sábado, 29 de agosto de 2020

Problemas

 

Todo mundo tem problemas. Li recentemente em algum lugar que existem dois tipos de problema: os resolvidos com dinheiro e os que o dinheiro não resolve.


Há quem diga que pobre não sofre depressão, não se preocupa com questões existenciais, dentre outros, que é frescura de rico. Não bastasse ser uma falácia, de fato é muito mais difícil pensar no sentido da vida quando não se sabe se haverá comida na mesa na semana seguinte, como irá pagar os boletos que estão pra vencer, se haverá grana para pagar o aluguel, se será possível costurar a mesma camisa velha pela quarta vez…


Enfim, há problemas maiores que outros, porém qualquer um é suficiente para tirar um pouco a paz de espírito. E 2020 veio pra tentar tirar a minha.


Após passar um gostoso carnaval em família, celebrar a cura de um câncer em minha querida avó, fazer uma excelente viagem para Bonito e mudar de casa, abandonando uma mansão extremamente trabalhosa de manter em prol de um apartamento bastante pacato (vide https://www.aposentecedo.com/2020/06/maximalismo-da-quitinete-mansao.html), veio a quarentena. Em que pese apreciar muito fazer passeios naturais e comer em restaurantes, a quarentena em si não era um grande problema, já que adoto o home office em tempo integral há cerca de 6 anos e a tempo parcial há mais de 10 anos.


Estava eu feliz em minha jornada e já vendo a linha de chegada da aposentadoria antecipada. Com a crise econômica do COVID-19 veio o combo perfeito para me fazer descer de onde estava: queda nominal do patrimônio + queda dos juros de renda fixa + queda dos rendimentos de investimentos + queda da renda ativa + disparada do câmbio. O cenário perfeito para frustrar todos os planos que teriam início em 2021.


Por algumas semanas, talvez meses, fiquei num local sombrio, tomando longos banhos e refletindo como tudo poderia estar dando errado. Além do desânimo, qualquer intempérie era motivo de alta irritação. Ao final de julho encerrei o estabelecimento que tinha, tornando meu trabalho ativo exclusivamente virtual, rediscuti uma sociedade que tinha e acabei com responsabilidades trabalhistas, locatícias, dentre muitas outras. Foi uma bela guinada, somada à melhora da conjuntura econômica, para que o céu voltasse a abrir.


Pouco após, porém faleceu a avó da Sra. AC. Apesar da avançada idade, era muito querida e a Sra. AC ficou bastante abalada por algumas semanas.


O pai da Sra. AC também teve uma complicação nos rins e foi submetido a cirurgia (agora passa bem!).


Meu padastro ficou desempregado logo antes da quarentena e não há nem previsão de conseguir uma recolocação. Ainda falta uma década pra ele conseguir se aposentar pela via tradicional e nem de longe conseguiria aposentar via IF.


Minha irmã, apenas 3 anos mais velha que eu, lutava contra um súbito problema no cérebro (surgido em abril) e, apesar dos tratamentos que a deixam adormecida ou dopada 14h por dia, terá que realizar uma cirurgia nesta área tão delicada. Não bastasse o transtorno por si só, nossa mãe, que já é a responsável por sustentar a própria casa em todos os aspectos possíveis, assumiu o papel de babá da filha da minha irmã, que tem menos de 1 ano, e cozinheira em tempo integral da casa dela, já que meu cunhado precisa trabalhar praticamente por dois, considerando que a emenda da licença-maternidade com licença médica por tempo indeterminado de minha irmã provavelmente acarretará no seu desligamento da empresa quando voltar (além da queda da remuneração no período de licença, dado o limite do INSS).


Minha avó curada do câncer no início do ano, descobriu tumores em outra parte do corpo e reiniciou o sacrificante tratamento.


Mesmo com tudo isso acontecendo, continuava buscando o autodesenvolvimento e procurando motivos para sorrir, ao invés de fatos para lamentar. Venci o auto desafio de falar e pensar menos em dinheiro e vinha, junto com a Sra. AC, aplicando uma bela rotina, tornando nossos dias cada vez melhores.



Agora mamãe também descobriu um câncer e terá que realizar cirurgia e tratamento. O pilar da família começou a ruir e precisa de reparos.


Nessas horas, TSR, FIRE, DY, B3, ETF ou qualquer outra sopa de letrinha não faz a menor diferença na vida. Alguns problemas não são resolvidos apenas jogando dinheiro em cima.


Quem me conhece sabe que não sou de reclamar e é difícil transformar um problema em tema central da vida.


Não sei como será o futuro próximo após o término do tratamento de mamãe, vovó e irmã. Não sei o quanto poderão precisar de suporte emocional, presencial ou financeiro. Em paralelo, pensando na família que eu criei, dá vontade até de acelerar os planos pós-Fire, já que amanhã o problema pode ser comigo, com a Sra. AC ou com o ACzinho. Ao mesmo tempo, a quarentena não permite acelerar plano nenhum, quiçá manter o cronograma pensado há tempos, diante de fronteiras fechadas.


Não sei, sei lá. Só vivendo um dia após o outro. Vou tentar manter a cabeça em pé, a chama dos olhos acesa e o coração aberto para o que o destino que eu não posso criar me traga.


Abraços e saúde a todos.


PS: peço desculpas aos amigos da finansfera, pois não tenho conseguido acompanhar muitos em razão de reflexões sobre outros assuntos da vida que venho priorizando. Mesmo que meu comentário não esteja no seu post, tenha certeza que nunca deixarei de torcer pelo seu sucesso e agradecer por gastar seu tempo compartilhando conhecimento gratuito e de qualidade.

17 comentários:

  1. Em primeiro lugar, desejo melhoras à família.
    Tem coisas para as quais não encontramos muitas explicações ou sequer encontramos uma. Tem pessoas tem uma rotina que pode ser considerada saudável (não tem vícios, alimentação relativamente equilibrada, estão no peso, praticam alguma atividade física ainda que moderada) e quando menos se espera aparece um problema desses.
    Complicado... No caso do Câncer há quem diga que o fator emocional pesa bastante, independente disso a área emocional/psicológica merece atenção especial.

    As questões relacionadas à dinheiro são apenas um dos setores da vida, sabendo encarar dessa forma acho que está tudo OK. Trabalho a mesma coisa.
    Porém dentro do que o dinheiro pode pagar, uma certa quantia acumulada pode ser importante no tratamento de uma doença.
    Mas o dinheiro não deve ser o único sentido da vida.

    Acredito que a melhor maneira de passar por isso é procurar viver um dia de cada vez, ir resolvendo o que é possível e mais urgente e os objetivos secundário ficam pra depois.
    Creio que até o início de 2021 estaremos numa situação melhor no que diz respeito a Pandemia e isso certamente influenciará positivamente na vida de boa parte das pessoas.

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    1. Anon, é verdade, ter dinheiro faz uma boa diferença para termos conforto e sabermos que, se necessário, poderemos fazer um tratamento alternativo que o plano de saúde não custeie.

      Em alguns poucos dias todos da família já estão mais tranquilos e vivendo um dia por vez, mantendo a rotina para evitar só pensar nas coisas ruins da vida.

      Abraço

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  2. boa sorte
    já passei por desgraças semelhante em parte, mas nunca tudo isso junto ao mesmo tempo
    esse livro/documentário ampliou minha visão (talvez ajude): poder do mito - joseph campbell

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    1. Obrigado, Scant!

      Sua dica foi valiosa e estou no terceiro episódio do documentário. Fiquei um bom tempo ruminando a reflexão dele sobre o que é a eternindade.

      Abraço

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    2. se gostou dele, tem mais:
      https://b-ok.lat/s/joseph%20campbell/?language=portuguese

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  3. Caramba AC, que pesado.

    Essa situação é realmente muito dificil e te desejo forças para seus familiares passarem por ela e pra você também pra conseguir apoiar e dar suporte pra eles.

    De fato dinheiro não resolve tudo, na verdade, esse exemplo que você deu do pobre é algo muito verdadeiro, qnt mais dinheiro se tem mais "coisas" que o dinheiro não compra se acha. Mas sem dúvida ter uma reserva pra trazer tranquilidade ou até pra pagar um tratamento desesperado é muito confortante, como diz aquele velho debate, dinheiro não traz felicidade mas "manda buscar".

    Minha dica pra você nesse momento é viver cada dia de uma vez, ser cada vez mais presente e aproveitar mais, como você já esta fazendo, se desligar um poucos desses planos futuros pois o futuro a gente só planeja, nunca sai como determinado, é bom planejar, mas é melhor viver mais e planejar menos.

    Força amigo!

    Abçs

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    1. Obrigado, Thiago!

      É exatamente o que você falou: ter uma grana faz diferença sim, mas nesses momentos a gente vê que não é o essencial.

      Estamos vivendo uma hora por ver e, se Deus quiser, tudo dará certo.

      Obrigadão e abraço!

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  4. Mano, realmente é muito difícil lidar com problemas que, em grande parte não podemos fazer muita coisa, apenas acreditar na melhora e ter fé. Neste sentido ter uma boa saúde mental e apoio de familiares e amigos é fundamental.
    Acho que é muito positivo compartilhar seus problemas no blog e, de certa forma, desabafar um pouco.
    Desejo melhoras a sua família.
    Abraço!

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    1. Obrigado, meu amigo. Esse post me ajudou muito em poucos dias, realmente valeu a pena o desabafo e o apoio de todos.

      Abração

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  5. Oi AC, li seu post ontem, fiquei pensativa com as coisas que estão acontecendo com sua família. A vida realmente é algo muito frágil e percebemos isso com mais intensidade quando essas coisas acontecem com a gente ou com alguém muito querido. O que posso dizer é que nessas horas, o que nos une é o amor, é a coisa mais importante que nós temos, e vocês têm isso de sobra. Torço para que vocês consigam enfrentar este período difícil com muita união e amor.

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    1. Olá Yuka! Obrigado pelo carinho. A situação não é nada fácil, mas estamos unidos e torcendo pelo melhor. Hoje já tenho confirmação que ainda esse mês vovó, mamãe e irmã vão fazer suas respectivas cirurgias, daí é torcermos pela recuperação mais rápida possível e ausência de sequelas.
      Beijo

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  6. Olá, AC! Mesmo virtualmente fico muito tocado com a situação... e do fundo do meu coração te mando forças para atravessar tudo isso. Muita força mesmo, saúde a todos e muita união, para que vocês consigam passar por esses momentos difíceis...

    Uma dica é buscar as raízes de sua espiritualidade interior, sempre há um pouco mais para se extrair de sua fé, independente de qual seja... Assim, poderá se encontrar e ajudar os entes queridos ao seu redor.

    Muito amor no coração de todos vocÊs, logo tudo irá passar!

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    1. Fico muito agradecido pelas palavras, One. É isso que venho buscando e tentando passar pra família toda. Sempre há um pouco mais de amor e fé para extrairmos, como você disse.
      Abração

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  7. Oi AC.

    Desejo os melhores votos para que sua família se estabeleça. Tenho passado por uma situação parecida na família e o baque inicial é duríssimo, mas traz uma reflexão importante na outra ponta: a vida é curta e precisamos aproveitar as pessoas que amamos convivendo, desfrutando os momentos e aproveitando o máximo possível com sabedoria e intensidade.

    Essa maldita doença serve ao menos pra isso: pra gente perceber que as pessoas valem mais que as coisas e que longe de quem amamos ou no risco da falta, tudo perde um bocado do brilho.

    Que Deus ilumine a sua jornada e de sua família, e lhes dê uma vitória próxima, meu caro.

    Abs,
    Ceariba.

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    1. Você tem razão, Ceariba. Obriado pelas palavras e também desejo força para sua situação.
      Grande abraço

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  8. Força AC !! Vcs vão sair desse enrosco de algum jeito. Cuida da cabeça, vai dar uma caminhada, ler, ouvir musica, sei lá. Abs

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    1. Obrigado, Vagabundo! Já estou bem mais conformado e tentando manter a rotina de antes, o que tem ajudado bastante.
      Abração

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