Todo mundo tem problemas. Li recentemente em algum lugar que existem dois tipos de problema: os resolvidos com dinheiro e os que o dinheiro não resolve.
Há quem diga que pobre não sofre depressão, não se preocupa com questões existenciais, dentre outros, que é frescura de rico. Não bastasse ser uma falácia, de fato é muito mais difícil pensar no sentido da vida quando não se sabe se haverá comida na mesa na semana seguinte, como irá pagar os boletos que estão pra vencer, se haverá grana para pagar o aluguel, se será possível costurar a mesma camisa velha pela quarta vez…
Enfim, há problemas maiores que outros, porém qualquer um é suficiente para tirar um pouco a paz de espírito. E 2020 veio pra tentar tirar a minha.
Após passar um gostoso carnaval em família, celebrar a cura de um câncer em minha querida avó, fazer uma excelente viagem para Bonito e mudar de casa, abandonando uma mansão extremamente trabalhosa de manter em prol de um apartamento bastante pacato (vide https://www.aposentecedo.com/2020/06/maximalismo-da-quitinete-mansao.html), veio a quarentena. Em que pese apreciar muito fazer passeios naturais e comer em restaurantes, a quarentena em si não era um grande problema, já que adoto o home office em tempo integral há cerca de 6 anos e a tempo parcial há mais de 10 anos.
Estava eu feliz em minha jornada e já vendo a linha de chegada da aposentadoria antecipada. Com a crise econômica do COVID-19 veio o combo perfeito para me fazer descer de onde estava: queda nominal do patrimônio + queda dos juros de renda fixa + queda dos rendimentos de investimentos + queda da renda ativa + disparada do câmbio. O cenário perfeito para frustrar todos os planos que teriam início em 2021.
Por algumas semanas, talvez meses, fiquei num local sombrio, tomando longos banhos e refletindo como tudo poderia estar dando errado. Além do desânimo, qualquer intempérie era motivo de alta irritação. Ao final de julho encerrei o estabelecimento que tinha, tornando meu trabalho ativo exclusivamente virtual, rediscuti uma sociedade que tinha e acabei com responsabilidades trabalhistas, locatícias, dentre muitas outras. Foi uma bela guinada, somada à melhora da conjuntura econômica, para que o céu voltasse a abrir.
Pouco após, porém faleceu a avó da Sra. AC. Apesar da avançada idade, era muito querida e a Sra. AC ficou bastante abalada por algumas semanas.
O pai da Sra. AC também teve uma complicação nos rins e foi submetido a cirurgia (agora passa bem!).
Meu padastro ficou desempregado logo antes da quarentena e não há nem previsão de conseguir uma recolocação. Ainda falta uma década pra ele conseguir se aposentar pela via tradicional e nem de longe conseguiria aposentar via IF.
Minha irmã, apenas 3 anos mais velha que eu, lutava contra um súbito problema no cérebro (surgido em abril) e, apesar dos tratamentos que a deixam adormecida ou dopada 14h por dia, terá que realizar uma cirurgia nesta área tão delicada. Não bastasse o transtorno por si só, nossa mãe, que já é a responsável por sustentar a própria casa em todos os aspectos possíveis, assumiu o papel de babá da filha da minha irmã, que tem menos de 1 ano, e cozinheira em tempo integral da casa dela, já que meu cunhado precisa trabalhar praticamente por dois, considerando que a emenda da licença-maternidade com licença médica por tempo indeterminado de minha irmã provavelmente acarretará no seu desligamento da empresa quando voltar (além da queda da remuneração no período de licença, dado o limite do INSS).
Minha avó curada do câncer no início do ano, descobriu tumores em outra parte do corpo e reiniciou o sacrificante tratamento.
Mesmo com tudo isso acontecendo, continuava buscando o autodesenvolvimento e procurando motivos para sorrir, ao invés de fatos para lamentar. Venci o auto desafio de falar e pensar menos em dinheiro e vinha, junto com a Sra. AC, aplicando uma bela rotina, tornando nossos dias cada vez melhores.
Agora mamãe também descobriu um câncer e terá que realizar cirurgia e tratamento. O pilar da família começou a ruir e precisa de reparos.
Nessas horas, TSR, FIRE, DY, B3, ETF ou qualquer outra sopa de letrinha não faz a menor diferença na vida. Alguns problemas não são resolvidos apenas jogando dinheiro em cima.
Quem me conhece sabe que não sou de reclamar e é difícil transformar um problema em tema central da vida.
Não sei como será o futuro próximo após o término do tratamento de mamãe, vovó e irmã. Não sei o quanto poderão precisar de suporte emocional, presencial ou financeiro. Em paralelo, pensando na família que eu criei, dá vontade até de acelerar os planos pós-Fire, já que amanhã o problema pode ser comigo, com a Sra. AC ou com o ACzinho. Ao mesmo tempo, a quarentena não permite acelerar plano nenhum, quiçá manter o cronograma pensado há tempos, diante de fronteiras fechadas.
Não sei, sei lá. Só vivendo um dia após o outro. Vou tentar manter a cabeça em pé, a chama dos olhos acesa e o coração aberto para o que o destino que eu não posso criar me traga.
Abraços e saúde a todos.
PS: peço desculpas aos amigos da finansfera, pois não tenho conseguido acompanhar muitos em razão de reflexões sobre outros assuntos da vida que venho priorizando. Mesmo que meu comentário não esteja no seu post, tenha certeza que nunca deixarei de torcer pelo seu sucesso e agradecer por gastar seu tempo compartilhando conhecimento gratuito e de qualidade.