volta. Como você mesmo disse, é minimalista no estilo de vida e não é frugal por ser uma média muito alta.

    Abçs

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    1. Comer é vida!!! rs
      Eu também era muito econômico com comida, mas eu caí na lábia da gourmetização de tudo e tem uns troços bons demais pra não consumir...
      Abraço

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