A velocidade da internet está mudando os conceitos mínimos de capricho.
Desde o início da pandemia venho lendo diversos livros e fazendo cursos pela internet, alguns deles pagos.
Eu acredito que quem disponibiliza conteúdo de forma gratuita tenha todo direito de gastar o menor tempo pessoal possível, porém, quem cobra pelo conteúdo, não. Fiquei abismado com três cursos pagos que realizei e o total desleixo de seus produtores.
O primeiro curso tinha o tema central (inclusive o título) ligado à Bolsa de Valores. Todos os vídeos não tinham edição, o produtor errava conceitos básicos, às vezes se retificando, às vezes passando batido e, para piorar, 2/3 de todo o curso não falava sobre bolsa de valores, mas sim do mercado financeiro (conceito muito mais amplo que a Bolsa). Também em momento algum na descrição de venda do curso estava previsto que se tratava de um curso tão básico (era literalmente um be-a-bá, coisa pra ensinar a pré-adolescentes de como funciona o mercado financeiro).
O segundo curso era somente sobre análise técnica, por uma pessoa que se autointitula “bem sucedida” no mercado (apesar de ter por volta dos 30 anos). Novamente, vídeos sem qualquer edição, nenhum roteiro pronto e demonstrações visuais sofríveis, feitas no PaintBrush (para análise técnica, desenhando candles com um pincel e sofrendo pra escrever texto no Paint).
O terceiro curso tratava majoritariamente de hacks de viagem e trabalho à distância. Em que pese algumas valiosas dicas do produtor, que se proclama multimilionário e um grande fodão (com essas palavras mesmo), mais um curso sem qualquer edição, roteiro ou capricho. Conteúdos eram repetidos em mais de um vídeo, temas que deveriam ser aprofundados eram abordados superficialmente (com a orientação de “se vira pra pesquisar mais aí”) e temas quase inúteis eram discorridos minutos a fio. O absurdo era que o produtor se orgulhou, em um dos vídeos, de ter “preparado e gravado o curso” em 3 dias e estar vendendo por mais de mil reais.
Quando era criança, lembro de fazer trabalhos na escola em folha de papel almaço, decorar trabalhos, utilizar réguas e compassos; na faculdade, os trabalhos tinham apresentações de PowerPoint elaboradas ou, pelo menos, um discurso com roteiro estudado e alinhado. Fiquei impressionado como pessoas com idade tão parecida com a minha estejam por aí VENDENDO conteúdos superficiais, mal formatados e sem qualquer esmero ou capricho. Colocam meia dúzia e de palavras-chave, investem em marketing digital e vendem sonhos que talvez nem eles tenham tido capacidade de atingir (não duvido nada que há muitas fraudes por aí).
Nunca gostei de associar idade com experiência ou capacidade, mas a parece que o capricho vem sendo deixado de lado pelas gerações mais jovens em prol do dinamismo e foco somente no lucro. É muito raro ver profissionais com mais de 50 anos, até mesmo de forma gratuita (cursos, vídeos de YouTube, etc) disponibilizando na internet conteúdos de forma desleixada, despreocupadas e mal envelopadas.
Parece que esse post não há relação com o blog, mas há: os três produtores dos cursos mencionados acima se declaram independentes financeiramente, um deles declarando no próprio curso que, além de IF, se aposentou aos 28 anos. O grande contrassenso é que, se todos são IF, certamente tempo não deveria ser um problema para que apresentassem um material com qualidade e demonstrassem que se empenharam em oferecer o melhor àqueles que estão comprando seu material.
Desejo que todo o exposto sirva para que você, leitor, nunca perca o capricho nas atividades desempenhadas, especialmente se pretender lucrar com elas.
Abraços a todos