sexta-feira, 24 de junho de 2022

20 anos de escolhas

 


Há poucas semanas completei 36 anos em meio a um período conturbado de obras na nova moradia em um novo estado e cidade, construindo nova rede de relacionamentos pessoais e alguns profissionais.


Gosto bastante do raciocínio inverso, um tanto já exposto em alguns blogs da finasfera e canais de filosofia, à pergunta “quantos anos você tem?”: não tenho 36 anos, tenho uns 50 pela frente.


À medida que a vida me impõe convivência próxima com (cada vez mais) idosos na família, reflito o quanto a qualidade de vida é mais importante que o mero tempo cronológico. Assim, cheguei a uma breve conclusão que possivelmente terei cerca de mais 40 anos de autonomia plena, isto é, estimei que após 76 anos minhas decisões serão cada vez menos independentes, seja por retardos no raciocínio, possibilidade de doenças e intervenções de membros mais jovens da família.


Por outro lado, refleti que completei 20 anos de escolhas independentes, como irei expor a seguir. Até os 15 anos, creio que minhas únicas escolhas eram o que comer no lanche da tarde – dentre as opções na despensa. Aos 16 anos comecei então a tomar decisões sozinho ou com pouca interferência externa ou, ainda, cuja palavra final seria a minha independente de qualquer coisa.


Tive que, aos 16 anos decidir o curso que eu prestaria vestibular; optar entre uma faculdade pública que não me agradava (a única pública que passei) ou uma faculdade particular próxima de casa (que passei com bolsa de 80% - e que optei por cursar); fiz escolhas de pequenas viagens com amigos (as primeiras sem presença de adultos); tive de escolher de quem me aproximaria no grande novo círculo de colegas na faculdade (que iniciei ainda com 16 anos); escolhi (com a oportunidade surgida, lógico) meu primeiro trabalho de carteira assinada, como auxiliar de vendas numa loja de roupas masculina.


Aos 17 anos optei por fazer um novo vestibular e ingressar numa segunda faculdade, paralela à primeira, e novamente fazer escolhas de relacionamento, além da rotina mais intensa de estudos pela manhã e à noite. Optei também por deixar de trabalhar de carteira assinada para fazer estágio.


Com 18 anos, escolhi não seguir carreira militar (tive a opção de CPOR - Exército); trocar de estágio para uma empresa de grande porte; namorar uma menina que morava próximo, mesmo que a chama não ardesse tão forte por ela; escolhi entrar numa banda de rock e sonhar em viver de música.


Dos 19 aos 24 fiz escolhas importantes como: sair da segunda faculdade que entrei para trabalhar como CLT na minha primeira opção de carreira; sair da empresa que me deu grande oportunidade para me arriscar em um mercado sem carteira assinada e imprevisibilidade salarial; terminar meu primeiro namoro “sério” e iniciar um segundo com uma então colega de trabalho; fazer minhas primeiras viagens de casal; decidir o que fazer com um diploma universitário na mão.


Aos 25 anos optei por renunciar a confortos rotineiros e financeiros para sair da casa da mamãe e dar um largo passo à independência; escolhi a compra de um micro imóvel ao invés de alugar um mais espaçoso, o que me levou à direção do melhor – e único rentável na maior parte das vezes em minha trajetória – tipo de investimento que fiz e ainda faço na vida; escolhi terminar um relacionamento com uma pessoa querida por conta de ciúmes, bem como iniciar um relacionamento de longa distância que duraria alguns anos e renderia experiências interessantes.


Enfim, dos 26 em diante consolidei o entendimento que valeria a pena investir na minha própria empresa e desistir de vez de procurar um emprego; decidi fazer um spin off de uma atividade que fazia dentro da empresa para formalizar uma nova; optei por nunca crescer a estrutura das empresas para, apesar de ganhar menos, ter menos riscos na área empresarial; decidi mudar de imóvel consecutivas vezes fazendo da mudança de lar um verdadeiro investimento (e transtorno, muitas vezes); decidi terminar um relacionamento que estava à beira de um “ou casa ou racha”; optei por iniciar o caso amoroso de minha vida e casar com minha querida esposa; decidi mudar de cidade para longe de amigos e parentes; decidi ter filho; virar FIRE; desvirar FIRE no conceito que eu pretendia inicialmente (assumindo um trabalho a tempo parcial, em vez de virar um completo vagabundo); ser nômade; fixar residência em um novo estado; fazer várias viagens neste ínterim…. Ufa! Muitas decisões tomadas.


Antes que a polícia da misoginia apareça, quando escrevo “decidi terminar/começar/ casar com alguém” não é porque era só eu escolher e a mulher estava na prateleira aguardando, mas sim porque quando um não quer, dois não se unem.


Pensando nos 20 anos de escolhas que tive e nos possíveis 40 que estão por vir, fico feliz que tenha se passado apenas 1/3 da vida “independente” e ainda mais feliz que, para os 2/3 seguintes, terei liberdade de tempo, financeira e, por que não, geográfica para tomar decisões na vida.


Há quanto tempo você faz escolhas independentes? Quanto tempo acha que lhe resta?


Abraço

sábado, 30 de abril de 2022

Não foque em investir


 

Ouvindo o excelente podcast Afford Anything, da Paula Pant, o entrevistado Nick Maggiulli (https://ofdollarsanddata.com/) revelou um insight que resume muito bem uma de minhas conclusões após 17 anos como investidor (resumido em tradução livre):


“Se seus investimentos rendem menos do que sua capacidade de poupança, foque em seu trabalho; se rendem mais, foque em seus investimentos.”


Exemplo1: você ganha 10k/mês e consegue poupar 30% = 36k/ano de poupança. Seus investimentos totalizam 500k e rendem 10% a.a. = 50k/ano. Ótimo, você atingiu o ponto em que sua atenção aos investimentos deve ser maior.


Exemplo2: você ganha 10k/mês e consegue poupar 20% = 24k/ano de poupança. Seus investimentos totalizam 200k e rendem 10% a.a. = 20k/ano. O seu trabalho e esforço de poupança ainda superam o rendimento que seus investimentos conseguem gerar. Foque em produzir mais trabalho e riqueza através de atividades.


Parece uma coisa boba, mas não é. Há um tempo tive uma conversa longa, de alguns dias, com uma colega que estava iniciando nos investimento. Ela fez planilhas e simulações sobre alguns títulos de RF em diferentes instituições, comparando taxas, etc. Trocamos algumas ideias, dei umas breves sugestões para, ao final de tudo, ela dizer que estava investindo… 2 mil reais. Era tudo que ela tinha guardado. Longe de desmerecer o esforço de poupança dela, a energia que ela empregou buscando a melhor rentabilidade para o dinheiro guardado seria facilmente superado se ela tivesse empregado o tempo em renda ativa adicional (ela ganhava 3k/mês), até mesmo da forma mais óbvia possível (fazendo hora extra no trabalho). Se ela tivesse aplicado a 90% do CDI ao invés de 100% do CDI a diferença nominal seria inexpressiva e em meia hora extra de trabalho ela já teria compensado isso.


Eu (e provavelmente você) já “perdi” MUITO tempo buscando rentabilizar ao máximo meus investimentos, lendo livros, blogs, vendo vídeos, fazendo simulações. Operei daytrade, swing, opções, dolfut, short, marcação a mercado, etc, etc. Pensando bem, melhor tirar as aspas de “perdi”. Eu perdi mesmo. Perdi tempo e dinheiro. E não é daqueles casos que a gente “tem de errar pra aprender”. Eu cometi o mesmo erro várias vezes, às vezes só mudava a roupa do erro, só que a base e a lógica eram as mesmas. Tivesse deixado todo o dinheiro na poupança e focado no trabalho, invariavelmente meu patrimônio hoje seria maior.


Conclusão: não estou estimulando que você seja leigo em investimentos. Educação financeira é fundamental. Estou sugerindo que você dê menos atenção aos investimentos enquanto não tiver um patrimônio E uma rentabilidade GARANTIDA maior que seu trabalho e capacidade de poupança. A chance de você fazer cagada tentando “investir melhor” será maior do que a inação.


Abraço

segunda-feira, 18 de abril de 2022

O Retorno

Olá, querido leitor! Após 4 meses sem postar, estou de voltar.


No meu último post, estava na península de Maraú, litoral da Bahia, aproveitando os últimos momentos da vida nômade e bastante desejoso de interromper a viagem. É engraçado como vamos mudando nossas ideias ao longo de nossas experiências. Foram 14 meses de vida nômade, quando o plano inicial era de pelo menos 24 meses na estrada. Experiências incríveis foram vivenciadas, novos lugares e pessoas – algumas que vamos carregar a amizade – transformaram quem sou e quem pretendo ser.


Recomendo MUITO que todos tirem um período desbravando o mundo, mesmo que o mundo seja seu próprio Estado, sem data certa para voltar ou parar; é um modo de viver absolutamente paralelo da realidade do resto de nossas vidas. Além disso, descobrimos que, ao menos numa viagem em família, para nós um tempo estimado de 3 meses ininterruptos é o bastante para que a balança pese 99% do tempo do lado da alegria.


Falando de investimentos, o esforço contínuo é de olhar e me inteirar cada vez menos sobre o assunto, especialmente evitar venda de ativos. Os aportes dos últimos meses foram 100% em renda fixa e remessa ao exterior, aproveitando a queda do dólar. Agora só rompendo a barreira dos R$ 4,50 para pensar em novas remessas em 2022, o resto, é deixar o tempo fazer seu trabalho.

Estou também reduzindo o número de FIIs que possuo em carteira, limando fundos com alavancagem acima de 10% e gestoras com histórico que me desagradam.


Ainda em investimentos, reforço a importância de imóveis físicos numa carteira bem balanceada. Apesar de serem poucos e de baixo valor, tanto de venda quanto de aluguel, os imóveis que possuo com a finalidade de renda deram pouco trabalho nos últimos anos e, em que pese a passagem de todo o período da pandemia, a vacância foi mínima, o yield on cost fica cada vez melhor (sobre o valor de mercado para eventual venda) e a segurança do ativo não tem como ser maior.

Como nem tudo são flores, (não) gosto de lembrar da existência de um baita elefante branco adquirido em 2019 com vacância 100% e custo de manutenção alto; uma aposta que parecia sólida e não se concretizou. Um erro de aquisição que custou caro e a torneira não para de pingar pra fora, infelizmente.


Quanto ao trabalho, é muito curiosa a guinada de pensamento e atitude. Num post de 2019, que apaguei por razões particulares, escrevi o plano de cessar as atividades por completo e o quanto isso seria necessário para uma “vida livre”. Hoje vejo que possivelmente esse plano teria sido um erro na prática, por algumas razões, que faço questão de enumerar para causar alguma reflexão ao leitor:


1) A felicidade de ter escolhido o caminho do empreendedorismo me permite, na maior parte das vezes, dosar e quantificar o trabalho. É simplesmente impagável a liberdade de pensamento e financeira para negar clientes desagradáveis ou serviços com mau custo x benefício. É um constante aprendizado dizer “não” às pessoas e ao dinheirinho acenando na mão delas, mas a paz que isso traz não é quantificável.


2) O dinheiro da renda ativa me trouxe muito conforto nesses 2 anos de pandemia (sim, no particular estou dando a pandemia encerrado com 2 anos de existência) e eventos malucos no mercado financeiro.


3) Limitei horas e local de trabalho. Só trabalho se ligar o computador; só ligo o computador se for trabalhar; só trabalho em horário comercial; não passo de 6h por dia em nenhum dia. Há vários dias que faço todo o necessário em 1h e, após, só lido com trabalho respondendo alguns whatsapps. Dificilmente passo de 25h semanais de trabalho e, quando acontece, não fico nada incomodado.


4) Não ter empregados nem chefes. Por escolhas pretéritas de não inflar minha estrutura, hoje consigo executar meus trabalhos todos através de parcerias sem hierarquias e sem estabelecimento físico. O avanço da mentalidade de home office, da tecnologia de mensagens (whatsapp especialmente) e da aversão criada por muitos no encontro presencial (e até mesmo aversão à ligações!) tornaram meu trabalho mais ágil, prático e menos preocupante. Isso tudo também possibilitou que parceiros de negócios pudessem, independentemente da localização geográfica, colaborar em trabalhos que não quero fazer, mas também não quero deixar o cliente desamparado.


Por fim, a saúde física e mental estão em plena ascensão. Uma moradia fixa proporciona rotina, que facilita a disciplina e maximiza resultados. Com a filhota na escola, o desenvolvimento dela em todos os aspectos aumentou um bocado, além de liberar os adultos da casa por um turno inteiro para realizarem suas atividades sem interrupção ou apenas descansarem. A alimentação passou a ser mais regrada, a volta à academia após 4 anos não poderia ser mais agradável e ter tempo para leitura, ver um filme ou dar uma volta na pracinha num dia útil à tarde possui um valor que não dá pra explicar.


Ah, o Boteco Fire vai voltar cedo ou tarde!


Abraços

domingo, 19 de dezembro de 2021

Hoje está bom pra caçar tatu


No mundo dos investimentos, o momento é de paciência. Valor nominal de patrimônio menor que o início do ano (vide IFIX e IBOV) e não há muito a fazer a não ser aportar um pouco quando dá e melhorar o preço médio em tudo, nunca deixando de aproveitar pra reforçar a renda fixa diante dos juros cada vez mais atrativos.


No mundo sem cotações piscando, a constante descoberta de novas realidades dentro do próprio Brasil traz reflexões profundas.


Após estadias em Aurora do Tocantis/TO e Santo Inácio, distrito de Gentio do Ouro/BA, reforcei o pensamento de quão privilegiado eu sou (e provavelmente você também). Respectivamente, os locais de 3 mil e 250 (duzentos e cinquenta mesmo) habitantes.


Em Aurora há uma deficiência imensa de estrutura, mas o povo é feliz. Tive a oportunidade de conversar várias tardes e noites com os moradores (viva o botequim) e, ao falar sobre a falta de coisas que há nos mini-mercadinhos da cidade, fiquei intrigado com a unanimidade dos presentes que jamais provaram alimentos como pera, berinjela, abobrinha, fruta do conde, couve, dentre muitas outras. Nada disso tem nos mercados da região. Nem preciso falar sobre cervejas artesanais, vinhos finos, chocolates premium, itens importados, etc. Não há com frequência alface e outros itens que considero básicos; as poucas verduras e legumes que chegam ao local são semelhantes ao que o CEASA costuma descartar, lamentavelmente.

No meio do papo regado a cerveja não-artesanal em copo americano, o dono do bar olha a lua cheia no seu, avalia a temperatura amena e manda:

- Hoje está bom pra caçar tatu.


Dei um sorriso amarelo, sem saber se era uma gíria, uma piada ou uma constatação. Perguntei se era tatu mesmo, o bicho, e ele disse que sim. Tatu era uma delícia, rende uns 2 a 4kg de carne a depender do porte do bicho. Passou a me explicar os pormenores das espécies de tatu e técnicas de caça, até a melhor forma de cozinhar.


Longe de estimular a caça de animais silvestres, fiquei fascinado com a narrativa do tatu e outros ensinamentos como, por exemplo, trancar as galinhas por 15 dias antes de matar pra comer para “limpar” o sistema dela, dando só ração. As galinhas, criadas soltas pelo terreno que o boteco fazia parte, comiam escorpiões, baratas e todo tipo de coisas que não imaginamos, e quando eram mortas e cozidas sem “limpar”, o gosto não ficava tão bom (por que será?!).


Interessante também fora um morador de Santo Inácio explicando a caça e preparo de um mocó, que também pode ser encontrado à venda (informalmente, claro) por R$ 10,00. Vi alguns deles durante caminhadas e jamais imaginei que fossem consumidos. Um mocó pra você ver:

 


Em um universo que você (provavelmente) e eu vivemos, de inúmeras opções de marcas, sabores e qualidades para cada alimento, variedades, produtos sem glúten/lactose/BPA/aditivos/corantes/conservantes/gordura trans/etc, presenciar uma vida de décadas à beira da escassez, comendo o pouco que se tem no mercado e o que se caça no entorno renovou, mais uma vez, o sentimento de extremo privilégio que temos sem nos dar conta, muitas vezes reclamando de coisas tão pequenas.


Da próxima vez que você estiver sonhando com uma cobertura com vista pro mar para ser feliz, tente se lembrar que haveria alguém muito satisfeito por ter um tatu à mesa.


Abraço

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

2 anos de blog - balanço

É impressionante como as coisas mudaram. Do final de 2019 para agora aconteceram tantas mudanças pessoais e profissionais que fica até difícil de resumir. Vou tentar fazer um breve balanço por temas:


- Trabalho/aposentadoria precoce: a ideia radical de parar de trabalhar 100% foi por água abaixo quando meu sócio, que tocaria sozinho minha vaca mais gorda, resolveu pular do barco ao final de 2020, justamente quando eu faria o mesmo. Sem poder deixar clientes à deriva, optei por continuar trabalhando até finalizar os contratos pendentes. Se Deus escreve certo por linhas tortas, esse ponto foi a prova porque percebi que uma ocupação com carga horária reduzida não só ajuda a me manter intelectualmente ativo e me sentindo “no mercado”, como me dá uma segurança financeira e psicológica maior diante de uma autodeclaração de FIRE em meio a uma pandemia que parece não ter fim e não ter alívio econômico tanto real quanto virtual/financeiro.


- Investimentos: nestes dois anos de blog vi meu patrimônio crescer 20%, o que não é grande coisa, considerando que a maior parte do crescimento veio de renda ativa. Curioso ver que o dólar estava R$ 4,05 no início do blog. Transformei minha carteira que era 100% crescimento em 45% geradora de renda recorrente (FIIs, imóveis e ações) e 55% em crescimento. É um patamar que já me presta renda o suficiente para o orçamento mensal e me deixa confortável de não perder o bonde do que possa vir a apreciar valor nominal expressivo. Dinheiro não deixou de ser uma preocupação, só mudou o foco de “como pagar as contas mês que vem” para “como manter a perpetuidade – pela inflação – do que já possuo hoje”. É uma preocupação pequena, mas não deixa de ser.


- Família/amigos: falando agora só do último aniversário do blog (dez/20 a dez/21), tive a felicidade de ver minha mãe se curando de uma doença e uma avó resistindo a cirurgias e tratamentos pesados e ficando com poucas sequelas permanentes; tive a infelicidade de perder dois avôs em curto período de tempo e de ver minha irmã não responder a diferentes tratamentos a uma doença que lhe gera dor e lhe tornam incapacitada para boa parte das atividades cotidianas, inclusive trabalhar, com menos de 40 anos de idade. Quanto a amigos, naturalmente perdi ou diminui contato com muitos em razão da distância física (e sanitária da pandemia, por que não?!), mas também fiz novos amigos por onde passei na vida nômade; tive o prazer de reencontrar alguns durante a viagem, seja indo a meu encontro de férias, sejam migrantes do RJ que hoje moram em alguma cidade que visitei. Decidi também, após muita deliberação pessoal, por cortar laços com alguns que nada acrescentam positivamente em nada há muito tempo. Essa última decisão foi um tanto difícil.


- Vida nômade: se no início da vida nômade a palavra-chave do sucesso era FLEXIBILIDADE, às vésperas de completar 1 ano, diria que INTENSIDADE foi o que definiu este período até então. A quantidade de experiências vividas e acumuladas foram quase por uma vida toda. Culturas, hábitos, estilos de vida, paisagens, educação, civilidade, segurança, saúde, privações, farturas, aparências e comidas diferem brutalmente dentre os locais que conheci nos últimos doze meses, me tornando extremamente privilegiado por vivenciar e poder absorver. Há pouco ouvi um balanço do Mad Fientist sobre os 5 anos de vida FIRE dele e me encontrei num lugar comum que ele mencionou: quanto tudo é extraordinário, fica cada vez mais difícil o regozijo. Depois da 10ª cachoeira, praia ou montanha visitada, por mais que cada uma tenha sua peculiaridade, a graça já não é mais a mesma. Agora, somente o MUITO diferente traz à tona a sensação que tinha no início da viagem a cada vez que via algo novo. Decidi (leia-se: a Sra. AC decidiu e eu concordei) que tive o bastante por ora e vamos fincar bandeira em algum lugar a partir de março/22. Até lá, a brisa segue soprando a vela.


- Disciplina: para o trabalho, nunca faltou e nem consigo me imaginar sem; para exercícios, houve uma inconstância gigante de disposição para me exercitar, por vezes passos vários dias seguidos fazendo exercício, por vezes passo semanas sem um abdominal sequer e, pra melhorar, comendo chocolate, fritura e cervejinha regularmente. A verdade é que, na parte da saúde e estética corporal, conto os dias para morar numa residência fixa, voltar pra uma academia, saber qual mercado compro bom hortifruti, etc. Pode acreditar: é bem mais difícil fazer isso tudo cada hora numa cidade nova e desconhecida (e muitas vezes sem estrutura alguma para manter boa alimentação ou local para se exercitar).


- Crescimento pessoal: há quase duas décadas sou consumidor de conteúdo para crescimento psicológico, evolução mental, auto-ajuda, chame como quiser. Não pretendo parar de consumir. Se por um lado acabei consumindo menos conteúdo assim no último ano, por outro tive maior tempo para digerir tudo que vivenciei e repensar diversas questões pessoais (como algumas amizades, tal qual mencionado acima). Quase sem notar, desenvolvi um hábito de me questionar e desenvolver hipóteses antes de tomar ações e isso me trouxe o problema de assim também fazer com quem converso, algo aparentemente incômodo – em mais de uma oportunidade, pessoas próximas falaram “não pedi sua opinião nem pra discutirmos a respeito, só estou te contando isso”. Fica a dúvida se estou sendo intrometido (algo que nunca fui e abomino) ou as pessoas só não querem suas ideias questionadas nestes tempos que todo mundo tem opinião pra tudo.


- Estatísticas do blog: nesses 2 anos de existências, foram 102.768 visitas, 66 postagens, 800 comentários. O post inicial (Trajetóriado AC) ainda é de longe o mais visitado, seguido por Offshore para investir no exterior, Maximalismo e O fim do capricho.


- Conclusões finais de 2º aniversário: o universo FIRE é absolutamente fascinante e algo que ao mesmo tempo foi ao encontro de muitos pensamentos que já tinha, ainda desorganizados, e também mudou minha vida, acrescentando uma tonelada de conhecimento, me fazendo conhecer pessoas incríveis (algumas até pessoalmente!), e fazer parte de uma comunidade virtual que é cooperativa e solidária.


Peço desculpas aos gatos pingados que ainda leem esse espaço, seja pelos quase 2 meses sem postar nada, seja pela mudança de pegada do blog, cujo primeiro ano teve um conteúdo muito mais técnico e neste segundo ano foi muito mais filosófico e baseado em opiniões pessoais.


Dando uma breve explicação da também omissão do Boteco Fire: iniciei o podcast com a condição de ter mais alguém pra tocar junto. O TR prontamente assumiu a missão e o Sapien Livre chegou em seguida, só que, assim como eu vivo a vida nômade, o TR também vive seu próprio nomadismo semi-sabático e o Gleison também viveu mudanças pessoais nos últimos meses. O Boteco acabou se tornando a última prioridade de todos nós, mas tenham certeza que ele não irá morrer.


Ao leitor, meu obrigado por gastar seu precioso tempo por aqui e meu muito obrigado se ainda comenta e interage. Ao amigo leitor e blogueiro, sempre que posso estou acompanhando sua trajetória e peço perdão por nem sempre comentar após a leitura.


Abraços

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Business, a arte de estar ocupado

 


“Business” em inglês significa negócio. É comum a pergunta “What business are you in?” para saber qual área ou profissão a pessoa trabalha.


Esses dias li um interessante desmembramento da palavra: business = busy + ness. Busy significa “ocupado”; “ness” é sufixo que tem a função de transformar adjetivos (qualidades) em substantivos abstratos (nomes que indicam qualidade, sentimento ou estado): - happiness (felicidade), - thankfulness (agradecimento), - attractiveness (atrativo).


Resolvi gerar minha própria tradução de business para “a arte de estar ocupado”. Afinal de contas, certamente já lhe perguntaram “o que você faz?”, pelo que você respondeu “sou …. (médico, engenheiro, artista, etc)”. Provavelmente você respondeu o que queriam saber, mas não literalmente à pergunta. Tenho certeza que você faz muito mais do que trabalhar.


Nossa sociedade desenvolveu a necessidade de estar busy através do trabalho, o que acho uma ótima possibilidade. Uma mente vazia tende a criar problemas imaginários, sofrer por antecipação, esperar coisas e eventos que nunca chegam, criar altas expectativas que levam a frustração, dentre outros males que podem até desencadear doenças mentais.


Confesso que já fui um Fire mais xiita, achando que a felicidade plena só vem com a libertação do trabalho (executando ele só quando desejado), porém hoje percebo que o trabalho pode ser uma motivação para muitos ou mesmo a realização de um desejo de se manter ocupado – e ainda ganhar dinheiro com essa ocupação.


Acabamos associando sempre o trabalho ao dinheiro, tanto que sempre adicionamos a palavra “voluntário” quando se trata de um trabalho não remunerado. Por vezes não nos damos conta que cuidar dos filhos, arrumar a casa, ajudar outras pessoas, auxiliar sua comunidade, viajar, etc, é um trabalho; dá pra ficar busy pra caramba só com uma das atividades mencionadas.


A busca pelo dinheiro, por si só, é um business. A galera FIRE consegue dar um passo à frente e, em algum momento, encerrar essa busca louca por grana, a famosa saída da corrida dos ratos. Creio que devamos pensar mais no nosso business após a IF.


Todos precisamos estar ocupados com alguma coisa, pareça ela importante ou não aos outros. Meus businesses no momento são viajar pelo Brasil, cuidar da minha família e finalizar meus trabalhos profissionais pendentes desde antes me decretar FIRE (confesso pegar uma coisinha ou outra nova, 99% com horizonte de término curto e bem definido). Acabo priorizando essas atividades nessa exata ordem, de forma que até peço desculpas aos leitores pela escassez de postagens e sumiço do Boteco Fire (que aliás os senhores Thiago Rezende e Gleison podem gravar sem minha presença sempre, deixe-se registrado). Para o ano que vem já tenho outros businesses em mente (um projeto voluntário na minha área de formação, um site de alcance nacional com foco em reciprocidade, focar mais em esportes, aumentar o nível de leitura, dentre outros).


E você, qual seu business?


Abraço

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Minha primeira vez

A primeira vez que eu transei não foi muito memorável, eu não sabia o que estava fazendo e foi bem rápida. Não é dessa primeira vez que escrevo.


Lembro bem da indescritível sensação da primeira vez que beijei minha atual esposa, da primeira vez que peguei minha filha no colo, da primeira vez que comi algumas comidas maravilhosas, da primeira vez que descobri o universo FIRE, do primeiro grande show que fui (Oasis + Guns ‘n Roses – Rock in Rio 2000), da primeira vez que subi num palco (AC já foi aspirante a rockstar, essa você não sabia), dentre outras agradáveis primeiras vezes difíceis de exprimir em palavras. Também não é dessas primeiras vezes que escrevo neste momento.


Meus dois avôs morreram em menos de 2 meses, primeiro vovó, depois vovô. Vovó já vinha com uma doença crônica há alguns anos, foi se debilitando e o dia chegou. Não era exatamente esperado, mas era “esperado”. Foi duro. Vovô, então viúvo, teve algumas primeiras vezes e dessas que quero falar.


Após 60 anos de convivência, vovô fez a primeira refeição sozinho. A primeira vez que entrou em casa e não viu a vovó, apesar de suas roupas no varal e no armário. A primeira vez que abriu a dispensa e viu as comidas dela. A primeira vez que teve de ir ao mercado e se virar, já que ele “não sabia escolher frutas e legumes direito” (palavras de vovó pra mim, antes de partir). A primeira vez que deitou na cama e ela pareceu grande demais. O primeiro aniversário sem vovó a ser a primeira a lhe dar parabéns e a última a dar “boa noite”. Foram dias difíceis, até que subitamente, veio a primeira vez que sentiu dores e teve de ir ao hospital sozinho. Lá ficou por um dia e teve uma parada cardio-respiratória. Não que ele fosse extremamente saudável, mas não era a hora dele. Não era.


Agora entro a primeira vez na casa deles, minha primeira vez sem vê-los naquele ambiente familiar, que ainda tem o cheiro deles e todas as coisas deles. Ainda tem comida na geladeira e roupas no varal. Parece também ser a primeira vez que meu pai se toca que virou órfão. Se o que sinto já não é legal, pra ele deve ser uma sensação nada bacana. Obs: tenho sorte de ter dois pais, um de nascença e um de criação.


Não sei muito o porquê, mas lembrei de um amigo que matou um cara aos 19 anos, atropelando ele numa via expressa em plena madrugada. Meu amigo não estava alcoolizado e o pedestre atravessava fora da faixa logo após uma curva, suspeitou-se até de suicídio. De toda forma, consigo imaginar todas as primeiras vezes que esse amigo teve. A primeira vez que foi dormir após matar alguém. A primeira vez que dirigiu após atropelar alguém. A primeira vez que voltou a sorrir após ceifar a vida de outra pessoa. Não deve ser fácil.


Essas primeiras vezes me fizeram mais uma vez perceber quão irrelevante é torcer pra um código na tela do seu computador ficar azul e subir, quão ridículo é defender políticos que a gente mal conhece e acha que sabe tudo da pessoa, quão inócuas são discussões sobre atualidades que em poucos dias deixam de ser atuais.


A vida segue e vamos agradecer pelo legado imaterial deixado pelos que se foram e pelo carinho daqueles que aqui ainda estão.


Que suas próximas primeiras vezes sejam do melhor tipo possível.


Beijos (pela primeira vez)

domingo, 12 de setembro de 2021

Criptos não são moedas



Veja se parece absurda a história abaixo:


Eu e uns amigos criamos um produto virtual chamado ‘glerk’. Fizemos uma página para vender glerks, um revolucionário produto que irá mudar a humanidade e a forma com que encaramos o dinheiro. Com glerk você não dependerá de governos, nem de sua mãe para ser feliz e acumular riqueza. O preço do glerk é dinâmico: quanto mais gente comprar glerks, mais caro ele vai ficando; quanto mais gente quiser vender os glerks que tem, o preço dele vai caindo. Nossa página de vendas é totalmente segura devido a uma nova tecnologia que só os sábios sabem explicar.

Não é possível comprar nada com glerks, somente trocar sua moeda local (real, dólar, etc) por glerks. Alguns poucos usuários de glerks também aceitam glerks como pagamento por serviços, infelizmente quase nenhum no Brasil POR ENQUANTO (apesar de já existir glerk há 13 anos).

(história inventada por mim)


Leia agora o conceito de moeda (Wikipedia):


Moeda é o meio pelo qual são efetuadas as transações monetárias. É todo ativo que constitua forma imediata de solver débitos, com aceitabilidade geral e disponibilidade imediata, e que confere ao seu titular um direito de saque sobre o produto social.


Glerk, bitcoin, ethereum ou qualquer cripto não é moeda. Você não consegue pegar sua cripto e comprar pão na padaria (por favor, sem mimimi em dizer que seu amigo que mora na California consegue comprar um latte machiatto na padoca high tech da rua dele) ou qualquer produto em praticamente qualquer país – antes você precisa converter sua cripto em uma verdadeira moeda para adquirir um bem ou solver seu débito.


Em resumo, criptos são PRODUTOS, e não moedas. Produtos fictícios, vale ressaltar.

Definição de ativo:

Pode ser classificado como ativo tudo o que pode ser convertido em dinheiro de alguma forma. Por exemplo, o dinheiro em banco é um ativo, o estoque da empresa pode ser vendido e virar dinheiro, então é um ativo, o carro da empresa pode ser vendido e virar dinheiro, então é um ativo.


Ok, produtos e dinheiro são ativos, então cripto moedas também são, porém estão longe de poder serem chamadas de moedas.


“Ah, mas eu posso converter reais em bitcoin no Brasil, depois converter bitcoins em dólares lá nos EUA”. Pode mesmo, da mesma forma que você pode ir ao Paraguai, converter dólares ou guaranis em um celular, cruzar a fronteira e vender o celular no Brasil, convertendo em reais. Pode comprar um produto no AliExpress e revender no Brasil, convertendo ele em reais. A única diferença é a volatilidade: enquanto o “produto cripto” varia muito diariamente, seu produto físico varia pela inflação (e eventual câmbio, se for importado).


Por que eu investiria em um produto fictício?


Dependo que alguém queira esse produto fictício para vendê-lo e convertê-lo em MOEDA de verdade.


“AC, você não entende: há uma escassez de critpo moeda” – escassez essa inventada e só daquela cripto. Digamos que sejam mineradas todas as bitcoins possíveis. O que impede de a “coletividade” deliberar sobre aumentar o número de bitcoins em circulação? Ou, mais fácil ainda, por que as pessoas iriam pagar cada vez mais caro numa então escassa bitcoin se é possível comprar centenas de produtos semelhantes?


Veja bem, pouco me importa falar aqui sobre segurança, blockchain, impenhorabilidade, “fora do alcance dos governos”, “criada pelo povo e para o povo” ou qualquer retórica a respeito de cripto moedas. Estou escrevendo sobre o que são no mundo real.


“Eeeeeeeee dor de corno! Nunca comprou, tá vendo uma galera multiplicar patrimônio com as criptos e tá aí difamando”. Nada disso, caro leitor. Também nunca comprei ações da Tesla, Apple, Banco Inter ou Magalu, nem por isso vou sair detonando esses ativos.


Não quero afirmar que criptos são pirâmides, só reflita comigo: se ninguém mais quiser comprar uma ação de uma empresa, um fundo imobiliário proprietário de um prédio, um título do Tesouro Nacional ou uma debênture de concessionária de energia, a empresa vai deixar de existir, o prédio vai sumir, o Governo vai acabar ou a concessionária vai falir? Negativo a todas as respostas.


A empresa seguirá existindo por seu valor contábil, o fundo continuará sendo proprietário do prédio e acruando seu aluguel, o Governo seguirá existindo e a concessionária precisará buscar outro meio de empréstimo. Você, o titular dos ativos, continuará sendo sócio de uma empresa que poderá distribuir lucros (sujeito à recompra de sua ação pela empresa), proprietário de uma fração de um prédio, titular dos juros que o Governo e a concessionária prometeram pagar (passíveis de ações judiciais e inúmeras medidas protetivas em caso de calote, mesmo que demoradas).


Agora, e se cada vez menos pessoas quiserem comprar bitcoin, Ethereum, etc? Se 70% dos investidores concluírem que nada se compra com cripto, a não ser dinheiro de verdade, e quiserem fazer a conversão? Você, que não vendeu, terá um produto fictício na tela do seu computador ou no seu pen drive e dependerá que novas pessoas ACREDITEM que aquele produto é uma boa opção de investimento.


Adoraria ler seus contra-argumentos nos comentários demonstrando que criptos não dependem exclusivamente de novos crentes para que seus preços subam e elas sigam existindo.


O fato é que o mundo é mais tecnológico a cada segundo e, enquanto criptos tiverem suas imagens vendidas – por proprietários - como o novo ouro; enquanto crentes no argumento comprarem essa imagem e as criptos; os produtos inventados perpetuarão. Talvez você morra sem que o número de descrentes supere o de crentes; talvez você resolva converter seus ativos inventados em qualquer moeda de verdade ainda com lucro (aliás, torço por isso, não quero que nenhum leitor daqui tenha prejuízo).


Há pouco tempo ruíram algumas pirâmides no RJ, dentre elas duas “empresas” que vendiam juros de 10% ao mês ao comprador/investidor, a primeira dizendo que aplicava o dinheiro em bitcoin; a segunda dizendo que sabia a fórmula mágica para ganhos em apostas esportivas. Se realmente davam tais destinos ao dinheiro, não sei, mas sem dúvida a segunda era bem mais honesta deixando claro que apostava a grana.


Abraço


Obs: apostei 5k há alguns meses num fundo de cripto (e vou deixar lá), assim como já joguei umas pratas fora em sites de poker, blackjack e jogos de futebol.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Perdi metade do meu patrimônio

 


Não foi fazendo trade, não foi em pirâmide financeira, apostas esportivas, nem em algum jeito de ficar rico rápido.


Foi minha mentalidade que mudou. Você já leu exaustivamente fora e dentro do círculo FIRE que tempo é dinheiro; trabalhamos dando nosso tempo em troca de dinheiro; etc. A aposentadoria “regular” e a aposentadoria privada (seja como produto bancário ou complemento do empregador) nada mais são do que a troca de reserva financeira por uma renda vitalícia (eu sei que na privada há opções de renda temporária, dentre outras, mas deixe eu simplificar).


Assim, a partir de agora em meu balanço mensal (privado) vou separar os ativos que comprei para gerar e usar a renda como “não-patrimônio” – e hoje eles representam em torno de 50% do total que tenho. Imóveis físicos alugados, FIIs e ações que comprei com foco em dividendos serão somente minha “renda”, minha “aposentadoria”, enquanto o resto dos ativos (no exterior, imóveis para ganho de capital e ativos de RF) serão o patrimônio propriamente dito.


Evidente que não vou largar às traças esse patrimônio que acabei de “perder” e converter somente em renda, até porque tenho a opção de modificá-lo para conseguir melhora da renda, seja reinvestindo parte dela na mesma classe, seja entendo que determinado ativo não faz mais sentido (ex: vendi um FOF de FII que tinha posição pequena e não vislumbrava razão de mantê-lo, usando a grana numa emissão underprice de outro FII com gestão melhor).


Já li fechamentos mensais de várias pessoas e há quem conte até a moeda do bolso da calça, enquanto há quem desconsidere como patrimônio o imóvel que mora, já que não pretende vender, tampouco gera renda.


Perdoe-me o sensacionalismo do título do post, porém eu optei por encarar, de agora em diante, que não “tenho” mais essa fatia de patrimônio, e sim uma renda mensal da “aposentadoria” (flutuante e com algum risco, ciente).


Por que tomei essa decisão?

1) Para lembrar sempre que, aos 34 anos, fiz a escolha de trabalhar cada vez menos, abdicando da construção de uma aposentadoria mais voluptuosa em prol de uma vida mais plena de outras coisas senão dinheiro; e


2) Porque todo ser humano tem metas. Olhar minha planilha de fechamento mensal com metade do valor que via até o mês anterior será um drive para não cair numa zona de conforto mental e buscar desenvolver projetos e aptidões que me tragam prazer e satisfação pessoal, além do meu próprio trabalho já costumeiro, o qual venho sendo cada vez mais seletivo.


Patrimônio é só um número na tela; renda é como você vive. Talvez você esteja pensando “por que então não transforma tudo em renda e vive com o dobro?”. Também já pensei nisso, claro, só que há várias razões para não fazer isso, dentre elas: poderia levar a uma vida de excessos e desperdícios, tornando bem fácil formar um círculo vicioso de consumo e despesas; utilizar toda a renda seria garantia de perda de poder de compra ao longo dos anos, o que levaria à derrocada de uma decisão FIRE; e, fazer o certo, reinvestir parte da renda… levaria a acumular patrimônio! Assim, fico mais confortável deixando, desde já, metade (agora o total) do patrimônio como um barco salva-vidas e área de manobra para o sempre incerto futuro.


ACHEI PÉSSIMA SUA IDEIA


Você tem todo direito de não concordar com minha abordagem. Nos EUA é bem comum a compra de uma annuity, instrumento que você dá uma quantia de dinheiro à seguradora e ela te dá uma aposentadoria vitalícia (pode ser temporária, deixe eu facilitar de novo) em troca, ou seja, você dá o dinheiro e eles de remuneram com previsibilidade pelo resto da vida, reajustada por um índice pré-determinado. Claro que seguradora e banco não costuma jogar pra perder, mas quem disse que, com esse dinheiro na mão, você necessária iria “ganhar”?


No Brasil isso também existe e é uma parte do meu portfolio, na forma de previdências privadas, atualmente divididas em 2 seguradoras e 3 fundos distintos. Se você tiver em mãos sua apólice da previdência, neste link oficial da SUSEP, pode simular, conforme a regra do plano, quanto será sua renda (a valor presente). Veja abaixo uma simulação minha:

 

Responda rápido: você prefere 500k na conta ou 2k/mês pro resto da vida?


Trazendo ao presente, se hoje eu tivesse 65 anos e 500k, poderia bater na porta da Icatu, entregar a grana e eles me darem R$ 1.992,18, corrigidos anualmente pelo IPCA (regra do plano), pro resto de minha vida, o que é equivalente a 0,40% ao mês sobre os 500k que entreguei. Esse tipo de decisão é irretratável. À primeira vista você pode pensar “hahaha, eu bato isso com consistência todos os meses”. Ok, não duvido, mas você quer passar até os últimos dias da sua vida estudando o mercado? Lendo relatório gerencial, balanço e decifrando sopa de letrinhas (p/vp, YoC, etc, etc)? Ou prefere receber um pouco menos, num grau de já lhe satisfaça as necessidades, e não se preocupar em investir?


Não estou dizendo que esse é o caminho certo, apenas abrindo os olhos do leitor para mais uma opção de aposentadoria, uma das mais passivas e garantidas, a meu ver. “Ah, mas a seguradora pode quebrar!”, pode, assim como o Governo pode dar calote nos títulos do Tesouro ou confiscar poupança; suas empresas da B3 falirem; suas criptos derreterem ou serem perdidas; suas LCI/LCA/CRI/CRA derem default… tudo tem sua dose de risco.


AC, VOCÊ FALOU QUE O PATRIMÔNIO NÃO CONTABILIZADO É DE FIIs E AÇÕES!


Sim, na presente data é isso. O patrimônio contabilizado engloba minhas previdências mencionadas porque nelas terei a opção de optar pela renda mensal vitalícia (ou temporária com valor maior conforme menor for o tempo de renda) ou SACAR o valor. Hoje os aportes são em 3 fundos que tem taxa de administração, como os de uma corretora comum, porém o IR sobre o ganho de capital é o menor do mercado não isento: 10% sobre o ganho para aportes com 10 anos ou mais. Significa que se eu desejar sacar o montante acumulado aos 65 anos, tudo que aportei até os 55 terá IR de 10% somente sobre os ganhos (obs: eu só aporto em VGBL com tributação regressiva). Pode ser que, nessa idade, eu pense e repense se saco a grana ou se opto pela renda vitalícia.


Hoje eu preferi utilizar no portfólio rentista somente FIIs (60%), imóveis físicos (30%) e ações (10%) por conta da desvantagem atuarial que teria em uma previdência (em função da idade) e por acreditar que estamos no início de um novo ciclo imobiliário que dentro de 10 a 15 anos pode ter seu novo auge (como ocorreu de 2011 a 2014). Atualmente, nos EUA, os preços dos imóveis já ultrapassam os da época da crise subprime (vide inúmeras notícias sobre isso na internet).


CONCLUSÃO


Diversificar segue como chave para uma noite tranquila de sono. Agora diversifico a forma de encarar renda e patrimônio.


Obs1: esses 50% do total de patrimônio (agora geradores de renda) equivalem a uma TSR/SWR de 3% ao ano (sobre o total do patrimônio “velho”). Nada mal se tratando somente de dividendos, sem nenhuma venda de ativos.


Obs2: levei cerca de 14 meses para migrar a carteira anterior para esse pedaço de portfólio previdenciário que gera renda adequada à minha necessidade (com alguma margem de folga). A rentabilidade nesse período de montagem foi de 4,28% (em 14 meses), considerando os dividendos recebidos.


Abraço