sexta-feira, 26 de junho de 2020

Entrevista AC – podcast Inglês Everywhere

Pra quem quer me conhecer um pouco mais, saber dos meus planos futuros e como eu enxergo o universo Fire, dei uma entrevista ao Podcast Inglês Everywhere (que eu já costumava ouvir pra aprimorar meu inglês), disponível a sua plataforma de streaming favorita e no site:

https://ingleseverywherepodcast.wordpress.com/

https://open.spotify.com/episode/2R6kC7NagJxY9qaQySGsnK?si=s_jwVIrPQ5WqiMXr0uI6zA

http://www.deezer.com/episode/184648362

A entrevista é em inglês e, como já disse nesse post (https://www.aposentecedo.com/2020/01/a-importancia-do-ingles-e-outros.html), é fundamental aprender outros idiomas para expandir seus horizontes, conhecimento e cultura. Quem é fluente, peço o favor de não repara nos deslizes de minha parte; estava nervoso e as respostas foram todas espontâneas. Não falava inglês em voz alta há mais de 4 anos, desde a última viagem pra país anglófono.

O apresentador do podcast é professor de inglês e membro da comunidade FIRE, juntando o útil com o agradável, caso você queira aprimorar seu inglês, tanto de forma geral, quanto específica para investimentos e finanças. Mande-me um e-mail para “nome deste blog @ gmail.com” (escreva “aposentecedo” antes do arroba) que passarei o contato dele (aulas online!).

Obs: não esqueci dos posts requisitados nos comentários das últimas postagens, como PJ para aluguéis, seguros e planejamento sucessório. Já estão prontos e serão oportunamente postados. Caso não utilize um app tipo Feedly, cadastre seu e-mail no formulário da página inicial para receber as atualizações de postagem.

Abraços

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Doar sem gastar

Doar sem gastar

 

Cashback integral de doações. Este é o post mais importante que escrevi até o momento, portanto, agradeço se puder compartilhar nos grupos de WhatsApp, e-mails, Facebook, em seu blog ou canal de Youtube (fique à vontade para copiar e colar, não faço questão de ter o crédito, mas de espalhar a corrente do bem).

 

Mensalmente faço pequenas doações em dinheiro para instituições que acredito e, semestralmente, faço doações de roupas e outros bens. Preciso confessar, porém, que os valores que doo são ínfimos diante da minha renda e patrimônio. Quanto mais me aproximo da aposentadoria precoce, mas chego à conclusão de que devo contribuir mais para a sociedade e com aqueles que mais necessitam. Como todo bom FIREe, procuro economizar onde for possível, assim como maximizar meus impostos, por isso venho pesquisando cada vez mais meios de realizar doações e fazer valer as possíveis deduções de impostos previstas na lei poderíamos entrar aqui numa longa discussão sobre a finalidade de uma doação esse o bem maior buscado pelo doador seria autossatisfação e não ajudar ao próximo, mas prefiro deixar isso para outro momento. Acredito que o que irei escrever a seguir Sirva como uma ótima introdução ao mundo da filantropia para aqueles que gostariam de fazer um bem ao próximo sem gastar absolutamente nenhum dinheiro, portanto peço a leitura atenta das questões a seguir:

 

O assunto que quero abordar está detalhado no link abaixo:

https://www.seudinheiro.com/2019/imposto-de-renda/doacoes-incentivadas-2019/

 

Resumindo, você pode, ao invés de simplesmente pagar o imposto de renda, utilizar parte do valor devido (até 6% caso você tenha feito a doação no ano fiscal anterior ou até 3% no mesmo ano, antes da declaração de IRPF) para doar para instituições devidamente cadastradas pelo governo. Isso também serve para quem tem imposto a RESTITUIR, pois o valor doado será acrescido /devolvido em sua restituição.

Desta forma, você estará fazendo doações a instituições que acredita sem gastar absolutamente nada, visto que você será restituído integralmente do valor doado através da diminuição do imposto que você pagaria de qualquer jeito ou aumentando sua restituição. Esta também é uma forma de saber exatamente para onde está indo o imposto sobre a tão suada renda que você produziu, diminuindo a velha reclamação de que você não sabe o que o governo faz com seu dinheiro. Você deve observar os limites de doação restituíveis no link mencionado acima e na legislação pertinente.

Então, caro leitor, caso você não tem ainda o hábito de fazer doações, este é um bom começo. Sugiro que você não se limite a realizar doações nas quais consiga cashback. Independentemente de qualquer retorno financeiro, procure ajudar aqueles que precisam e não tiveram a estrutura que você teve, seja para uma causa educativa, cultural, dos animais, da Criança, do idoso, ou do que você acreditar e simpatizar.

Um exemplo de instituição para doar, com um tutorial prático:

https://doepequenoprincipe.org.br/impostoderenda/faca-sua-doacao/

Outro link com tutorial prático para fazer a doação diretamente na declaração de IRPF (neste caso, limitado a 3%, já que você não fez no ano fiscal anterior):

https://economia.uol.com.br/imposto-de-renda/duvidas/ir-2019-como-doar-parte-imposto-para-causas-sociais-eca.htm

 

Tenho como meta pessoal, uma vez atingida a independência financeira (falta pouco!), fixar doações entre 10% e o limite de minha renda passiva, desde que não prejudique meu orçamento familiar programado. Nestas doações se incluem tanto as que poderei ter algum tipo de cashback, quanto as que não conseguirei ter, bem como doações diretamente a pessoas físicas, parte de minha família que mais necessite, amigos que possam estar precisando ou causas não regulamentadas. Lembre-se que toda iniciativa de valor começa pequena e a maioria daqueles que organizam um projeto social ou colaborativo inicia na informalidade, portanto, caso você conheça algum projeto nessa situação, não só colabore financeiramente, como também busque instruir, agora que você tem as informações acima, como torná-lo legal e apto a receber verbas do governo e aumentar o poder de arrecadação de doadores.

 

Você pode ter sim muitos méritos próprios para ter chegado à independência financeira e ter a possibilidade de se aposentar cedo, mas se lembre de que você nunca conseguiria isso sozinho. Tenho certeza que em algum momento da vida você contou com o apoio de familiares, amigos e estranhos. Às vezes um simples ato pode mudar a forma de ver o mundo e espero que esse post seja um desses atos em sua vida, ajudando você a se tornar uma pessoa ainda melhor e, indiretamente, ajudando todos aqueles que receberão suas doações daqui para frente.

Como a maioria dos brasileiros deixa para fazer a declaração de IRPF nos últimos dias de prazo, espalhe essa mensagem o quanto antes, já que estamos nas duas últimas semanas de prazo neste ano. Se souber de alguma instituição de confiança, não deixe de indicar nos comentários.

 

Não posso fazer todo o bem que o mundo precisa, mas o mundo precisa de todo o bem que eu possa fazer.” – Jana Stanfield

 

Abraço

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Offshore para investir no exterior

Investir no exterior é o tema do momento, com diversos canais no Youtube e blogs falando sobre o assunto. Como são muitos vieses a respeito, irei me limitar a uma breve análise de utilização de investimento por uma Offshore e faço isso não porque “dei um google”, mas porque SOU SÓCIO de uma offshore há alguns anos.

“Offshore” tem esse nome porque normalmente os países considerados paraísos fiscais (tax havens em inglês) são ilhas, ou seja, “fora do continente”. O termo “offshore”, no contexto de investimentos, se refere a uma EMPRESA offshore, isto é, uma empresa aberta em um paraíso fiscal.

Aqui no Brasil você pode abrir uma pessoa jurídica (PJ) para montar um negócio próprio ou também para investir. A título de exemplo, é vantajoso fiscalmente investir por PJ em aluguel de imóveis próprios – grosso modo, o imposto sobre o aluguel recebido é em torno de 11% para PJ, enquanto para PF pode chegar a 27,5%. Uma bela diferença que muitas vezes compensa os custos de abertura e manutenção da sociedade. Caso se interesse pelo tema, manifeste-se nos comentários que farei um post específico.

Da mesma forma, investir por PJ no exterior também tem suas vantagens, as quais irei listar a seguir, focando no investimento no mercado financeiro (há quem abra PJ para investir em imóveis físicos, exclusivamente para fins sucessórios ou, ainda, para fins ilícitos). Novamente, irei limitar as vantagens na área que tenho experiência e aplico (mercado financeiro):

1) Diferimento tributário: investindo como pessoa física, cada operação (ações, bonds, fundos) que você tem lucro (tanto na operação, quanto cambial, caso você venda a um preço de dólar maior do que o da compra), você é obrigado a pagar imposto quase de imediato, preenchendo programa Carnê-Leão, pagando DARF no Brasil e preenchendo programa de ganho de capital (GCAP). Se tiver prejuízo futuro em nova operação não poderá compensar do imposto pago na operação lucrativa.

Já investindo por PJ offshore, os lucros das operações ficam integralmente na empresa e você poderá reinvesti-los; o imposto só será pago quando você efetivamente utilizar o produto do lucro, ou seja, fazendo retirada da empresa para compras no exterior ou repatriando o dinheiro para o Brasil. No longo prazo, os juros compostos destes lucros têm um imenso impacto de rendimento.

Ativos situados nos EUA estão sujeitos à tributação de até 40 % de aquilo que superar USD 60.000 para não residentes, porém, tendo estruturas offshore, não se considera esta tributação porque não há transferência patrimonial em território americano.

 

2) Economia sucessória: recomenda-se que seus herdeiros obrigatórios (e quem você mais quiser que receba sua herança caso morra) sejam sócios da PJ e você inclua uma cláusula de Joint Tenancy With Rights of Survivorship (“JTWROS”). Assim, caso você faleça, não precisará fazer inventário de sua participação societária na offshore, tampouco pagar imposto de transmissão para que seus herdeiros recebam suas cotas sociais e, por consequência, os ativos/investimentos da sociedade que antes lhe pertenciam.

Agora é aquela hora que você pensa: “o Aposente Cedo tá falando bobagem, claro que tem que pagar imposto de sucessão – ITCMD ou ITD – aqui no Brasil, afinal, teus herdeiros estão recebendo um bem”. Aí é aquela hora que eu penso que você deveria consultor um profissional da área jurídica, como eu fiz, para chegar a uma conclusão que não seja a do Dr. Google.

Foi reconhecida repercussão geral no RExt 851.108/SP, pendente de julgamento pelo STF, em emblemático caso que uma brasileira herdou bens situados no exterior e o Estado de SP queria cobrar ITCMD, porém, a sábia herdeira procurou um bom advogado e conseguiu, até a 2ª instância, não pagar o imposto. Agora aguardamos o julgamento desse caso desde 2015 para que o STF decida – e essa decisão terá efeito para todos os casos após esse – se é cabível ou não a cobrança de ITCMD sobre bens situados no exterior. Até o julgamento, portanto, seus herdeiros poderão ingressar com uma medida judicial para não pagar o imposto.

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As desvantagens de ter uma PJ offshore para investimentos se limitam, na minha visão, aos custos e à insegurança. Há poucas empresas na internet, com interface em português, que apresentam o serviço prestado de forma clara e objetiva. Além disso, muitos ficam inseguros em aplicar uma parte significativa do patrimônio por uma offshore sediada num país que você nunca foi nem tem facilidade de ir (Ilhas Virgens Britânicas, Bahamas, Ilhas Cayman, Luxemburgo, Ilhas Seychelles, dentre outros) e ter medo de ter que saber legislações locais para não perder o investimento.

Hoje tenho bastante confiança na operação da estrutura, pois consegui contar com a assessoria de um escritório com sócios brasileiros, com material explicativo e resolução de dúvidas pontuais em português, além de custos de abertura e manutenção muito menores do que uma pesquisa de Google indica e a maioria dos influencers por aí divulgam (paguei USD 2.500 para abrir e pago USD 1500 por ano para manutenção). Nos valores que pago não estão incluídos os serviços de balanço patrimonial (que só é recomendável, e não obrigatório - e eu não faço) e de elaboração da DCBE junto ao Banco Central (que faço por conta própria, pois é bastante simples), porém todo e qualquer serviço pode ser contratado à parte com o próprio escritório que mantém a offshore ou outro prestador.

Com esses valores, minha linha de raciocínio fora de que, com um investimento a partir de USD 100.000, já seria bastante válido constituir a offshore, visto que reputo realista um rendimento de 7% ao ano no mercado americano (7% x 100.000 = USD 7.000; subtrai-se o custo anual de manutenção – saldo de US 5.500; ano a ano, com novos aportes e crescimento do patrimônio, fica cada vez mais compensatório ter a offshore).

Apertado resumo da operação completa:

1- assinar contrato/proposta com o escritório que fará a abertura da offshore, preencher os formulários e enviar a documentação necessária;

2- em menos de uma semana sua empresa estará aberta no país escolhido (Bahamas, BVI, etc) e você receberá seu certificado de empresa, certificado de ações e contrato social (ou equivalentes no país sede);

3- você poderá abrir conta em banco ou corretora no país que desejar investir (90% das pessoas fazem isso para investir nos EUA) de posse da documentação da empresa;

4- fazer remessa de câmbio da sua conta PF aqui no Brasil para a conta aberta da offshore no banco/corretora que você escolheu;

5- investir pela corretora nos ativos que quiser, igual você faz em sua corretora aqui no Brasil; 

6- sempre que fizer um novo aporte, solicitar ao escritório que presta assessoria para elaborar uma ata de aumento de capital social, até por ser obrigatória para o câmbio e comprovar a origem lícita do dinheiro;

7- fazer anualmente a DCBE (não leva 5 minutos depois que você aprende a fazer);

8- declarar no seu IRPF em “bens e direitos” o valor de suas cotas societárias pelo valor do câmbio do dia da remessa (valor de venda no site do BACEN) e não atualizar esse valor nunca, mesmo que gere rendimentos, até que você utilize o dinheiro;

9 – elaborar balanço da empresa (opcional, mas recomendável para fiscalizações futuras).


Caso queira indicação do escritório que utilizei para abertura e utilizo para manutenção da offshore, mande e-mail para aposentecedo@gmail.com que passarei o contato.


Felizmente há um crescente movimento internacional para evitar lavagem de dinheiro e evasão de divisas, diminuindo a possibilidade de sócios ocultos em empresas offshore e o cometimento de crimes fiscais. A população em geral sempre associa a palavra “offshore” a algo ilícito ou algum esquema, todavia, nada mais é do que eu ou você abrirmos uma empresa num país estrangeiro, o que você faz quase no mesmo tempo que abre um MEI aqui no Brasil.

Se você declarar seus bens corretamente e pagar impostos quando devidos, não tenha o que temer.

Abraço

domingo, 7 de junho de 2020

MAXIMALISMO: da quitinete à mansão

A felicidade não depende do quanto você tem para desfrutar, mas de quanto você desfruta do que tem.” – Tom Wilson

 

Eu nunca fui minimalista, mas sempre comedido. Gastava um bocado com restaurantes e compras inúteis de bugingangas chinesas, porém nunca, nunca mesmo, gastava mais do que ganhava no mês.

A única dívida que tive na vida foi um financiamento imobiliário, sendo que, apesar de ter o dinheiro para comprar o imóvel à vista, preferi usar para investimentos (que felizmente superaram os juros do financiamento – NÃO recomendo essa estratégia, foi um período excepcional e eu paguei ALTOS juros ao banco).

Na minha trajetória (https://www.aposentecedo.com/2019/12/trajetoria-do-aposente-cedo.html), você pode notar que eu era quase nômade, pois me mudava com frequência sempre que arrumava alguém pra comprar minha residência com um lucro mínimo que eu projetava.

Como bom ser humano médio, a cada mudança eu aumentava o padrão de vida. A cada aumento, mais bens se tornavam “necessários”.

Primeiro imóvel: quitinete de 20m². Cama, geladeira, TV, máquina de lavar, fogão de 2 bocas.

Segundo: quarto e sala de 45m². Todos os bens anteriores + “é hora de ter um fogão de 4 bocas” + “já que tem sala, preciso de um sofá e uma mesa de jantar”.

Terceiro: 2 quartos de 62m² (e num bairro mais caro). Todos os bens anteriores + “bem, já que tem um segundo quarto, vou botar uma cama de hóspede” + “como a cozinha é maior, vou comprar uns nichos pra colocar garrafas de bebida” +  “agora vou ter um guarda-roupas grande e bonito”.

Quarto: 3 quartos de 90m² (no mesmo bairro mais caro). Todos os bens anteriores  + “puxa, com essa cozinha grande, vou botar uma mesa aqui e comprar outra pra sala de jantar” + “essa parede merece um quadro bonito” + “agora posso ter aquela bicicleta dentro de casa” + “sou uma pessoa só – vou fazer um dos quartos de escritório e outro quarto para visitas” + “opa, uma rede aqui ia ficar legal” + “na área não bate muito sol, então vou comprar uma máquina que lava e seca”.

-- Observação: a partir daqui, havia concluído que era melhor parar de comprar imóvel para moradia e passar a morar de aluguel, usando o saldo para novos investimentos.

Quinto (mudança para um bairro beeem distante, mas com melhor qualidade de vida): 3 quartos de 100m². Padrão anterior praticamente mantido, visto que a nova distância para os afazeres habituais da vida demandava uma adaptação que poderia não ocorrer. Como estava bem mais distante, era “hora de comprar um carro de novo”, após mais de 6 anos sem carro.

Sexto (no bairro distante, houve uma boa adaptação): MANSÃO. Terreno com mais de 1.000m², casa principal com cerca de 300m², 5 quartos, 2 salas imensas, varanda circular, piscina aquecida 4 x 8, churrasqueira e sauna; casa de hóspedes com 50m² e dois quartos; capela; garagem coberta para 4 carros e descoberta para 16 carros; viveiro; árvores frutíferas; horta; casa de funcionários com 2 quartos (cerca de 35m²). Só o banheiro e closet da suíte master eram maiores que meu primeiro imóvel.

Era isso, hora de “viver o sonho”. O patrimônio tinha crescido, a renda ativa e passiva também e eu “merecia”. Bem, “não dava” para deixar tudo vazio. Gastei o equivalente a um carro popular 0Km só para mobiliar tudo, afinal, uma sala imensa “precisava” de uma mesa maior (8 lugares), um sofá de 3m de comprimento, um painel gigantesco de TV, uma geladeira extra pra área da churrasqueira, itens para churrasco (facas, espetos, etc), um aparelho de jantar para a área externa, mais uma cama de hóspedes... já que tem ainda dois quartos vazios, “vamos fazer um quarto de música aqui e uma sala de ginástica ali”. Óbvio que com uma varanda circular bonita daquelas, tinha que comprar uma mesa de sinuca.

Depois de algumas dezenas de milhares de reais gastos para “viver o sonho” e deixar “a casa pronta”, era só desfrutar – só que não. Tá caindo muita sujeira na piscina – temos de comprar uma lona sob medida para cobrir. Claro, tem que contratar um piscineiro pra mantê-la limpa ao menos 1x na semana. Com um terreno daquele tamanho, tinha que contratar um jardineiro. A faxineira que até a casa anterior ia 1x por semana, pra fazer o “grosso”, passou a ter que ir 3x na semana (junto com o vínculo empregatício e os encargos de férias, 13º, etc). Quinzenalmente alguma coisa em algum lugar do imóvel gerava manutenção: chama o rapaz pra trocar telha, emendar um cano, limpar a calha, ajeitar uma fiação...

Muitos cômodos, muitas luzes. Conta de energia elétrica triplicou em relação à residência anterior. Conta de água quintuplicou por causa da piscina e pequenos problemas hidráulicos que apareciam cada hora em um lugar. Não dá pra manter a horta vazia, então bora lá comprar mudas, sementes, adubo, veneno pra pragas e formigas, etc. Sauna tem que ter pedras específicas e essência de eucalipto pra ter graça. O terreno tá mal iluminado, hora de instalar uns refletores adicionais. Opa, bebê a caminho: temos de instalar grade em volta da piscina.

Bem-vindos ao maximalismo, o oposto do minimalismo.

Os custos intrínsecos desse upgrade de vida não foram devidamente calculados. No final da equação, o orçamento doméstico era muito superior ao previsto (felizmente, ainda abaixo das receitas mensais), o que diminuíra drasticamente a taxa de poupança e atrasaria minha jornada FIRE.

A verdade é: sim, aproveitei 70% de tudo. Malhar em casa de chinelo e sem camisa, fazer sauna peladão, churrasco com amigos finais de semanas alternados, tocar um som com a rapaziada, comer verduras e legumes da própria horta, tudo isso era muito bom. Sim, era feliz ali, porém tinha um objetivo maior.

A continuidade naquela residência, sem dúvida, retardaria em alguns anos a aposentadoria antecipada e poderia colocar em risco o equilíbrio das finanças, visto que não tenho salário fixo.

Essa jornada maximalista foi um aprendizado anti-Fire e de vida.

Minha família sempre foi simples, mas nunca possuiu grandes dívidas ou passou necessidade; na faixa dos 30 anos ambos os pais tinham seu apartamento próprio e algum trocado na poupança. Talvez o maximalismo tenha me subido à cabeça após subir alguns degraus na escada social de onde iniciei.

O grande aprendizado de vida foi tocante à uma crítica comum que os Firees fazem àqueles que fazem parte da corrida dos ratos: não se adequarem a um padrão de vida superavitário. Eu mesmo inúmeras vezes critiquei alguém que estava se endividando, porém se recusava a baixar o padrão de vida. Criticava porque pensava que era “simples” se desfazer de alguns luxos, se mudar pra um imóvel menor, para um bairro de classe social mais baixa, etc. Não é. Afirmo isso porque esse ano eu me mudei da mansão para um apartamento de 2 quartos. Por opção.

É incrível como, apesar de não ser materialista (taque pedra à vontade, mas sei que não sou), cada pessoa que ia na mansão comprar a mesa de jantar mega-blaster, os aparelhos de academia, o sofá gigantesco, os instrumentos musicais, etc, etc, parecia que estava me dando uma facada. Em parte estava, já que vendi tudo por cerca de 50% do valor de aquisição e tudo estava em perfeito estado.

Era curiosíssimo como eu e minha esposa chegávamos a chorar quando algum móvel (especialmente os que usávamos intensamente) saía daquela casa, cada dia mais vazia, mas 5 minutos depois estávamos rindo e mais leves, felizes que todo aquele desapego visava um bem maior num futuro próximo.

Como o apartamento atual é semi-mobiliado, livrei-me de 95% dos móveis que possuía, mantendo somente alguns eletrodomésticos, uma cama de casal, roupas e os itens do primogênito. Alguns meses depois da mudança, estamos mais felizes, mais leves, não precisamos mais de nenhum prestador de serviço doméstico e a vida parece mais simples, com uma rotina fácil de lidar, mesmo com todos os transtornos da quarentena.

Também nesta última mudança doamos 50% de nossas roupas e outros bens que não possuíam liquidez ou que tinham valores de revenda (usados) que não valiam a pena o trabalho de ficar anunciando e vendendo (é uma ladainha danada quando você tem dezenas de coisas para vender) e, a cada dia, nos tornamos mais minimalistas. Todos os bens de minha família, incluindo móveis, hoje caberiam em um imóvel de 20m², o que, curiosamente, remonta à origem de minha vida adulta morando sozinho.

Como a Elsa postou mês passado (http://www.sempresabado.com/o-verdadeiro-segredo-da-vida-fire/ ), o segredo da vida FIRE não é ter um patrimônio que te proteja de tudo; o segredo da vida FIRE é ter uma vida tão simples que dificilmente sua sobrevivência estaria ameaçada.

Agradeço à Yuka, do blog https://viversempressa.com/, pelos excelentes ensinamentos sobre minimalismo, os quais sempre agregam para um grau de satisfação cada vez maior com cada vez menos posses.

E você, leitor, prefere ser maximalista ou se aposentar cedo? O nome do meu blog me denuncia.