Esses três assuntos dominaram minha vida.
Dos 12 aos 19 anos eu só pensava em mulher. 24h. Prioridade absoluta, trocava qualquer atividade por uns beijinhos. Ter dinheiro, praticar esportes, trabalhar… tudo era encarado como um meio para ter mais e melhores mulheres.
Dos 20 aos 28 anos eu só pensava em trabalho. Não deixei de gostar de mulher, mas o trabalho inundou minha vida. Apesar de ter começado a trabalhar com 16 anos, até os 20 anos eu não pensava o dia inteiro em um plano de carreira, em empreender, em aprimorar minhas habilidades para que eu conseguisse ser cada vez mais produtivo e trabalhar mais. Dinheiro era uma consequência e trabalho era o meio.
A partir dos 29 anos, ainda pensando em mulher e trabalho, dinheiro passou a ser o foco e permanece sendo até hoje. Não há um dia sequer que não pense em dinheiro, na falta que ele poderá fazer (felizmente não faz e nunca fez a ponto de causar infelicidade eudaimônica), no quanto poderia ter mais, de que forma poderia fazer mais dinheiro, quais tipos de serviço diferenciado eu poderia prestar, que produtos poderia vender…
Na fase adolescente, qualquer companheiro de caça pode ser seu amigo. No início da fase adulta, repare bem que a maioria dos seus “amigos” passam a ser colegas de trabalho (“amigos” entre aspas não porque sejam falsos, mas porque se perde contato com quase a totalidade em uma mudança de empresa). Depois dos 30, seus amigos passam a ser aqueles que sobraram firmes e fortes das fases anteriores, fica cada vez mais difícil fazer novos amigos porque a maioria das pessoas a essa altura já saíram da casa dos pais, tem filhos, casaram ou simplesmente assumiram mais responsabilidades na vida.
Às vezes a mudança no foco do pensamento vem naturalmente, às vezes não. E, quando não vem, é hora de você agir para mudar.
Ainda penso muito em trabalho e mulher, mas o dinheiro predomina. Claro que minha cabeça é ocupada também por outras coisas: família, espiritualidade, amigos, saúde, lazer, aprendizados novos, viagens. Só que tudo começa a ficar “chato” depois de tanto tempo predominando na cabeça.
Não sou religioso, mas encaro o casamento como uma instituição, não somente um contrato social. Se optei pela monogamia, não faz sentido pensar em mulher o dia todo. Mesmo achando minha esposa muito atraente, não daria pra pensar só nela se o tema “mulher” predominasse na cabeça. Assim, faço um esforço voluntário e constante para evitar o assunto: não tenho redes sociais (especialmente Instagram), evito estar em locais que eu saiba que piriguetes estarão circulando (ex: barzinho da moda, porta de boate), evito pornografia, evito falar com amigos solteiros sobre a vida social deles, evito falar com amigos casados sobre a vida extraoficial deles. Os estímulos visuais ou auditivos de histórias picantes só causam temporário e equivocado desejo de fazer algo errado. É como estar de dieta e ter um pote de Haagen Dazs na geladeira. Tem que ser forte demais pra ir contra o impulso e, se perder pra ele, provavelmente a história não acaba bem.
Com o trabalho é o mesmo: quanto mais você trabalha, mais seu chefe, colegas e clientes elogiam. Você então busca ser mais produtivo, o que significa fazer mais coisa em menos tempo, todavia, você não usa o tempo “livre” para outras coisas, apenas para conseguir trabalhar mais. Ter reconhecimento, ser promovido, empreender, crescer seu empreendimento, aprender novas atividades laborais… não é difícil entrar na espiral de acordar-trabalhar-dormir. Consegui sair dessa espiral a muito custo e ainda tenho recaídas, chegando a ter discussões domésticas porque “eu preciso trabalhar”, quando na verdade estou apenas antecipando assuntos adiáveis ou criando novos trabalhos que poderão render frutos ainda hipotéticos. Felizmente consigo vencer o impulso workaholic na maior parte das vezes.
Agora é hora da batalha contra o dinheiro. Depois de mulher e trabalho, o foco ficou no dinheiro. Inicialmente, o dinheiro para luxos (diferente de desperdícios) e viagens; depois o dinheiro pelo dinheiro, juntar mais e mais; depois o dinheiro como um meio, para um objetivo maior (aposentar cedo).
Sem perceber, um simples passeio começa a envolver cálculo do combustível, do restaurante, do preço de custo que o restaurante deve ter, do quanto de energia vital estou trocando por aquela atividade, do custo disso em dólar, do percentual que isso impactará no orçamento doméstico ao fechar o mês, nas milhas do cartão que irei acumular, no que irei fazer no próximo lazer para que seja de graça ou barato para compensar esse mais dispendioso…
A conversa com familiares e amigos em algum momento sempre chega no assunto dinheiro. Como ter menos posses e gastar menos, money hacks para programas de pontuação e de descontos, como ganhar mais, análises informais e superficiais do que o interlocutor está fazendo com a grana dele, o contrato de financiamento do imóvel, do carro que comprou, da roupa de marca que pagou o triplo do preço de uma sem grife, “como assim você não sabe o que é FII”, “Deus amado! Você nem conta em corretora tem”. Invariavelmente, alguém vai de tachar de milionário, ganancioso ou só chato mesmo.
Passo boa parte do tempo livre lendo blogs, vendo vídeos ou ouvindo podcasts sobre FIRE ou finanças. Abro a conta na(s) corretora(s) muito mais vezes que o necessário. Aguardo ansioso o dia 1 de cada mês para fazer o fechamento mensal de patrimônio. Estudo novas fórmulas para aumentar a renda passiva, diminuir o trabalho ativo, gerar novas fontes de renda.
Assim, dia após dia, só penso em dinheiro.
Vou lançar publicamente um desafio (já que dizem que um compromisso público tem mais chance de ser cumprido): ficarei 10 dias sem consumir nenhum conteúdo voltado a finanças ou universo FIRE. Comprometo-me também a não gastar mais de 10 minutos por dia no site da minha corretora. Fazer o aporte do dia (agora eu faço aportes diários, estratégia recentemente adotada) e fechar o site. Farei o maior esforço possível para não abordar o assunto “dinheiro/aposentadoria” com ninguém.
Dez dias podem parecer pouco, mas não me recordo a última vez que fiquei tanto tempo sem pensar em mufufa. Farei um brevíssimo diário durante o período.
O próximo post será o resultado dessa breve experiência, que pretendo repetir com prazos maiores. Quem sabe eu não repare mais no formato das nuvens, dê mais atenção a alguma casualidade que minha esposa comente, brinque com meu filho com maior imersão, sinta mais o cheiro das flores enquanto passeio com os cachorros (ao invés de ouvir podcast).
Todos nós sabemos que dinheiro é meio, não fim; que é mais importante saber ser feliz com menos do que se preocupar em ganhar mais e mais; que a corrida dos ratos pode ser vencida; que podemos sair da Matrix.
Será que nós, da comunidade FIRE, não estamos criando nossa própria matrix sem nos darmos conta?
Desafio
os leitores que façam algo semelhante e depois postem o resultado
nos comentários ou no próprio blog, caso tenham (mas não esqueçam
de avisar aqui pra eu saber!). Reconheçam o pensamento que mais habita suas cabeças e tentem nem pensar no assunto por alguns dias.
Abraços e ocupem suas mentes com VIDA.
"Será que nós, da comunidade FIRE, não estamos criando nossa própria matrix sem nos darmos conta?"
ResponderExcluirSim meu caro, muito provavelmente. Pelo oque você relatou, você entrou em outra Matrix. Fire é Bulshit na minha opinião, mas não vamos desvirtuar o post com esse outro assunto.
Enfim, acredito que pelo oque você relatou, que você fica fazendo conta, quanto é não sei oque em dólar, você está totalmente paranóico. E é isso que acontece, quando temos o "Mindset da miséria"
Acredito que não tem filosofia melhor para o cara que tem dinheiro, que a FILOSOFIA BASTTER.
Bastter, fala muito sobre isso aí que você disse. Que um dos segredos de ser rico, não é economizar e sim ganhar mais para poder desfrutar de tudo que a vida pode nos oferecer. Acho válido a pessoa não gastar mais do que ganha e quando está começando a vida, fazer sacrificios.
Mas depois de certo patamar, não tem o porque ficar anotando coisas, preocupado e etc. Isso é um hábito ruim, que prejudica seu Life Style e da sua familia.
No final de contas, oque importa é o caminho e não o destino. Hoje, eu sou um cara com um capital de 150k contando com meu carro. Ainda preciso fazer sacrificios para fazer meu pé de meia. Mass, ano após ano nessa caminhada, a tendência de melhora na qualidade de vida é nitída. Vou aumentando aos poucos meu custo de vida. Quero chegar em um patamar que se eu gastar 10k por mês, não vai me fazer diferença. Até porque, eu saberei como fazer dinheiro em qualquer situação.
Olá Peão, bom te ver por aqui.
ExcluirRealmente tem que estar bem convicto para uma aposentadoria antecipada. Vemos inumeros milionários e bilionários que trabalham até o fim da vida porque querem ou tem planos e ambições ainda maiores. Por enquanto, uma redução drástica no trabalho ou até total fazem sentido pra mim.
Essa preocupação com o dinheiro chega a ser um vício que estou tentando curar e, felizmente, acredito estar no caminho certo, pois venho evoluindo.
Tenha paciência, siga seus aportes e seus planos que com certeza eles se concretizarão.
Abraço
Mulher é a parte mais tranquila, abro o cardápio e escolho a prostituta que eu quiser. Tempo não perco indo atrás de namoro e casamento, elas já contam com vários babando elas.
ResponderExcluirSem filhos, fica ainda mais tranqüilo. Ainda tive sorte de não ter irmãos, que só serviriam pra incomodar.
Eu faço aportes e nem ligo mais pra notícias de finanças. Não faz sentido, o que importa é aportar.
Olá Anon
ExcluirFaz muito bem em nem ler notícias de finanças e só seguir seu plano de aporte.
Com relação à mulheres, a preocupação não é sobre conquista, mas sobre pensar nelas o dia todo. Creio que qualquer fixação seja mais maléfica que benéfica.
Abraço
Fala AC.
ResponderExcluirAcho que muto se discute sobre IF na finansfera (o que não é ruim) só que vejo como muitas dessas discussões sendo algo improdutivo e subjetivo.
Esse estilo de vida pró IF é uma matrix? Quase tudo pode ser encarado como uma matrix, cabe a cada pessoa se conhecer melhor e analisar onde quer chegar e qual preço está dispoto a pagar. Simples assim.
Pra alguns a caminhada rumo a IF aportando, investindo, planejando pode ser um verdadeiro martírio, pra outros não. E isso leva em conta a história e as caracterísiticas de cada pessoa, portanto não há como haver uma resposta igual pra todos.
Mas acredito que com relação a investimentos, quanto mais simples for a estratégia, quanto menos contas em bancos diferentes, menos serviços, menos movimentações, melhor.
Estou no momento focado em ações, fazendo swing trades, mas buscando fazer o menor número de negociações e com a maior eficiência possível, e ficar menos tempo exposto à conteúdos relacionados a finanças, pois ficar direto ligado nisso cansa até os mais pacientes.
Oi Anon,
ExcluirConcordo contigo, leio muitos e muitos artigos e comentários discutindo o "sexo dos anjos" da independência financeira. No fim, tudo se resume a aportar o máximo, gastar menos e buscar instrumentos financeiros pra viver da renda gerada pelos aportes + juros. Daí a reflexão se vale a pena ocupar nossa mente pensando 90% em dinheiro e formas de conquistar mais, já que o caminho tem um traçado simples (porém cheio de opções de rota).
Também já tive minha fase de daytrade e swing. Gosto bastante da estratégia de legado financeiro do Stormer e a utilizo quando estou com paciência para estudar o mercado.
Abraço
Fala AC, tudo bom mano?
ResponderExcluirExcelente reflexão, parecia que enquanto eu ia lendo seu relato eu ia refletindo ele na minha vida e fazendo comparações. Tive a fase de mulher, a fase de estudar muito, a fase do trabalho, mas percebi que a fase de dinheiro eu sempre tive, sempre foi algo constante na minha vida e é uma das mais latentes agora.
Eu já parei pra pensar se eu realmente penso muito em dinheiro e conclui que sim, sem dúvida. Faz parte do meu ser, da minha forma frugal, do jeito que me moldei e de como vejo as coisas, pra mudar isso vai demorar muito.
Porém, não quero mudar isso agora, ainda tenho muito estrada pela frente, mas vc, vc meu amigo já está quase na linha de chegada, acho um excelente exercício essa reflexão sua e espero pelo relato.
Ia perguntar por wpp ql é a desse racional do aporte diário, mas ia está te chamando pra falar sobre dinheiro, então deixo a pergunta aqui haha
Abçs
Fala Thiago!
ExcluirPois é, meu amigo, às vezes a gente pensa demais sobre poucas coisas! hehehe
Até mesmo ser frugal pensando na frugalidade - ao invés de só vive-la - não é algo tão sadio.
O racional do aporte diário é uma estratégia que adotei pra me forçar a não ficar procurando o "fundo". Mesmo fazendo aporte mensal eu acabava buscando um dia "bom" para comprar ativos e isso dá mais trabalho (e preocupação desnecessária) do que dividir esse aporte por 20 dias úteis e aportar o valor encontrado diariamente. Como, no momento, estou focado em aumentar a carteira de FIIs, a corretagem é zero, portanto, o custo não muda nada.
Abraço
Muito legal a reflexão AC.
ResponderExcluirMinha caminhada rumo à IF é bem recente, sei que ainda tenho muito chão pela frente mas me identifiquei com várias coisas que você disse. Entro várias vezes por dia em algum aplicativo sobre a bolsa para ver as cotações, olho as datas de pagamento de dividendos com frequência, busco se existem novos fatos relevantes emitidos, enfim..a questão financeira tem estado por um bom tempo do dia na minha cabeça, e o trabalho para mim tem sido basicamente o meio para que eu possa realizar os meus aportes, o que faz com que ele fique mais maçante do que já é naturalmente.
Seu texto me fez refletir sobre essas questões, espero poder tirar algo bom dessa reflexão.
Abraço.
https://engenheirotardio.blogspot.com
Engenheiro Tardio, se você desde já se educar pra se preocupar menos, certamente você aproveitará mais a jornada. Espero que minha reflexão tenha lhe ajudado.
ExcluirAbração
AC
ResponderExcluirConfesso que também sou bem paranoico com esse tipo de questão relativa ao dinheiro. Contudo, ao que me parece, seu caso parece estar bem distante do normal para esse tipo de coisa. O propósito da vida é viver em equilíbrio e, em suas palavras, o dinheiro deve ser tratado como um meio, não como um fim.
De qualquer forma esse período sabático pode contribuir para aliviar sua mente.
Conheci seu blog hoje e adicionei à blogroll.
Abraços!
https://diariodevalor.blogspot.com
Olá DV,
ResponderExcluirObrigado pela visita e já irei conhecer o seu blog também. Só esses últimos 10 dias já me ajudaram muito. Acho que venho encontrando meu caminho para maior paz.
Abraços
Grande AC, ótima reflexão, e adianto, já fui muito assim, 24 hrs na ativa, seja dinheiro, mulheres, malhar, aprender, familia, festas, tudo... simplesmente tudo! Mas nunca parava 1 segundo para pensar em mim, projetar minhas finanças, estar realmente presente numa situação e a executar de forma bem feita. Mas o futuro foi muito bom comigo e aprendi isso rápido, inclusive, minha namorada é psicóloga e me passa muito ensinamentos sobre, hoje sou mais centrado, sei dar força total no trabalho, mas tbm sei desligar totalmente! Enfim, reflexões de uma vida não é, vamos vivendo e ajustando as velas!
ResponderExcluirParabéns por mais este post. abs!
Legal, AC! Também namorei uma psicóloga por alguns anos e amadureci muito com ela, em que pese o relacionamento não ter ido adiante.
ExcluirParabéns pela capacidade em virar a chave quando necessário, essa é uma habilidade imporantíssima e difícil de adquirir.
Abraço
Também me pego pensando em dinheiro com uma frequência maior que a desejada. Apesar ter uma situação financeira estabilizada e possuir 2 fontes de renda, me preocupo com a sobrevivência do meu negócio (a outra fonte de renda não tem oscilação). A receita caiu cerca de 40% desde o início da COVID e embora tenha reduzido despesas que acabaram equivalendo-se às receitas e ainda possua caixa na PJ para manter cerca de 4 meses de despesa mesmo sem o ingresso de único centavo fico matutando se algum dia o lucro retornará a ponto de voltar com os aportes consideráveis que vinha fazendo na minha carteira. Tenho rédeas curtas com meu custo de vida o que possibilita seguir fazendo aportes menores, mas a rentabilidade baixa da renda fixa e as grandes oscilações da renda variável tiraram um pouco da graça do jogo. Cheguei a 50% do meu objetivo com a independência financeira (não devo mencionar FIRE pois tenho 50 anos e devo aposentar entre 62 e 65 anos). Enfim, procurar focar em formas de recuperar o negócio, embora o ramo de atuação já vinha sendo massacrado com tamanha concorrência antes da COVID.
ResponderExcluirAnon, realmente a COVID deu uma pancada em muita gente e, quem já era preocupado com dinheiro (mesmo que não fosse pela falta, mas por um objetivo, como sua aposentadoria), ficou ainda mais pensativo durante o início da pandemia.
ExcluirSó temos as opções de virarmos torcedores do destino, nos conformarmos ou nos reinventarmos. Torço para que você tenha sucesso da última opção e consiga acelerar sua meta.
Abraço