O Aposente Cedo (ou simplesmente “AC”,
vulgo “eu”) teve sua introdução à vida financeira através de mesada recebida
pelos pais. Uma vez por mês, recebia algo equivalente a R$ 30,00 atualmente
para comprar figurinhas, algum lanche, presentear alguém ou comprar o que
estivesse com vontade. Seu irmão recebia a mesma quantia e, curiosamente, sempre
gastava tudo em menos da metade de 1 mês, enquanto o AC conseguia, muitos
meses, guardar parte da mesada. Ninguém havia lhe instruído isso, mas parece
que já corria em suas veias o ímpeto da independência financeira.
Aos 16 anos, AC iniciou sua vida
profissional trabalhando como vendedor em lojas, com salário aproximado de R$
600,00 na época. Ainda aos 16 anos AC iniciou uma faculdade.
Aos 17 anos, AC trabalhou como
promotor de festas e eventos, ganhando média de R$ 500,00 por mês. Ainda aos 17
anos, após prestar novo vestibular, AC iniciou mais uma faculdade.
Aos 18 anos, AC iniciou estágio
não-remunerado e tinha uma rotina invejável (com ironia, por favor): de 7:30h
às 12:30h – faculdade 1; de 13:30h às 17:30h – estágio; de 18:30h às 22:30h –
faculdade 2.
Aos 19 anos, AC iniciou estágio
remunerado (ufa!), seguindo sua rotina estafante. No mesmo ano foi convidado a
ser efetivado em seu local de estágio (carteira assinada, benefícios e tudo
mais, porém com 8h de trabalho por dia) e, após muita reflexão, escolheu priorizar
aumentar sua renda (aceitou o emprego) e largou a faculdade 2 exatamente na
metade do curso (seu emprego tinha relação direta com a faculdade 1). Salário
aproximado de R$ 1.200,00 (já contando os benefícios que sobravam no fim do mês
– se ganhava R$ 15/dia de vale-refeição, almoçava onde custava R$ 10,00).
Ainda aos 19 anos, AC iniciou
investimento na então Bovespa e CDB de bancão. Fazia trade feito um louco e,
naturalmente, perdeu dinheiro feito um louco, mas não parava de treidar.
A vida foi seguindo desta forma e
AC foi religiosamente poupando tudo que dava, até que...
Aos 22 anos tinha patrimônio de
R$ 6.300,00 e, como presente de formatura, ganhou mais cincão! Com R$ 11.300,00
na conta, pensou, pensou, pensou e... comprou um carro de R$ 11.300,00! Você
deve estar se perguntando: por que o cara que já investia em bolsa, lia livro
de investimentos, sabia há 6 anos o valor e o suor de cada centavo, raspou o
tacho e comprou um bate-bate? Resposta: comer mais gente e ter mais conforto.
Nunca houve arrependimento da
compra desse carro e é notável ressaltar que era um carro com 10 anos de uso e
cerca de 180.000 km rodados, ou seja, não foi uma atitude de toda estúpida.
Após 3 anos de uso intenso do carrinho e algumas batidas, o mesmo foi vendido
por R$ 8.000,00 e AC ficou sem carro durante 5 anos.
Voltando à cronologia: aos 23
anos AC pediu demissão da empresa onde foi valorizado com 3 promoções em 3 anos
e partiu para um trabalho com salário igual na época (cerca de R$ 2.500,00),
porém sem carteira assinada ou benefícios. A razão era adquirir novos
conhecimentos. Com 4 meses, AC foi demitido por incompatibilidade de gênio com
seu chefe.
Desde os 22 anos, AC já havia
começado a pegar alguns serviços “por fora” e, felizmente, quando foi demitido,
tinha alguma renda para não passar fome. Pessoa de bom relacionamento com todos
à sua volta (exceto com o chefe acima mencionado), AC sempre foi visto como bom
profissional e colegas de trabalho da empresa anterior começaram a lhe indicar
para um, para outro, que indicava para outro... e AC foi conseguindo aumentar
gradativamente seus serviços e decretou que, a partir de então, seria autônomo.
Decisão acertada.
Hoje, aos 33 anos, AC possui sua
própria empresa na área e é sócio de uma empresa em outro setor, mas esse
detalhamento ficará pra outro post.
Dos 22 ao 25 anos, AC conseguiu
guardar 90% de seu salário (e trabalho autônomo) e fez decisões de investimento
acertadas na Bovespa.
Sempre buscando independência em
todos os sentidos, AC tinha como prioridade de vida ir morar sozinho. Após
muitas buscas e deliberações entre comprar ou alugar um imóvel, decidiu pela
compra de uma kitnet. AC raspara todo seu patrimônio, mamãe emprestara e um amigo emprestara (com juros) mais uma parte. Decisão acertada.
A rotina própria (sem
interferência da família amada que fazia barulho 24h por dia) permitiu que AC
trabalhasse em média 80h por semana em seu próprio lar de magnânimos 20m². É
sabido que autônomos, quanto mais trabalham, mais ganham. Em 5 meses, AC quitou a
dívida com seu amigo.
Pouco mais de 1 ano de casa
própria, AC ouviu fofoca de corredor de prédio que fulano havia vendido seu
apartamento quase pelo dobro do que comprara. Intrigado, AC pensou: e se eu tentasse
vender o meu também? Será?
3 meses depois, AC estava assinando a venda de seu apartamento quase pelo dobro do que comprou. Quitou a dívida com sua mãe, pegou o saldo, somou a todo patrimônio que
tinha então e comprou um apartamento um pouco maior
(45m²) e precisando de obra GERAL. Durante os 3 meses de
obra, voltou a morar com mamãe.
Após morar 5 meses no local, AC
conseguiu revender o apartamentos. Essa parada tava dando
dinheiro.
Ainda aos 27, pegou a grana da
venda do apartamento e comprou outro, também precisando de obra geral (60m²). Utilizou o produto da venda do imóvel anterior e o que
tinha economizado até aquele momento. Fez obra, foi
morar no local e já anunciou a venda. 7 meses depois, vendeu com um lucro de 40%.
Aos 28 anos,
AC estava cansado da vida nômade e comprou imóvel para “se estabelecer” por um
tempo. O imóvel que se apaixonou custava quase o total de seu patrimônio (e
sabia que não conseguiria revender com lucro como fez com todos os anteriores)
e ficou com o dilema: comprar à vista e ficar praticamente zerado ou financiar
e tentar vencer o sistema (multiplicar o valor financiado de forma a compensar
os juros cobrados pelo banco)? Acertadamente, escolheu a segunda opção.
Com a grana que financiou no bancão, AC utilizou essa grana para continuar multiplicando seu
patrimônio com transações imobiliárias, mas agora sem precisar ficar se
mudando. Com o mercado imobiliário aquecido e seu conhecimento, AC conseguiu
identificar boas oportunidades e, felizmente, teve lucros substanciais em sua esmagadora maioria.
Devido às transações
multiplicadoras, a seus rendimentos de trabalho cada vez maiores e sua
disciplina em economizar e investir no mercado financeiro (precisando, de
tempos em tempos, tirar tudo do mercado financeiro pra aplicar em imóveis), aos
30 anos AC conseguiu multiplicar seu patrimônio.
Seguindo firme nos investimentos
imobiliários de compra e revenda e com brutal carga de trabalho de cerca de 80h
semanais, AC tinha renda mensal extremamente superior a seu padrão de vida, o
que lhe permitia investir quase 80% de seus rendimentos.
Aos 33 anos, AC já poderia ser FIRE se não tivesse constituído família e começou a cansar. Há muito,
com seus estudos de investimentos, AC já havia decidido que buscaria independência
financeira para que não precisasse mais trabalhar o mais cedo possível. Deparou-se
então com a comunidade FIRE (Financial
Independence, Retire Early - independência financeira e aposentadoria precoce)
e teve certeza de que era isso que queria, absorvendo como esponja conteúdo de
inúmeros blogs e youtubers sobre o
conceito, especialmente americanos.
Ainda sem o valor-alvo para
aposentadoria e sem coragem de chutar o pau da barraca, AC faz cálculos e
declara: faltam 12 meses e 23 dias para a
aposentadoria.
Fique ligado para acompanhar a
trajetória, discutir investimentos e pensamentos sobre FIRE.