sábado, 26 de setembro de 2020

Inflação

 

Inflação

Segundo o Banco Central do Brasil (https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/oqueinflacao), “Inflação é o aumento dos preços de bens e serviços. Ela implica diminuição do poder de compra da moeda. A inflação é medida pelos índices de preços. O Brasil tem vários índices de preços. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o índice utilizado no sistema de metas para a inflação.”

Isso afeta sua AP na medida em que seu custo de vida hoje (agora você sabe, pois fez seu orçamento) certamente será maior no futuro, aumentando gradualmente. Apesar dos 25 anos do plano Real enquanto escrevo este livro, o Brasil ainda sofre com uma inflação muito superior a de países com maior estabilidade econômica. Como exemplo, comparemos o principal índice de inflação dos Estados Unidos da América (CPI) e do Brasil (IPCA) de julho/1994 (início do plano Real) a junho de 2018:


Enquanto nos Estados Unidos, a inflação acumulada nesse período foi de 69,04%, no Brasil ela foi de incríveis 450,74%. Isso significa que, se em julho/1994 um quilo de carne custava R$ 10,00 no Brasil e US$ 10,00 nos EUA, em junho/2018 o mesmo quilo de carne custava R$ 45,07 no Brasil e US$ 16,90.

Isso também significa que, se em 1994 você precisava de R$ 2.200,00 para viver mensalmente no Brasil, em 2018 você precisaria de R$ 12.116,28 para manter o mesmo padrão de vida, isto é, em 24 anos o custo de vida aumentou 5,5074 vezes!

Pra um FIRE aposentado com 40 anos com uma TSR mensal de R$15.000,00 (seguindo a regra dos 4%), por exemplo, seguindo o histórico de inflação desde o plano real, aos 88 anos teria de ter uma renda mensal de R$ 82.611,00 para manter o mesmo poder de compra do início da aposentadoria!!!

Quanto maior o tempo de aposentadoria e a expectativa de vida, mais conservador tem de ser o FIRE pra não correr o risco de, no final da vida, quando possuirá mais despesas médicas e menos força de trabalho, ficar sem capital.

Olho na inflação!

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Chocolate

 

No último sábado estava num mercadinho de bairro comprando algumas poucas coisas frescas (que não seriam possíveis comprar online) e, terminando de passar os itens no caixa, observei um menino por volta dos 12 anos feliz pegando uma barra de chocolate e perguntando pra caixa ao lado quanto custava. Com a resposta (“cinco reais”), ele desanimou e passou só o pacote de pão que tinha na mão.


Terminei de passar minhas compras, peguei e paguei a barra e, em seguida, alcancei o garoto na porta do mercado e lhe entreguei o chocolate, falando “é pra você”. Ele simplesmente não entendeu. De início, ficou desconfiado e não queria aceitar. Repeti: “eu comprei pra você, vi que você queria”. Ele continuou suspeito, mas, após olhar a caixa que lhe fez um gesto de aprovação, pegou o chocolate da minha mão e saiu saltitando. Dois segundos depois, voltou para me agradecer e saiu correndo de novo. Em mais dois segundos, voltou dizendo “depois eu vou te dar o dinheiro”, quando reiterei que era um presente e não queria de volta.


A surpresa do garoto com um ato de gentileza que não achei nada de demais me deixou um pouco pensativo.


Três dias depois, eu estava passeando com meus cachorros nas proximidades do mercadinho e, eis que sai de uma casa o mesmo garoto. Surpreso ao me ver, me deu boa tarde e saiu correndo de volta pra casa gritando “Mããããe, preciso de 5 reais pra pagar o moço!”. A mãe saiu pela porta de casa também e me perguntou “Foi você quem emprestou 5 reais pra ele?”, quando disse que “Não, eu só dei um chocolate pra ele, não quero nada de volta!!!”. Pela milésima vez, o menino agradeceu, além de a mãe também ter agradecido, aparentemente incrédula com um ato tão simples.


Não posso dizer que sou filantropo, apesar de fazer doações mensais em dinheiro a instituições que acredito, além de algumas doações esporádicas de itens que não uso mais em casa ou mesmo quando chega um pedido de ajuda. Com alguma frequência pago alguma coisa pra alguém que vejo que precisa, mesmo que seja apenas para alegrar seu dia (independentemente de ser uma necessidade financeira), todavia, fiquei instigado com a atitude do garoto dessa semana.


Tenho a impressão que o menino nunca havia recebido na vida uma gentileza de um desconhecido e, pelo olhar que me deu em nosso breve reencontro (fiquei até surpreso de ele me reconhecer tão rapidamente, já que eu estava com roupas e máscara bem diferentes), ficou nítido que um simples chocolate o ensinou que a vida não é só uma troca de favores.


Fico feliz que a maioria da comunidade FIRE possui senso colaborativo, disseminando conhecimento de forma gratuita e ajudando muitos “meninos” a, futuramente, comprarem chocolates.


Abraço

sábado, 5 de setembro de 2020

O Trainee

 

Você já tomou alguma decisão que mudaria sua vida para sempre?


O ano era 2007 e eu me formaria no final do ano. Trabalhando já como celetista no mundo corporativo (consegui efetivação no estágio), ainda acreditava que o “caminho natural” era ter um emprego, ser promovido e aposentar após algumas décadas.


Apesar de trabalhar numa empresa atuante em todo o Brasil, ela não tinha um plano de carreira bem definido e, após 2 promoções, o horizonte seria crescer mais só se alguém se aposentasse ou fosse demitido. Assim, pelo menos na época, a grande menina dos olhos do mundo corporativo era ingressar em um programa de trainee, pois muitas grandes empresas contratavam seus futuros executivos através deles (havendo intervalo somente entre 1 ano antes de formar e até 2 anos de formado para a maioria dos programas). Sempre desejei ter meu próprio negócio e sabia que, assim, poderia ter ganhos ilimitados, porém as políticas de remuneração e crescimento de carreira dos programas de trainee eram sedutoras para um jovem adulto que buscava independência.


Inscrevi-me em alguns programas e, após provas, dinâmicas de grupo e entrevistas, passei no programa da detentora das marcas Brastemp e Consul. Sempre soube que a vaga concorrida era para São Paulo, que não era minha cidade natal ou de residência, mas havia viabilidade de deslocamento por ônibus ou avião sempre que quisesse visitar família e amigos. Praticamente com tudo acertado, recebi uma ligação que dizia: “Veja, estamos transferindo o departamento que você será alocado para Joinville e você irá trabalhar lá”.


A notícia me impactou. Se, por um lado, eu iria ganhar 3x o salário que tinha mais benefícios, mais independência e um plano de carreira, por outro, estaria distante de tudo e todos, numa cidade com dificuldade de acesso bem maior que alguma capital e dificuldade de recolocação no mercado se algo desse errado. Ir para tão longe também faria eu renunciar a projetos paralelos que tinha em mente e, possivelmente, terminar o relacionamento que tinha na época.


Resumo do fim da história: conversei com minha chefe, ela me deu um aumento (no mesmo cargo), três meses depois fui promovido, 6 meses depois pedi demissão para trabalhar em outro local, fui demitido após 3 meses no novo local e, em seguida, 6 meses depois de formado, estava trabalhando por conta própria, o que segue até a presente data.


Às vezes penso: e se eu tivesse aceitado a vaga em Joinville? Talvez hoje eu fosse gerente de alguma área, talvez tivesse um baita salário fixo mais benefícios, talvez tivesse casado com uma bela sulista e teria tido uma vida muito mais pacata do que numa capital, talvez eu tivesse sido transferido pra São Paulo pouco após, talvez o crescimento na empresa pudesse me catapultar a voos mais altos no mundo corporativo. Fatalmente minha vida teria sido totalmente diferente e, provavelmente, hoje eu não pudesse declarar FIRE ou sequer teria mentalidade para desejar isso.


Penso na questão sem arrependimento, pois acho que tomei a melhor decisão. Não foi uma decisão do tipo “se eu não tivesse me atrasado, não teria encontrado a mulher da minha vida”; era um evento certo e determinado que só cabia a meu ser racional decidir. Não havia certo ou errado racionalmente, então segui o coração.


E você, leitor, já tomou alguma decisão que poderia ter mudado o rumo da sua vida? Conte sua história nos comentários.


Abraços