Sim, até pouco tempo eu pretendia usar a regra dos 4%, mas, como escreveu o Sapien Livre, o investidor é um solitário (https://sapienlivre.com/investir-em-acoes/), isto é, cada um tem que fazer sua própria análise.
Há anos sempre me guiei, neste tema de taxa de retirada segura (TSR) pelas inúmeras análises que há na finansfera (nacional e gringa), até que resolvi estudar o assunto por conta.
Vejo MUITOS Firees dizendo que tem 80, 90 ou mesmo 100% em renda variável e repetindo a velha piada que renda fixa é “perda fixa”. JL Collins (https://jlcollinsnh.com/), o avô do movimento FIRE global (o pai é o MMM, sem dúvidas), prega aos ventos que é só você comprar index funds (fundos de índice), aportar o máximo que puder e pronto, aplicar a regra dos 4% quando ela cobrir seus gastos.
Toda a comunidade FIRE que aplica a regra dos 4% se baseia nos estudos de Bengen e Trinity Study, os quais cada vez recebem mais críticas (leia o excelente e recente post do Fire suíco https://retireinprogress.com/fire-is-dead/), dentre elas o horizonte de apenas 30 anos do estudo e por ter levado em conta o mercado americano de ações e bonds.
Caro leitor, veja o site oficial da B3 (http://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/indices/indices-amplos/indice-ibovespa-ibovespa-estatisticas-historicas.htm) e tire suas conclusões. Como eu não tenho conhecimento técnico o bastante, como o AA40 costuma fazer em seus posts (vide o recente http://www.aposenteaos40.org/2020/04/qual-taxa-de-juros-IPCA-para-TSR-4.html), os dados a seguir serão minhas “contas de padeiro”:
O fechamento do IBOV em 1994 foi de R$ 4.353,92 (valor nominal será equivalente a pontos) ou US$ 5.134,35. O fechamento de abril/2020 foi de R$ 80.505,89 ou US$ 14.834,31.
O investidor que aportou US$ 5.134,35 em BOVA11 (a título de exemplo e desconsiderando taxa de administração e novos aportes) teria, mais de 25 anos depois, US$ 14.834,31. Imagine agora que ele tenha virado FIRE em 1994 e implementado e regra dos 4%, retirando US$ 205,37 ao ano (4% de US$ 5.134,35). Pegue a última coluna do site da B3 acima e some ou diminua também a variação em dólar do IBOV ano a ano. De jan/1995 a abr/2020, fazendo a retirada pela regra dos 4%, nosso amigo investidor estrangeiro que só tinha o ETF BOVA11 teria ido de US$ 5.134,35 para US$ 404,93, ou seja, irá falir até 2022 com mais 2 retiradas, caso o IBOV não fique positivo no período. Com IBOV em dólar, a regra dos 4% não funcionou. Nessa conta ainda desconsideramos a inflação do período.
Vamos agora esquecer o dólar e fazer outro exercício, já que você é tupiniquim e não quer viajar mundo afora. Em nova conta de padeiro: IBOV fechamento ano 1994 = R$ 4.353,92; IBOV fechamento abril/2020 = R$ 80.505,89. Resultado de 1.849,04% em 25 anos, média de 73,96% ao ano. O IPCA acumulado de jan/95 a abr/2020 foi de 424,56%, o que dá uma média de 17,47% ao ano. Fica evidente que a regra dos 4% funcionaria em reais desde o plano real.
Um dado curioso: “O IBGE produz e divulga o IPCA, sistematicamente, desde 1980. Entre 1980 e 1994, ano de implantação do Plano Real, o índice acumulado foi de 13.342.346 717.671,70%!” – Fonte: https://www.ibge.gov.br/explica/inflacao.php. Isso dá uma média anual de 953.024.765.547,98%. Como diria o Luciano Huck da minha adolescência (mais alguém tem lembrado da Feiticeira quando avista alguma beldade de máscara?), loucura, loucura, loucura!
A grande questão é que, para quem deseja morar no exterior, mesmo que por alguns anos, vimos que investindo em bolsa brasileira o Fire não conseguiria sustentar suas despesas em moeda forte aplicando a regra dos 4%. Seria necessária uma drástica redução da TSR (talvez para 2% ao ano), ou uma estratégia totalmente personalizada que envolvesse investimentos no exterior e/ou exposições a outros ativos muito mais arriscados do mercado financeiro (ex: derivativos) ou ativos diversos (bitcoins, imóveis, ouro...).
Sigo estudando e refletindo como irei operacionalizar minhas retiradas e criar meus escudos de proteção de patrimônio. A crise do COVID foi excelente para dar um choque de realidade e nos forçarmos a intensificar nosso empenho para o objetivo Fire.
Abraços
Oi AC, vc pode sempre usar IVVB11. Vejo o dólar para os brasileiros como os bonds para a carteira dos americanos. Eles têm correlação negativa com o mercado de ações, então ajudam a amortecer as quedas do mercado local. Normalmente quando o mercado loca cai o dólar sobe, então tenha um percentual alto do seu PL fora do país. Há varios títulos privado com aporte mínimo de 2000 dólares pagando uns 3 ou 4% ao ano. Comprando no barata voa consegue taxas de até 8% em nomes como Itaú, bndes, etc. abs!
ResponderExcluirQue titulos sao esses e onde encontro ?
ExcluirOlá, SS! Já tive o IVVB11 na carteira, mas tirei pra não dar overlap com os investimentos no exterior (que contém ETF do SP500 também). De fato é uma boa opção de diversificação por aqui.
ExcluirVagabundo, acho que a SS sugeriu comprar bonds corporativos no mercado americano. Realmente tá pra pegar um yield on cost de 7, 8 ou até 10% a.a. de empresas conhecidas por nós, mas nunca cheguei a adquiri-los.
Abraços aos dois.
Na sua corretora gringa deveria ter. A interactive brokers tem opção de renda fixa. O chato eh vc descobrir os títulos e o ticket mínimo. Vc tem q descobrir o ISIN que eh o indetificador unico de cada título e dai procurar as cotações dele na corretora. Abs
ExcluirExcelente post,
ResponderExcluirEu ainda acredito na regra dos 4% como uma boa referência para ser FIRE, no entanto, como vc descreveu. Criar estratégias pessoais de proteção são essenciais para qualquer pessoa candidata a esse tipo de ousadia, que nós, a contrario da sociedade, buscamos com coragem.
Abraço.
Obrigado, Sapien! Realmente não tem fórmula de bolo e acho que seguir a regra dos 4% à risca pode colocar o indivíduo num risco desnecessário.
ExcluirAbraço
Acho que nao serve nem pro expatriado nem pro residente. Cada um tem que ter sua planilha e ir brincando com os números. Somos um mar nunca antes navegado. Bons investimentos !
ResponderExcluirÉ isso aí, vamos navegando e remando forte! Abraços
ExcluirExcelente post! É isso que eu mais incentivo, pessoas irem atrás de conhecer de fato a informação e decidir por si só se segue ou não, parabéns!
ResponderExcluirAgora colocar minha opinião no meio, eu nunca gostei da regra dos 4% desde o momento que descobri ela, não precisava de muito conhecimento matemático pra ver que ela não funcionaria nem um pouco PARA MIM e logo perdi o interesse. Claro que tem muita aplicação para muitas pessoas, especialmente americanas, mas acho que regra meio falha e inválida pra nós brasileiros. Tem que consiga adotar, tem aqueles que se adapta e tem aqueles que criam as próprias regras e vão moldando de acordo com o tempo, eu sou do último grupo.
EI, bom te ver por aqui de novo, estou acompanhando e gostando muito do novo blog/projeto/canal. Sempre gosto de ressaltar que as pesquisas sejam de fontes oficiais ou o mais perto possível disso. Como fico triste de ver alguém opinar sobre a opinião de alguém, que teve por base outra opinião e que tinha uma premissa ou dado errado. No fim, tudo acaba se tornando uma disseminação de desinformação.
ExcluirAbraço
Olá, Aposentecedo!
ResponderExcluirParabéns pelo seu blog, acabei de descobrí-lo. E legal o domínio que escolheu, reflete bem os objetivos da comunidade toda!
Esta desvalorização do real dá tristeza mesmo às vezes, mas acho que investindo lá fora e recebendo proventos em dólar são formas que você pode lutar contra esta tendência. No mínimo, IVVB11 replicando S&P 500 em BRL é um quebra-galho.
Eu costumo "estimar a jornada" usando a SWR, mas para propósitos práticos, considero que minha aposentadoria será alimentada por proventos de ações e bolsa. Gosto de fazer desta forma de fazer o planejamento seguro e difícil, mas praticando uma idéia de quanto de fluxo de caixa eu tenho. E você?
Eu tenho um site de finanças pessoais também. Passa lá mais tarde.
Abraços e seguimos em frente!
Pinguim Investidor
https://pinguiminvestidor.com
Boa tarde, Pinguim! Vou passar pra conhecer seu site sim. A SWR é um bom norte, mas não deve ser usada à risca, no meu sentir. Eu quero chegar a ter pelo menos 35% do patrimônio no exterior, assim creio que ficarei mais seguro para viver lá fora.
ExcluirO IVVB11 é um bom quebra-galho mesmo, especialmente pra quem quer menos burocracia ou não tem grana suficiente pra diversificar no momento.
Abraço
O problema não é "ações no Brasil" de forma ampla, mas IBOV especificamente. Se você repetir o estudo para uma carteira aleatória de 40 ações, comprada em 1994 e carregada até hoje sem nenhuma modificação, vai encontrar retornos muito maiores.
ResponderExcluirNos EUA tem o mesmo problema, mas em escala diferente pois o S&P500 é melhor que o IBOV. Mas mesmo sendo melhor que o ibov, não captura corretamente a convexidade e assimetrias do mercado de ações. O wilshire 5000 equal weight é o índice que melhor captura isso e espanca o sp500 de longe, pra todos pares de dados de longo prazo. Mas não é ETFizável.
Anon, concordo que 40 ações aleatórias podem render mais que o índice, como também podem não render. O fato é que achar que conseguiríamos selecionar quais serão as "vencedoras" é uma pretensão complicada... o SP500 é um índice mais "autoclean" e acho que o pouco trabalho de só investir num ETF dele compensa o retorno menor, já que seu tempo livre poderá ser dedicado a gerar mais renda ativa.
Excluir