Como os mais atentos já notaram, sou pai de família e tenho dois dependentes (esposa e filho). Esse é um ponto de grande receio no meu planejamento após aposentadoria precoce. Se ainda fosse solteiro, certamente já estaria independente financeiramente e já poderia estar aposentado há mais de um ano.
Há muitos anos não sou empregado. Montei dois negócios (atividades diferentes), dos quais hoje tenho sócios, porém passei a maior parte da vida profissional atuando sozinho. Meu planejamento sempre foi sair dos negócios “vendendo” minha parte da sociedade para os demais sócios não em valor financeiro imediato (buy out), mas sim ficando com uma pequena participação vitalícia nos lucros dos negócios, sem ter responsabilidade sobre os mesmos. Seria uma forma de retribuir todos os meus esforços na criação e desenvolvimento das empresas (o que é reconhecido pelos meus sócios ).
Dois grandes problemas surgiram com a crise do Covid-19: um deles foi que o meu único sócio no empreendimento mais antigo mostrou-se sem qualquer proatividade em buscar melhorias na empresa no primeiro momento desfavorável que passamos. Isso me deixou extremamente receoso de passar o leme para ele conduzir o barco sozinho, uma vez que eu aposentasse. Outra questão é que, não bastasse o baque financeiro gerado pela crise do covid - que ainda terá reflexo a curto e médio prazos - o câmbio tornou-se ainda mais desfavorável para o real brasileiro e a parte inicial (dois primeiros anos) da minha jornada após aposentadoria é integralmente fora do Brasil.
Todos os fatores acima (dependentes financeiros, câmbio desfavorável, patrimônio menor do que o esperado a esta altura) me fizeram chegar à conclusão de que viver exclusivamente de renda passiva, apesar de possível com o que já acumulei, seria extremamente arriscado e me causaria limitações psicológicas e financeiras que prejudicariam mais o meu cotidiano do que eventual estresse causado por um trabalho parcial.
Diante de todos esses cenários, após muita reflexão, descobri que a melhor equação será eu me tornar um misto de Coast Fire e Barista Fire, ou seja, apesar de estar financeiramente independente, continuarei trabalhando a tempo parcial em ambos os meus negócios, gerando renda ativa, porém limitando drasticamente minhas horas de trabalho (pretendo que sejam no máximo 20 horas por semana). Com essa renda ativa, mesmo inferior à atual, conseguirei pagar pelo menos 60% das minhas despesas após aposentadoria, podendo até ultrapassar os 100% em determinados meses e até mesmo conseguir realizar novos aportes com a renda ativa, na medida em que ambos os negócios possuem faturamento altamente variável.
Assim, basicamente meu plano será viver primariamente da renda ativa de um trabalho que passará a ser menos presente no meu cotidiano e, em segundo plano, utilizarei a renda passiva dos investimentos para cobertura de minhas despesas. Evidente que, à medida que o patrimônio e a renda passiva se tornem excedentes o suficiente para me darem conforto e segurança de pagamento de todo o orçamento doméstico, irei reduzindo o trabalho ativo até sua supressão total.
Vale lembrar que, diferentemente de grande parte da comunidade Fire, eu não odeio meus trabalhos, mesmo havendo regulares aborrecimentos em ambos, que são compensados com a remuneração.
O mais curioso é que, escrevendo este artigo, percebi que hoje já posso me considerar Fire, pois desde meados de março, por causa do covid-19, consegui diminuir drasticamente minha jornada de trabalho, beirado 20 a 30 horas semanais em horários flexíveis e com a liberdade workaholic ser mais forte do que eu e dificilmente permitir mais de um dia útil sem ligar o computador).
Na última semana comecei minha ressocialização após uma quarentena bastante estrita até então e, daqui para frente, será o teste de fogo para saber se de fato já posso me considerar um Fire, o que, no meu sentimento, significa não deixar de fazer absolutamente nada do que gostaria por causa de trabalho (RE) e de falta de dinheiro (FI).
Sei que muitos podem criticar dizendo que isso tudo que escrevi não é ser Fire, que eu não sou Fire porque vou continuar trabalhando (mesmo a tempo parcial), blá, blá, blá. Podem pensar o que quiser. A meu favor, tenho a filosofia de vida aplicada, o pensamento consolidado livre das algemas de ouro e da corrida dos Ratos, e a independência financeira (que só não exercerei em sua plenitude desde já por todos os receios acima mencionados).
Abraço a todos e vivam suas vidas sem rótulos.
Parabéns AC!! Fire eh um estado de espírito na minha opinião rsss. Não adianta nada vc estar cheio de dinheiro e se remoendo de preocupação. Diminuir o ritmo de trabalho eh uma grande vitória e vai abrir espaço para novos projetos pessoais que estavam na gaveta. Isso eh Fire!! Aproveite a transição e sua nova vida! Abs!
ResponderExcluirObrigado, SS! Estou só trabalhando o psicológico mesmo, é difícil demais largar o osso, mas estou conseguindo aos poucos. Abraço
ExcluirMuito bom, o importante não é ter o rótulo de FIRE e sim estar seguro e confiante com sua vida ao todo, independente de como vc se adapte a isso.
ResponderExcluirSó vai, daqui a pouco vc se aposenta e nem vai perceber rsrs
Com certeza, Thiago! Essa confiança é o que estou buscando; ela é mais importante que qualquer rendimento.
ExcluirAbraço
“ não deixar de fazer absolutamente nada do que gostaria por causa de trabalho”, aqui tá a essência de ser FIRE, na minha concepção.
ResponderExcluirAbraço!
https://engenheirotardio.blogspot.com
É isso, Engenheiro Tardio. Você pegou o ponto chave do meu raciocínio. Trabalhar ou não trabalhar é o de menos, o relevante é não deixar de fazer nada por falta de tempo ou dinheiro. Isso, por si só, é liberdade total.
ExcluirAbraço
Quero ter renda passiva, porem não quero parar de trabalhar, pois o trabalho as vezes traz uma satisfação que o ócio não traz, a de conquista e criação de algo, mas também, como você disse não quero me matar de trabalhar, quero trabalhar pouco para poder curtir outras coisas da vida. Abraços.
ResponderExcluirDifícil é equalizar isso, MJ! Depende do tamanho da sua família, do quão dependente ela é de você (financeira e emocionalmente) e o que te move na vida.
ExcluirOutro dia li um artigo sobre pensamento reverso: ao invés de pensar sobre o que você gosta de fazer, pense no que você odeia NÃO fazer. Parece bobagem, mas só essa inversão de abordagem já facilita muito a encontrar o que lhe dá verdadeira satisfação.
Abraço
Olha, cara, parabéns por essa conquista ! Chegar lá e ir parando aos poucos é o ideal. Queria ter feito assim mas infelizmente nao pude. Vc pode ir vendo se daria pra tocar as empresas enquanto viaja. Tem o blogueiro Viver de Dividendos que toca seus negócios no Brasil a partir da Alemanha. É uma ideia. Mas enfim, parabéns e aproveite bem esse tempo que vc vai ganhar ! abs
ResponderExcluirObrigado, Vagabundo! Estou seguindo seus passos. Mesmo você tendo parado de uma vez, estou acompanhando seus posts narrando seu trabalho parcial ("job" não deixa de ser isso).
ExcluirEu já li e assisti bastante coisa do VDD, mas ele parece totalmente imerso no trabalho ainda e, apesar de produzir uma bela renda ativa, ainda não está perto da IF. Morar num lugar desejado e não ter, pelo menos, 6h por dia pra apreciá-lo, não faz sentido a meu ver (tá certo que segurança, serviços públicos, etc, são outro nível, mas o lazer é peça-chave nos meus planos).
Abração e seguirei atualizando minha jornada que está só iniciando uma nova fase.
O VDD ainda está na fase de acumulação. O negócio dele é trabalhar mesmo, lazer só fim de semana. Seguimos entao em contato, abs e feliz FIRE !
ExcluirSer FIRE e ter a pressão psicológica de que qualquer decisão ou cenário pode por tudo a perder é muito complicado e confesso que não tenho perfil.
ResponderExcluirAcredito que a solução do misto entre o trabalho e a aposentadoria antecipada seja o regime adequado, ainda que simplesmente jogar o trabalho para o alto seja tentador.
Abraços,
Pi.
E se vc passa a trabalhar 50%, receber 50%, e algo acontece ?... Vai pensar que teria sido melhor continuar 100%. Nao existem garantias nessa vida. O negócio é vc entender o risco, aceitá-lo, ficar confortavel com ele. Isso aí varia de pessoa pra pessoa.
ExcluirDepende, P.I. Pra um Lean Fire que vive frugal no limite, sem dúvidas. Pra um Fat Fire que tem gordura pra queimar e flexibilidade pra ajustar a vida, a pressão diminui.
ExcluirPressupondo a regra dos 4%, o Fire que juntou 1 milhão e vive feliz com R$ 3.300/mês está muito mais sujeito a riscos que o Fire que juntou 5 milhões e vive com R$ 16.600/mês. Apesar de a matemática ser a mesma, o Fat Fire consegue reduzir seu padrão de vida pra que siga tendo rendimentos acima da inflação; consegue diversificar melhor seu patrimônio, especialmente em ativos reais (como imóveis) ou ativos de menor liquidez e menor risco.
Se o cara que juntar 5 milhões (entendendor do universo Fire, ou seja, manja de finanças e trabalhou o psicológico do tema) perder tudo, imagine os 80% da população que não tem nem colchão de segurança, recebe menos de 3 salários mínimos e vive um contracheque após o outro?
Um cenário trágico sempre é possível, mas nossos recursos (conhecimento, financeiro) amortizarão as quedas.
Abraço
Vagabundo e Aposente Cedo, realmente são fatores que precisamos levar em conta.
ExcluirAbraço,
Pi.
Oi AC, parabéeeensss!!!! Reduzir a carga horária e ir parando aos poucos é uma ótima ideia, principalmente porque você não odeia o seu trabalho. Entendo a insegurança em relação a parte psicológica, também tenho isso, acho que quando a gente tem pessoas que dependem da gente, principalmente filhos ainda pequenos, sentimos a pressão e o peso da responsabilidade de que as coisas não podem dar errado. Beijos!!!
ResponderExcluirObrigado, Yuka! Só o tempo irá dizer se terá sido uma boa decisão, mas ir parando aos poucos me parece ser o caminho mesmo. Também tenho receio de não conseguir reduzir o trabalho tanto quanto gostaria, mas aí terei minha esposa pra tentar pressionar... hehehe
ExcluirBjs